O presidente Jair Bolsonaro cumpriu agenda política neste sábado (10), em Porto Alegre, nos turnos da manhã e da tarde, começando com um passeio motociclístico com apoiadores e simpatizantes pela Capital e Região Metropolitana. No início da tarde, participou de almoço com empresários na Casa NTX, no bairro Anchieta, e depois voltou para Brasília.
Bolsonaro amanheceu o sábado em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha, onde havia pernoitado depois de cumprir agendas da Presidência da República em Caxias do Sul na sexta-feira (9). Antes de embarcar em helicóptero para Porto Alegre, concedeu entrevista à Rádio Gaúcha e confirmou que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) pediu uma reunião com ele em Brasília. Bolsonaro não confirmou o teor do encontro e disse que o deputado “pediu uma audiência para conversar sobre vários assuntos”. O parlamentar e o seu irmão, o servidor público Luis Ricardo Fernandes Miranda, denunciaram supostas irregularidades no processo de compra da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde.
— Não me reuni. Ele pediu uma audiência para conversar comigo sobre vários assuntos. Cara, você vai ouvir o que eu quero falar. Eu não respondo sobre reunião. Eu tenho reunião com cem pessoas por mês, dos assuntos mais variados possíveis. Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência imediatamente. Tomei providência nesse caso — afirmou o presidente.
Sobre as suspeitas em torno da aquisição da Covaxin, ele disse: — Gastamos um centavo com a Covaxin? Me responda: eu gastei um centavo? Além dos filtros do Ministério da Saúde, você tem o compliance nosso, tem a CGU (Controladoria-Geral da União), tem o TCU (Tribunal de Contas da União) e tem eu no final da linha, que só compra passando pela Anvisa.
Por volta das 9h30min, o helicóptero que levava Bolsonaro aterrissou na área da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), onde um grande contingente de motociclistas se concentrava para participar da motociata.
Na Avenida Assis Brasil, simpatizantes aguardavam a pé, no leito da via, para acenar ao comboio. O passeio teve início em torno das 10h, com o presidente tripulando sua moto à frente dos participantes. Embora tenha transitado em aglomerações, Bolsonaro esteve sem máscara de proteção individual contra o coronavírus, que já causou mais de 531 mil óbitos no Brasil desde o início da pandemia.
Em meio ao trajeto, Bolsonaro fez pelo menos uma parada próximo à passarela da nova ponte do Guaíba. Ele desceu da motocicleta, acenou para apoiadores e posou para fotos.
Iniciado na Avenida Assis Brasil, o itinerário seguiu pelas BR-290, BR-116, BR-386 e BR-448. Depois, o retorno à Capital ocorreu pela Avenida Castelo Branco, seguindo pelas vias Mauá, João Goulart, Edvaldo Pereira Paiva, Padre Cacique, Diário de Notícias, Icaraí, Padre Cacique, Praia de Belas, Ipiranga, João Pessoa, Castelo Branco e Assis Brasil, retornando à Fiergs, ponto de partida. A EPTC informou que às 12h30min, todos os desvios e bloqueios de ruas estavam desfeitos.
Para garantir a fluidez do ato político, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que atuaram 600 servidores da Brigada Militar, 35 do Corpo de Bombeiros, 30 da Polícia Civil e 10 do Instituto Geral de Perícias (IGP).
Apesar de ter reunido milhares de apoiadores na motociata e no trajeto, Bolsonaro enfrentou protestos e hostilidade em alguns pontos urbanos que percorreu. Em Porto Alegre, no Largo Zumbi dos Palmares, onde ocorria uma feira de hortifrutigranjeiros, frequentadores foram às margens da via para gritar palavras de ordem contra os motociclistas como “fora, Bolsonaro”, “genocida” e “ladrão de vacina”.
Uma mulher que protestava batendo panela no cruzamento das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires, próximo à Redenção, foi detida pelas forças de segurança. De acordo com a Brigada Militar, a manifestante teria tentado chutar motociclistas. Ela teria sido advertida por policiais repetidas vezes e, como não teria atendido aos pedidos para que parasse, conforme relatado no boletim de ocorrência, foi convidada a acompanhá-los até a 2ª Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA), localizada no Palácio da Polícia.
A mulher não concordou, e os policiais tentaram algemá-la. Ela resistiu novamente, fazendo força para não ter os braços imobilizados. Um vídeo com imagens do momento da detenção, em um posto de gasolina na esquina das duas vias, circula pelas redes sociais.
— Vai presa por bater panela! Vai presa por bater panela! O que é que é isso? — indigna-se alguém na gravação.
Na 2ª DPPA, lavrou-se um termo circunstanciado por desobediência, na presença de um advogado. A mulher, que não teve o nome divulgado pela Polícia Civil para ter sua identidade preservada, foi liberada na sequência.
Encerrado o ato político-motociclístico, Bolsonaro discursou para os apoiadores e atacou Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— O Barroso quer a volta da roubalheira, da impunidade, através da fraude eleitoral — afirmou o presidente, que tem reiterado desconfianças sobre as urnas eletrônicas nos últimos dias, sem apresentar provas.
Mantendo o alvo em Barroso, o presidente fez uma série de ataques e acusações morais, inclusive de cunho sexual. Bolsonaro ainda reclamou de pesquisas eleitorais, como a do Datafolha, que mostram favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “nove dedos”, para as eleições de 2022.
O presidente ainda se manifestou sobre a CPI da Covid, que investiga o seu governo por suposta corrupção e cobrança de propina na aquisição de vacinas e a existência de gabinete paralelo na condução das políticas de saúde do país na pandemia.
— Eles querem me rotular de tudo quanto é jeito de corrupto. Olha, meu Deus do céu, o que aconteceu com a Petrobras? (...) Estão me acusando sobre uma vacina que sequer comprei uma dose — disse o presidente.
Por volta das 13h30min, Bolsonaro chegou à Casa NTX para um almoço com cerca de 60 empresários. Antes de ingressar, parou para conversar por dez minutos com simpatizantes que o aguardavam. Ele posou para fotos, recebeu presentes e pegou duas crianças no colo. Bolsonaro foi convidado pela Associação da Classe Média (Aclame) para falar sobre a retomada da economia no pós-pandemia e as reformas em discussão no Congresso Nacional.
O presidente foi recebido com aplausos pela plateia e, durante seu discurso, colheu palmas ao menos em quatro ocasiões. Antes do pronunciamento, saboreou um churrasco com carnes nobres da churrascaria NB Steak. O presidente retornou para Brasília às 16h, após passagem de 26 horas pelo Rio Grande do Sul.