No último dia 8 de julho, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), teria recebido, por meio de um importante interlocutor político, um recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta quinta-feira (22), o general pediu para que fosse comunicado, "a quem interessasse", que não haveria eleições em 2022 caso o voto impresso não entrasse em vigor.
Ao dar o aviso, conforme a reportagem, o ministro estava acompanhado dos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro fez a seguinte declaração a apoiadores:
— Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições — disse o presidente, na entrada do Palácio da Alvorada.
Ainda de acordo com o Estadão, Lira classificou a situação como "gravíssima" e como uma espécie de ameaça de golpe. O parlamentar, então, procurou Bolsonaro, e os dois tiveram uma longa conversa.
De acordo com relatos obtidos pela reportagem, Lira disse ao chefe do Executivo que não contasse com ele para qualquer ato de ruptura institucional. Já Bolsonaro teria respondido dizendo que nunca defendeu um golpe e que respeitava "as quatro linhas da Constituição".
O recado do ministro e a reação de Lira são de conhecimento de um restrito grupo da política e do Judiciário, conforme o Estadão — devido à delicadeza do tema, todos pediram para manter os relatos sob sigilo, diz o jornal. Procurado, o Ministério da Defesa não respondeu aos questionamentos.
Lira contesta reportagem
Ao blog da jornalista Ana Flor, do portal G1, Lira afirmou que é "mentira" a informação publicada pelo Estadão. Segundo a publicação, o presidente da Câmara irá divulgar ainda nesta quinta-feira uma nota sobre o tema.
Já o general Braga Netto classificou a reportagem como "invenção".
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou nesta quinta-feira que conversou "com o Ministro da Defesa e com o Presidente da Câmara e ambos desmentiram, enfaticamente, qualquer episódio de ameaça às eleições". "Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia", escreveu.
Voto impresso no Congresso
Na última sexta-feira (16), sessão da comissão especial da Câmara sobre o voto impresso foi encerrada sem apreciar a proposta. Diante da iminente derrota do texto, uma das principais bandeiras de Bolsonaro, e sob protestos da oposição, o presidente do colegiado, Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), encerrou a reunião.
A justificativa oficial foi um pedido do relator, Filipe Barros (PSL-PR), que cobrou mais tempo para fazer alterações em seu parecer. Ainda não há previsão para a retomada da sessão.
Já na última segunda (19), Bolsonaro afirmou ver com ceticismo a aprovação pela Câmara da proposta para as próximas eleições:
— Eu não acredito mais que passe na Câmara a proposta do voto impresso, tá? A gente faz o possível, mas vamos ver como é que fica — disse a apoiadores.