O ex-presidente da República Michel Temer concedeu entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (6). Durante a conversa, ele falou sobre a relação que mantinha com a ex-presidente Dilma Rousseff, comentou sobre a pandemia e avaliou que "não há clima no Congresso" para que se leve adiante um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro.
— Não há clima no Congresso, pelo menos pelas conversas que eu ouço, não há clima para um terceiro impedimento nesses últimos 30 anos. E digo com toda a tranquilidade. Todo e qualquer processo de impeachment é sempre traumático para o país, não é útil para o país — disse. — Não vejo condições, nem acho razoável que se leve adiante um impeachment — afirmou.
Para Temer, não dá para comparar 2015/2016 com o momento atual, pois hoje se vê, nas ruas, muita gente ao lado de Bolsonaro, ao contrário do que ocorria com Dilma na ocasião.
— Quem derruba presidente é o povo, não é o Congresso Nacional. Congresso Nacional, ele atende as postulações populares. — afirmou. — Eu não vejo o povo tomando milhões de pessoas na rua pedindo a deposição do atual presidente — completou.
Temer falou ainda sobre a relação que mantinha com Dilma, sobre quem disse não ver suspeita de desonestidade.
— Eu, pelo que acompanhei, não tinha muita proximidade com ela, nem ela comigo, mas essa coisa de desonestidade não existe nela. Eu sempre reitero que ela é uma pessoa extremamente honesta. Teve suas falhas administrativas geradora de movimentos populares. E os movimentos populares que sensibilizaram o Congresso Nacional — disse.
O ex-presidente, porém, reclamou da postura que Dilma mantinha em relação a ele.
— Ela nunca teve comigo uma relação governamental de presidente e vice-presidente. Nos Estados Unidos o presidente Donald Trump, quando aparece, está toda hora ao lado dele o vice-presidente (...). Pode acontecer alguma coisa com o presidente, e o vice-presidente tem que saber de tudo — exemplificou.
Quanto à capacidade de articulação do atual chefe do Executivo nacional, Temer defendeu que “cada um tem o seu estilo” de governar, ressaltando que ele mesmo não poderia tentar mudar seu estilo, uma vez que isso provocaria um baixo desempenho no papel de chefe da nação. Ainda assim, destacou que, em todas as reuniões de líderes, enquanto ocupava o cargo máximo do Palácio do Planalto, fazia questão de levar os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.
– Cada um tem o seu estilo. O meu me acompanha desde criança. Muita moderação, temperança, serenidade. Fui três vezes presidente da Câmara, porque tenho equilíbrio. Bolsonaro não enganou ninguém. O estilo dele sempre foi esse (de preferir o enfrentamento) – disse. — A Constituição determina que quem governa é o Executivo com o Legislativo. No nosso sistema a gente tem mania de achar que o presidente pode tudo — acrescentou.
Ouça, abaixo, a entrevista completa:
Temer também afirmou que ligou para Bolsonaro há cerca de 20 dias, sugerindo que governo decretasse isolamento.
— Eu disse: "olha, posso dar um palpite? Se você me autorizar dar um palpite eu dou". "Claro que pode". "Eu vou dizer a você que acho que você deveria decretar um isolamento social de fora, à parte as chamadas atividades essenciais, mas um isolamento social por 12, 15 dias, e dizendo que daqui 12 a 15 dias você reexamina essa questão. Porque essa questão tem que ser reexaminada a cada 12 dias" — contou. — Ele foi muito receptivo, foi interessante quando eu desliguei. (Parecia que) ele já tinha decidido fazer isso — disse, reforçando, em seguida, que Bolsonaro não seguiu a sugestão.
O ex-presidente, que se dedica à área do direito constitucional há mais de 40 anos, também opinou sobre o depoimento do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. O ex-juiz da Lava-Jato, ao pedir demissão do governo Bolsonaro, afirmou que o chefe do Executivo nacional queria interferir na Polícia Federal.
— Acho que o (depoimento de Moro) foi menos forte do que a própria declaração que ele fez à imprensa, quando ele convocou a imprensa para se demitir. A sensação que se tinha daquela declaração era muito mais bombástica do que o depoimento, porque o depoimento até acaba inocentando o presidente da República — avaliou Temer. — Do ponto de vista da justiça penal, (...) me pareceu que não havia nada que pudesse incriminar diretamente o presidente. Eu acho que foi até ameno — acrescentou.
Ainda assim, afirmou que Moro foi "corretamente cauteloso" na denúncia. De acordo com Temer, se produzido de forma errada, o depoimento do ex-juiz poderia eventualmente gerar um procedimento penal contra ele.