O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quinta-feira (9), sobre as acusações contra ele na Operação Lava-Jato, sua postura contra a imprensa, as eleições de 2018 e ainda a possível participação na próximo disputa à Presidência da República. No entendimento de Lula, ele é importante dentro do PT, porque a instituição quer isso, mas que esse posicionamento pode mudar.
O petista foi entrevistado dentro de uma série que já ouviu Michel Temer, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso — há pedido de entrevista feito ao presidente Jair Bolsonaro.
— Ninguém vira líder porque quer virar líder. Você vira líder porque o povo quer que você seja liderança. Eu não sou importante no PT porque eu quero. É porque o PT quer. Na hora que o PT não quiser o Lula, eu saio fora.
Em breve avaliação sobre o cenário atual, o ex-presidente afirmou que Brasil regrediu em relação às conquistas do passado.
— Minha tristeza é que hoje o Brasil está pior do que estava. Essa é a minha tristeza. Ver a regressão das poucas conquistas que o povo brasileiro teve. Ele está perdendo isso. É muito triste — disse Lula, logo no começo da entrevista.
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Operação Lava-Jato
Questionado sobre os desdobramentos da Operação Lava-Jato em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT), Lula criticou a postura do ex-juiz Sergio Moro e dos membros do Ministério Público Federal (MPF). No entendimento do ex-presidente, a operação foi transformada em um partido político, em um processo que tinha como objetivo tirar ele da corrida presidencial de 2018.
— O papa Francisco e qualquer eleitor saberia que eu ia ganhar a eleição em primeiro turno. Era preciso então inventar uma mentira. Uma grande e deslavada mentira para afastar a Dilma (Rousseff) por impeachment. E todo mundo de bom senso sabe que foi uma mentira, e sabe que a companheira Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade.
Lula também afirmou que os governos do PT fortaleceram a autonomia dos órgãos de fiscalização, destacando que nunca se intrometeu na Polícia Federal (PF) e no MPF.
— A Lava-Jato poderia ter sido um puta instrumento de combate à corrupção. Você é testemunha de todas as coisas que foram criadas por mim e pela Dilma e que facilitaram todo esse processo de apuração. Nunca me intrometi em nenhuma decisão da Polícia Federal, do Ministério Público. Aliás, se tem na história do Brasil alguém que fomentou o crescimento e fortaleceu a autonomia dessas instituições de fiscalização, fui eu.
Punições na Lava-Jato
Lula afirmou que a atuação dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato beneficiou os delatores, que, segundo ele, estão muito melhores agora do que quando estavam soltos. O ex-presidente avalia que a operação devia ter penalizado os presidentes das empresas envolvidas em corrupção, e não os funcionários:
— Eles legalizaram a corrupção quando deveriam ter deixado todos os trabalhadores da Odebrecht trabalhando e prender o dono da Odebrecht, que era o culpado, se ele roubou.
Segundo Lula, essa postura acabou prejudicando empresas do setor energético no país.
Ataques a Moro e Dallagnol
Em diversos momentos da entrevista, Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol foram atacados pelo ex-presidente. Lula voltou a citar a apresentação de PowerPoint na qual o membro do MPF afirmou que o petista era chefe de uma organização criminosa.
— O Dallagnol foi um moleque mentiroso, messiânico e irresponsável. Um cidadão que vai falar uma hora e meia em uma entrevista coletiva, em uma hora e meia ele fala que eu sou o dono de uma quadrilha. Ele não envolve nem o presidente do conselho da Petrobras e nem o presidente da Petrobras. Ele envolve diretores com quem eu tinha raríssimos contatos. E depois que ele faz a heresia dele, termina dizendo o seguinte: "Não me peçam provas, eu tenho convicção".
Já em relação a Moro, Lula disse que o ex-juiz tinha uma obsessão em encontrar alguém que dissesse que ele "conhecia pessoas", para assim embasar sua acusação.
— Ele é mentiroso. Ele não foi juiz. Ele foi cabo eleitoral, mentiu na sentença e continua mentindo até hoje.
Crítica ao TRF4
Lula também teceu críticas ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, citando a postura do órgão em uma de suas condenações:
— O TRF4 passou o meu processo na frente de 1.700 processos. O meu processo foi passado na frente de 1.700 processos. Alguma coisa estava errada. A segunda coisa: os três votos (dos desembargadores que o julgaram na 2ª instância) foram iguais para não permitir o direito de embargos infringentes, que seriam julgados por outra instância dentro do próprio TRF4.
Culpa do PT
Questionado sobre como o PT saiu após as acusações de corrupção, Lula afirmou que não se pode generalizar a questão, pois o partido é muito grande e tem pessoas que não estão envolvidas em atos suspeitos.
— O PT é muito grande. Quando você fala "o PT fez isso"... o PT não. Se alguma pessoa fez, que pague. O PT enquanto partido é feito por trabalhadores, por pequenos proprietários, por lojistas, por pequenos empresários da classe média.
Similaridades com Bolsonaro
Lula descartou o entendimento de que ele e Bolsonaro tem posicionamentos parecidos em relação a algumas questões, como ataques à TV Globo e reclamações contra jornalistas.
— Alguém que fala que há semelhança entre eu e Bolsonaro é ignorante ou tem má fé.
Eleições 2022
Sobre as eleições de 2022, Lula disse que existem nomes novos que podem concorrer pela oposição. Ele não descartou tentar participar do pleito, mas destacou que quer ajudar a "recuperar a democracia no país", mesmo que isso ocorra com ele estando nos bastidores:
— Eu não vou dizer que não vou sair (candidato). Acho que tem muita gente nova, crescendo e que pode ser candidato, mas eu, embora tenha 74 anos de idade, estou me preparando para ter energia de 30. Tenho muita vontade de recuperar a democracia nesse país. E eu ajudarei a recuperar sendo cabo eleitoral de um bom companheiro.
Casamento
Lula também falou sobre a namorada, Rosângela da Silva, que ele chama carinhosamente de Janja. O presidente explicou que os dois se conheceram em um partida organizada pelo músico Chico Buarque e que a relação evoluiu no tempo em que ele esteve preso, com os dois trocando cartas. Lula destacou que pretende casar com Janja.
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