O presidente Jair Bolsonaro, em visita ao Rio Grande do Sul, confirmou na manhã deste sábado (10), em entrevista à Rádio Gaúcha, que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) pediu uma reunião com ele em Brasília. O presidente, entretanto, não confirmou o teor do encontro e disse que o deputado, que, junto com o irmão, o servidor público Luis Ricardo Fernandes Miranda, denunciou irregularidades no processo de compra da vacina da Covaxin, "pediu uma audiência para conversar sobre vários assuntos".
Bolsonaro não falou com a imprensa durante a agenda de sexta-feira em Caxias do Sul, mas nesta manhã fez questão de parar para responder perguntas, antes de deixar Bento Gonçalves. Ao ser questionado se teve reunião com o deputado Luis Miranda, o presidente afirmou: "Não me reuni. Ele pediu uma audiência para conversar comigo sobre vários assuntos. Cara, você vai ouvir o que eu quero falar. Eu não respondo sobre reunião. Eu tenho reunião com cem pessoas por mês, dos assuntos mais variados possíveis. Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência imediatamente. Tomei providência nesse caso."
Os irmãos Miranda disseram à CPI da Covid que relataram a Bolsonaro, em reunião ocorrida no Palácio da Alvorada, em 20 de março, cobrança de propina e outras irregularidades na compra da Covaxin, vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. No depoimento, o deputado afirmou que Bolsonaro atribuiu os problemas a "mais um rolo" de Ricardo Barros.
Questionado sobre a Covaxin, o presidente respondeu: "Gastamos um centavo com a Covaxin? Me responda: eu gastei um centavo? Além dos filtros do Ministério da Saúde, você tem o compliance nosso, tem a CGU (Controladoria-Geral da União) tem o TCU (Tribunal de Contas da União) e tem eu no final da linha, que só compra passando pela Anvisa."
Bolsonaro afirmou ainda que o processo de compra da Covaxin, divulgado pela CPI da Covid, é "uma história fantasiosa" e que só interessa aos senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), presidente e vice-presidente da CPI, respectivamente, e Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão.
"A compra seria 400 milhões de doses. A compra seria mil por cento sobre o faturamento. Não é a imprensa, é o que a CPI andou falando. Superfaturamento: mil por cento. Dose 15 dólares, passou para 150 dólares. Você multiplica 400 milhões de doses, vezes 150 dólares, vezes 5 reais. Isso dá 300 bilhões de reais. Isso é um coisa absurda, pelo amor de Deus. Eu assinei uma MP (Medida Provisória) de 20 bilhões para comprar vacina para todo mundo. É uma história fantasiosa. Só serve a Renan Calheiros, só serve a Omar Aziz ou aquele deputado [senador] Randolfe lá do Estado dele, não é nada isso aí!"
Os três senadores citados assinaram, na última quinta-feira, uma carta endereçada a Bolsonaro. No texto, eles cobram que o presidente confirme ou desminta as declarações feitas pelos irmãos Miranda sobre o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR). "Eu não vou responder. Eu não tenho obrigação de responder, ainda mais carta para três bandidos. Eu vou responder para ladrões, bandidos? Eu não vou responder."
Ontem, o presidente participou, em Caxias do Sul, da abertura da 1ª Feira Brasileira do Grafeno. Em discurso de 10 minutos, Bolsonaro defendeu "eleições limpas" e adotou linguajar grosseiro na tentativa de desqualificar o ministro Luis Barroso, que já declarou abertamente ser contra o voto impresso. Questionado sobre a fala, que gerou repercusão no meio político e no Judiciário, o presidente disse: "Você quer eleição limpa? Nós queremos também."