Afastado do comando da Polícia Federal no Amazonas, o delegado Alexandre Saraiva reafirmou nesta segunda-feira (26) as críticas que disparou contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de uma notícia-crime enviada por ele ao Supremo Tribunal Federal.
Em comissão realizada pela Câmara dos Deputados para discutir o assunto, Saraiva disse que Salles decidiu se colocar ao lado dos madeireiros a partir da avaliação de duas toras de madeira, quando estava diante da maior apreensão de madeira ilegal já feita pela PF em toda a história.
— Não se pode, com análise de duas toras, anular todo esse trabalho que foi realizado pelos peritos da Polícia Federal. Se é para criticar, que se colocasse uma equipe técnica do Ibama para fazer verificação da área — declarou o delegado aos deputados.
Saraiva disse que existem aproximadamente 40 pontos na região que foram alvos de apreensão de madeira, mas apenas 10 pessoas apresentaram documentação até o momento, com o objetivo de tentar retirar o material.
— Nós temos mais de 70% da madeira apreendida que não apareceu dono, ninguém reivindicou. Como é que o ministro pode dizer que aquilo ali está tudo certo e que a Polícia Federal está errada? — questionou. — A principal empresa que está na região recebeu mais de 20 multas do Ibama, deve aproximadamente de R$ 9 milhões. O senhor ministro fez uma inversão, tornou legítima a ação dos criminosos e não dos agentes públicos. Em linhas gerais, sendo bem conciso, foi isso que nos motivou a fazer essa notícia crime.
Saraiva, que foi afastado do cargo após a denúncia contra Salles, apresentou detalhes das áreas onde a madeira foi apreendida e afirmou que "não como essa madeira ser legal, sob nenhuma hipótese".
No sábado (24), o delegado publicou em seu perfil no Twitter uma foto da placa que recebeu do efetivo da PF no Amazonas e afirmou: "Honra maior não existe". "Demonstrou coragem, atitude e profissionalismo, desde os trabalhos mais simples às mais complexas operações, sendo reconhecido por seu brilhante trabalho em defesa da Amazônia e da Polícia Federal, colocando esta Superintendência em destaque nacional e internacional", registrou a homenagem.
Saraiva foi substituído no comando da PF no Amazonas pelo delegado Leandro Almada, que já atuou como seu número 2 e foi responsável pelo grupo de investigações ambientais sensíveis na superintendência.
A troca no comando da unidade foi confirmada um dia após Saraiva enviar ao STF notícia-crime contra Salles por obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. A justificativa era de que o delegado já havia sido sondado sobre a mudança.
Ao Estadão, o delegado afirmou que recebeu a ligação de um amigo sobre uma audiência. Saraiva diz que não foi comunicado antes sobre sua saída do comando:
— Só tem duas formas de me comunicar oficialmente — ou meu chefe me liga, pelo princípio da hierarquia, que é o diretor-geral, ou publicação no Diário Oficial.
Saraiva passou quatro anos na chefia da PF da Amazonas. Em 2019, o delegado foi o pivô da primeira crise entre o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro, em 2019.