Principal alvo dos manifestantes que foram às ruas no 7 de Setembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi nomeado para a Corte justamente por ter um perfil conservador, tal qual seus atuais detratores. Indicado pelo então presidente Michel Temer em 2017, Moraes é contra a legalização do aborto, das drogas e da eutanásia, além de defender punições mais duras para menores de 18 anos.
À época, sua indicação tinha por objetivo equilibrar uma suposta predominância progressista nas decisões da Corte. Ex-secretário da Segurança de São Paulo e ministro da Justiça de Temer, Moraes representava uma visão moralista nos costumes, liberal na economia e repressiva aos protestos populares, tal qual o ideário político do governo.
Paulistano e egresso do Ministério Público, Moraes concluiu graduação em Direito na Universidade de São Paulo (USP), em 1990, onde também concluiu o doutorado, 10 anos depois. Atuou como promotor de Cidadania e assessor do procurador-geral do Estado de 1991 a 2002, quando trocou a toga pela política para se tornar, aos 33 anos, o mais jovem secretário de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo durante o primeiro governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Na sequência, trabalhou no Conselho Nacional de Justiça e na gestão de Gilberto Kassab (PSD) na prefeitura de São Paulo, acumulando diversos cargos no setor de transportes. Retomaria a parceria com Alckmin em 2015, época em que fez fama à frente da Secretaria da Justiça como intolerável com manifestações ruidosas dos movimentos sociais. Com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), foi escolhido por Temer para o Ministério da Justiça.
No cargo, prometeu erradicar a maconha do país e causou polêmica ao antecipar publicamente uma fase da Operação Lava-Jato na qual acabou preso o ex-ministro petista Antonio Palocci. Com a morte de Teori Zavascki, acabou escolhido por Temer para a vaga na Corte, atraindo a ira da oposição.
À época, PT e PSOL pediram à Procuradoria-Geral da República que barrasse a nomeação do ministro, alegando desvio de finalidade. Com Temer investigado pela Lava-Jato, a esquerda suspeitava que Moraes iria defender o padrinho no tribunal. Jurista reconhecido pelos pares, o próprio Moraes defendia a proibição de indicação de membros do governo a tribunais superiores.
— Jamais atuarei entendendo que minha indicação ou eventual aprovação por vossas excelências tenha qualquer ligação de agradecimento ou favor político — asseverou durante sabatina de 11 horas no Senado.
Acabou aprovado com larga vantagem: 55 votos a favor e 13 contrários. Aos 48 anos, Moraes conquistava assento na mais alta Corte de Justiça do país palmilhando uma carreira em que transitou com desenvoltura do universo jurídico ao político. Casado com a advogada Viviane de Moraes e pai de três filhos, Gabriela e o casal de gêmeos Giuliana e Alexandre, Moraes logo se aquerenciou a Brasília, mas deixou a família em São Paulo.
Hoje, eles são a principal preocupação do ministro, assustado com a escalada violenta das manifestações contra si. Durante o julgamento que atestou a legalidade do inquérito das fake news, Moraes divulgou algumas das ameaças recebidas pela Corte: “quanto custa atirar à queima-roupa nas costas de cada ministro filho da puta do STF”; “que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF”; “só nos resta jogar combustível e tocar fogo no plenário do STF com ministros barbies dentro”.
— (Leio isso) Para que se pare, de uma vez por todas, de se fazer confusões de críticas — que por mais ácidas que sejam devem existir e continuar — com agressões, ameaças e coações. Onde está aqui a liberdade de expressão? — indagou.
Trabalhador compulsivo, Moraes chegou em março à marca de 635 processos em seu gabinete, uma redução de 90,38% na quantidade de ações herdadas quando chegou ao tribunal. Segue impassível, vigiado por seguranças 24 horas por dia e alvo de um inédito pedido de impeachment de um ministro do STF protocolado por um presidente da República, já arquivado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Depois de determinar a prisão de cinco apoiadores de Bolsonaro, entre eles o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e o presidente do PTB, Roberto Jefferson, requereu à Polícia Federal a captura do único foragido, o líder caminhoneiro Zé Trovão, escondido no México.
No fim da tarde de quinta-feira (9), por intermediação de Temer, Moraes recebeu um telefonema de Bolsonaro. Numa rápida conversa de caráter institucional, Bolsonaro, que no feriado havia chamado o ministro de canalha, disse que não teve intenção de agredir o STF e que acreditava na harmonia dos poderes. Em Brasília, poucas pessoas acreditam num armistício entre os dois.