Deputados do PSL deflagraram uma guerra de listas na noite de quarta-feira (16) para definir o líder da bancada na Câmara. A disputa põe em choque aliados do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da legenda, Luciano Bivar (PE).
Bolsonaro e Bivar estão há mais de uma semana em atrito, depois de o presidente afirmar que o colega de partido está "queimado pra caramba". Bivar também foi alvo de operação da Polícia Federal que investiga suposto esquema de candidaturas laranjas.
O atual líder da bancada é Delegado Waldir (GO), mas bolsonaristas querem substituí-lo por Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente. Segundo deputados, Bolsonaro atuou pessoalmente para influir no processo.
As versões desencontradas geraram uma confusão no protocolo da Câmara.
A ala bolsonarista entregou uma lista com 27 assinaturas para tirar Waldir do comando da bancada. Uma contra-lista foi então apresentada com 32 deputados.
Como o PSL tem 53 parlamentares, a conta não fecha. O impasse foi instaurado. Como a lista para manter Waldir na liderança foi a última protocolada, é ela que vale por enquanto para a Câmara.
Eduardo já comentou uma eventual substituição.
— O meu compromisso aqui é ficar até dezembro, oportunidade em que teremos eleições para o ano que vem — afirmou Eduardo em entrevista coletiva, cercado pelo núcleo duro dos bolsonaristas.
As assinaturas, porém, terão de ser checadas pela administração da Casa para conferir se são autênticas, e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem de chancelar a medida para que ela entre em vigor.
Os deputados, de ambos os grupos, não mostraram o documento à imprensa.
No lado bolsonarista, a decisão dos congressistas vem na esteira da crise do PSL. Waldir vinha retaliando, desde a semana passada, deputados da ala dissidente, retirando-os de comissões e de posições na liderança do partido.
— A minha intenção é apenas manter o status quo, muitos deputados foram retirados de comissão, ocorreu uma retaliação e pareceu que se estava fazendo política com o fígado — disse Eduardo.
O filho do presidente também afirmou que sua indicação para ocupar a embaixada do Brasil em Washington é secundária.
— Todos os temas como embaixada, ou viagem para a Ásia, esses são temas secundários, a gente está aqui para cuidar dos nossos eleitores — afirmou. O mandato seria tampão. Washington está sem embaixador há meses.
O grupo de parlamentares bolsonaristas é composto pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), Carlos Jordy (RJ), Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Filipe Barros (PR), entre outros que assinaram a notificação de Bolsonaro pedindo mais transparência no PSL.
Atuação de Jair Bolsonaro
Antes da confusão no protocolo da Câmara, Waldir já havia afirmado que Bolsonaro tinha ligado para deputados da sigla para pedir apoio à sua substituição por Eduardo.
—Na verdade, a bancada está água e óleo, e vejo que está acontecendo uma grande preocupação do Planalto, porque eu assumo uma posição extremamente independente, porque eu não me ajoelho, eu não sou empregado do presidente — afirmou. — O presidente está ligando para cada parlamentar e cobrando o voto no filho dele — disse.
À noite, áudios divulgados por pessoas ligadas ao PSL e atribuídos por eles a Bolsonaro indicam o que seria a ação do presidente para convencer os deputados para a troca do líder do partido.
Questionado sobre as gravações que foram enviadas pela Folha, o Palácio do Planalto informou que não comentaria.
Em conversas reservadas, o presidente tem defendido a necessidade de se criar um movimento maior de apoio a ele e que eleve a pressão sobre Bivar para a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda.
A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato.
Como a articulação até agora criou um racha no partido que colocou em risco a pauta de votações no Congresso, a ordem do presidente a aliados tem sido de que a movimentação seja feita da forma mais discreta possível e que seja intensificada em novembro, quando ele voltar de viagem à Ásia.
Os membros da bancada ligados a Bivar e a Waldir se reuniram nesta quarta-feira (16) na Câmara dos Deputados para discutir a situação do partido. Participaram ao menos 25 dos parlamentares favoráveis à manutenção do presidente da legenda no comando do PSL, mas o próprio Bivar não compareceu.
O grupo afirma que é preciso preservá-lo. Bivar não apareceu na Câmara nesta semana, mas há a expectativa de uma reunião com os membros da bancada em Brasília ainda nesta semana.
Na noite desta quarta, Bivar enviou nota em que solicita que os advogados de Bolsonaro, Admar Gonzaga, Karina Kufa e Marcello de Paula, apresentem as procurações recebidas de deputados para assinarem a notificação que pede mais transparência do PSL.
Segundo Bivar, se trata de uma necessidade de "compliance". Ele diz que os deputados da ala bolsonarista não subscrevem oficialmente o documento e questiona os "poderes que teriam sido outorgados à Vs. Sas. para subscrever o documento". O presidente da legenda volta a dizer que as contas estão disponíveis na Justiça Eleitoral, e que as contas de 2019 serão prestadas no dia 30 de junho de 2020.
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse nesta quarta que o plenário da Casa não pode se deixar contaminar pela crise no PSL.
— Briga de partido sempre existe. Não é que seja natural, mas acontece. Briga por espaço politico, por poder, ainda mais num partido com muitos deputados novos, que tem eleições que foram construídas de forma totalmente divergente. O que não podemos é deixar que a crise do PSL contamine o plenário da Câmara — afirmou.
Maia, que tem buscado se consolidar como um protagonista com voz moderada em meio às crises do Planalto, puxou para si a votação da medida provisória de reestruturação da Casa Civil, aprovada nesta terça-feira (15), próxima ao prazo de perda de validade, nesta quarta.
— Com toda a briga no PSL, nós garantimos a aprovação da medida provisória — disse.