O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta concedeu entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (6). Mandetta, que deixou o cargo em 16 de abril por divergências públicas com Jair Bolsonaro na condução das ações do governo em relação ao combate à pandemia de coronavírus, preferiu não criticar as decisões do presidente acerca do tema.
— Não cabe a mim julgar se decisão do presidente é certa ou errada — disse. — É uma prerrogativa do presidente da República nomear e substituir, trocar os seus ministros quando ele entende que os ministros não estão correspondendo àquelas políticas que ele crê serem as mais corretas para as diversas pastas — afirmou.
— Não tem cabimento dizer que o Ministério da Saúde era oposição ao presidente — acrescentou.
Mandetta lembrou como foi a conversa final com o presidente, no dia da exoneração.
– Uma conversa amigável, o presidente colocou que ele gostava muito da minha pessoa mas que ele teria que fazer substituições — contou.
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De acordo com o ex-ministro, a saída ocorreu por causa de um descompasso com as ideias e as prioridades do presidente, as quais Bolsonaro julgou serem "incompatíveis" com a permanência de Mandetta à frente da pasta.
Para o ex-ministro, enquanto a preocupação era com as condições do sistema de saúde, o presidente "entendia que os problemas econômicos são mais graves e mais importantes de serem atendidos do que a saúde". Questionado sobre os efeitos da adoção de uma postura contrária ao isolamento por parte do chefe do Executivo nacional, Mandetta afirmou que o impacto foi mais sentido pelos governadores e prefeitos.
— A maneira como o presidente fez a sua crônica nesse período diminuiu muito a força dos governadores e dos prefeitos, principalmente em relação aos comerciantes, aqueles que precisam que as pessoas estejam em aglomeração. Pessoal das igrejas, o público do segmento de entretenimento e cultura, estádios de futebol. Enfim, todos aqueles que vivem da aglomeração (...) passaram a pressionar prefeitos e governadores para que eles flexibilizassem seus respectivos segmentos — avaliou.
As projeções feitas pelo Ministério da Saúde haviam indicado que o pico da doença no Brasil seria entre os meses de maio e junho. Questionado sobre essas estatísticas, Mandetta explicou que a projeção se deu através de um consenso entre os cenários dele, do então secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, e do agora ex-secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis.
— O vírus iria se apresentar em fevereiro e março. Em abril, se tomássemos medidas de isolamento, a gente teria provavelmente condições de atrasar esse vírus até maio, e se tivéssemos muita atenção, talvez levá-lo (o pico) até junho. Mas chegaria uma hora que a gente veria a movimentação e não teria como não ascender. E nós teríamos o aumento de casos em maio, teríamos aumento de casos durante mês de junho. Em julho, chegaríamos no platô. Em agosto, iniciaríamos a queda do número de casos para, em setembro, estarmos voltando mais à normalidade — disse.
O ex-ministro afirmou, contudo, que nunca gostou muito de cenários, uma vez que eles causam apreensão nas pessoas. Ainda assim, reforçou que essas projeções são mutáveis.
— Cenários dependem muito de variáveis que podem fazer com que isso se potencialize, que seja maior ou menor. O vírus depende muito da dinâmica da sociedade, de como a sociedade vai fazer para se relacionar com ele. Se ela consegue um relacionamento onde essa dinâmica é mais de afastamento, é mais de isolamento, ele tem uma velocidade menor — afirmou.