Será com um autêntico churrasco gaúcho que o governador Eduardo Leite irá receber nesta quinta-feira (11) a comitiva do PSDB que pretende torná-lo candidato à Presidência da República em 2022. O almoço no Palácio Piratini sedimenta um nova etapa da carreira do tucano: ao mesmo tempo em que trabalha para fortalecer sua base na Assembleia Legislativa e o próprio partido no Estado, Leite planeja exercer maior protagonismo na política nacional.
A ofensiva está em sintonia com o desejo dos 10 deputados federais que estarão em Porto Alegre. Revoltados com a forma como o governador de São Paulo, João Doria, tenta controlar a legenda para impor suas pretensões presidenciais, eles querem o aval de Leite para trabalhar seu nome internamente. Nas altas rodas do tucanato, há quem diga que hoje 70% do partido prefere Leite a Doria como postulante ao Planalto.
Entre os deputados que confirmaram presença no churrasco estará Adolfo Viana (BA). Na terça-feira, Viana reuniu parte da bancada para um jantar em Brasília e organizou a reação a Doria. Para esse grupo, Leite representa a renovação moderada que os eleitores irão buscar na escolha de um sucessor para Jair Bolsonaro na eleição do ano que vem.
— A maneira de fazer política do governador é o que gera essa expectativa. Ele não impõe nada, não vai a Brasília dizendo que quer controlar o partido ou ser o candidato. Isso atrai as pessoas — comenta o deputado Lucas Redecker (RS), para quem “está muito claro dentro do PSDB que as imposições não vão funcionar”. — Tu não podes criticar o autoritarismo e imposição do presidente da República se tu faz o mesmo — completa o deputado.
Leite jamais postulou uma candidatura presidencial, mas também não fecha as portas aos aliados que assiduamente citam seu nome como alternativa a Doria. Em entrevistas concedidas nos últimos dias, chegou a criticar a forma como o colega de partido cogitou assumir a presidência do PSDB a partir de maio, quando termina o mandato de Bruno Araújo à frente da sigla. A manobra, rejeitada pela ampla maioria da bancada na Câmara, permitiria a Doria controlar os recursos dos fundos eleitoral e partidário.
— As decisões sobre condução e rumos do partido não dependem de uma pessoa, mas de articulação e debate interno — reagiu Leite nessa quarta-feira (10), em entrevista ao site Congresso em Foco.
O almoço no Galpão Crioulo do palácio também reunirá os deputados estaduais do PSDB, bem como os dois secretários da sigla, Artur Lemos (Casa Civil) e Faisal Karam (Educação). Diante do grupo, Leite vai fazer um balanço de sua gestão, destacando conquistas que servem como vitrine nacional, como o pagamento dos salários em dia após quase cinco anos de atraso e a redução do déficit público.
Para se diferenciar do governo federal e demonstrar um ajuste fiscal acurado, ele também vai citar as reformas da previdência e administrativa, ambas mais arrojadas do que as que foram discutidas no Congresso, além da privatização de estatais e concessão de rodovias. E se Doria tem na vacina contra a covid um ativo de forte apelo eleitoral, Leita vai exibir o modelo de distanciamento controlado que serviu de inspiração para Estados e municípios país afora.
Com o objetivo de transformar a reforma tributária em outro trunfo político, o governador quer ampliar sua base na Assembleia. O convite para o deputado Edson Brum (MDB) assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico busca garantir maior adesão da bancada emedebista à iniciativa. Em dezembro, foi a resistência do MDB que minou a aprovação da medida. Para tanto, ele também negocia a ida para o PSDB dos deputados Neri, O Carteiro (SD) e Capitão Macedo (PSL), este último um dos que votaram contra à matéria. Para não correr o risco de perder o mandato, ambos só mudariam de partido no próximo ano.
Veja quem são os deputados federais tucanos que estarão com Leite nesta quinta-feira:
Adolfo Viana (BA)
Célio Silveira (GO)
Edna Henrique (PB)
Eduardo Barbosa (MG)
Geovania de Sá (SC)
Luiz Carlos (AP)
Otavio Leite (RJ)
Paulo Abi-Ackel (MG)
Pedro Cunha Lima (PB)
Pedro Vilela (AL)