Sob chuva intensa e cercado por forte aparato policial, simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro se concentraram no Parque Moinhos de Vento (Parcão), em Porto Alegre. Vestidos de verde e amarelo, eles afiançavam apoio ao governo enquanto denunciavam uma suposta "ditadura da toga", representada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro é investigado em cinco inquéritos que tramitam nas duas Cortes.
A multidão se concentrou nas duas faixas da Avenida Goethe, mas não chegou a ocupar todo o espaço entre as ruas 24 de Outubro e Mostardeiro. Sob um imenso pavilhão nacional que tremulava pendurado a um guindaste, e muitos portavam bandeiras do Brasil. Nos cartazes, seguiam o receituário político do presidente, pedindo destituição de ministros do STF, voto impresso e até mesmo intervenção militar com a permanência de Bolsonaro no poder.
Circulando pela via, pessoas carregavam fotos enormes dos ministros Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso, ambos com chifres vermelhos e vestindo uniformes de presidiário estampados com a expressão "sou corrupto".
Na tentativa de alertar a imprensa internacional para a suposta violação das liberdades democráticas que estariam ocorrendo no Brasil, cartazes em inglês defendiam propostas como o fechamento do Congresso Nacional, do STF e a prisão de membros da Corte. Uma "cela" montada sobre a grama encharcada do Parcão mantinha presos bonecos representando Moraes, Barroso e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Antes dos discursos, três caminhões de som embalavam o protesto ao som de Eu Te Amo Meu Brasil e Pra Frente Brasil, marchinha composta durante a ditadura militar, além de Jesus Cristo, canção de Roberto Carlos. As músicas eram intercaladas com palavras de ordem em apoio ao governo e contra o STF.
Por volta das 15h, com a passarela sobre a Avenida Goethe lotada, a Brigada Militar determinou a desocupação do local e bloqueou a passagem, por receio de desabamento. Embaixo, havia intensa circulação de pessoas, inclusive crianças. A maioria dos manifestantes se protegia da chuva com capas, mas dispensou o uso de máscara.
Em um telão, eram exibidas cenas do discurso de Bolsonaro realizado em São Paulo. Uma falha no sistema de som impediu que o público ouvisse o pronunciamento. Enquanto o presidente falava em São Paulo, de um dos carros de som do Parcão um ativista usou o microfone para incitar um coro pela prisão de ministros do STF.
— Eu autorizo a prisão de Alexandre de Moraes — repetia a multidão.
Um dos poucos políticos a discursar, o senador Luiz Carlos Heinze (PP) reclamou de uma suposta tentativa de criminalização do presidente em função da pandemia, defendeu o voto impresso e também atacou o STF.
— O povo foi às ruas dizer um basta ao ministro do STF. Fora, Alexandre de Moraes — bradou.
Sob chuva, o público aplaudia os discursos e balançava as bandeiras, com odes ao guru ideológico do bolsonarismo, Olavo de Carvalho. Havia pessoas a cavalo, pilchadas e vestindo roupas militares, além de veículos antigos que haviam pertencido às Forças Armadas.
No meio da multidão, ativistas recolhiam doações, pedindo dinheiro com uma caixa dourada. Por volta das 16h, a chuva apertou e o público começou a se dispersar. Às 17h, um pequeno grupo ainda resistia à intempérie diante de um dos carros de som. Ao fim do ato, o público rezou um Pai Nosso pedindo proteção para o que chamaram de "guerra espiritual" que estaria em curso.