Após a queda de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente nesta quarta-feira (23), o delegado Alexandre Saraiva, ex-chefe da Polícia Federal no Amazonas, publicou em seu perfil no Twitter: "Eu avisei que não ia passar boiada". O texto lembra a frase de Salles durante reunião ministerial de 22 de abril de 2020, no início da pandemia, em que declarou:
– Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de covid, e ir passando a boiada e mudando o regramento e simplificando normas.
Em abril deste ano, Saraiva foi substituído após após enviar notícia-crime ao STF atribuindo a Salles supostos crimes de obstrução de investigação ambiental. Em outra postagem também realizada na tarde desta quarta, Saraiva escreveu: "E eu continuo Delegado de Policia Federal".
A publicação sobre continuar delegado da PF gerou ainda uma reação da deputada bolsonarista Carla Zambelli, que comentou: "Vamos ver quem ri por último. Onde Salles estará em dois anos e onde você estará". Saraiva rebateu, questionando o que a parlamentar pensava sobre a defesa de madeireiros ilegais dentro do Ministério do Meio Ambiente — imputação feita a Salles — e ainda se colocou à disposição para comparecer a uma nova sessão na Câmara dos Deputados.
Em abril, o delegado compareceu à comissão realizada pela Câmara para discutir a notícia-crime enviada ao Supremo Tribunal Federal contra Salles, sendo que na ocasião, reafirmou as críticas que disparou contra o então ministro do Meio Ambiente.
Não é a primeira vez que Saraiva faz referência à fala de Salles sobre "passar a boiada". Na semana seguinte a sua substituição na chefia da PF, fez a primeira publicação na rede social afirmando, em letras maiúsculas: "Não vai passar boiada nenhuma!!!".
A fala de Salles sobre o "passar a boiada" também foi citada pela Polícia Federal ao pedir a Alexandre de Moraes a abertura da Operação Akuanduba, que mira suposto esquema de facilitação ao contrabando de madeira, com participação de Salles. Com a saída de Salles do governo Bolsonaro, os inquéritos devem ser enviados à primeira instância.