A Polícia Federal (PF) cumpre, na manhã desta terça-feira (15), mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao deputado federal Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, em Pernambuco. A ação ocorre no âmbito da investigação sobre um esquema de candidaturas laranjas no partido.
Os mandados foram autorizados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.
A casa de Bivar no Recife e a sede do partido estão entre os alvos. O parlamentar ainda não se manifestou sobre a operação. Endereços de três candidatas, Maria de Lourdes Paixão, Érika Santos e Mariana Nunes, e de duas gráficas, Itapissu e Vidal, bem como seus representantes, também tiveram busca e apreensão.
A operação ganhou o nome de Guinhol em referência a um marionete, "personagem do teatro de fantoches criado no Século XIX diante da possibilidade de candidatas terem sido utilizadas exclusivamente para movimentar transações financeiras escusas", informou a PF.
Crise dentro do partido
Na semana passada, Bolsonaro detonou a crise ao falar que Bivar está "queimado pra caramba". Instalado o conflito, o líder da legenda devolveu um tom abaixo:
"Não estamos em grêmio estudantil. Ele pode levar tudo do partido, só não pode levar a dignidade".
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo publicada no início deste mês, um depoimento e uma planilha obtidos pela PF sugerem que recursos de esquema de candidaturas laranjas do PSL foram desviados para abastecer, por meio de caixa dois, a campanha do presidente e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio –indiciado pela PF e denunciado pelo Ministério Público por três crimes no esquema dos laranjas.
O caso dos laranjas em Pernambuco
- Em fevereiro, a Folha de S.Paulo revelou que o grupo de Bivar teria criado uma suposta candidatura laranja, em Pernambuco, que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O recurso foi liberado pelo então presidente da sigla, Gustavo Bebianno.
- Maria de Lourdes Paixão, 68 anos, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Jair Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), com 1,079 milhão de votos.
- O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Bebianno era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Bolsonaro.
- Apesar de ser uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve votação que representaria indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
- A candidata sustenta que gastou 95% do dinheiro em uma única gráfica para a confecção de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos. O jornal foi em endereços vinculados à gráfica e não encontrou sinais de que ela tenha funcionado durante a eleição.
- Bivar disse na época que a decisão do repasse do recurso para Maria de Lourdes coube a Bebianno. O ex-ministro contradisse o deputado e afirmou que as definições eram das direções estaduais. Em Pernambuco, o partido é presidido por Antônio de Rueda, advogado particular de Bivar.
- O caso virou alvo de Polícia Federal, Procuradoria e Polícia Civil.
- Ainda em fevereiro, o jornal publicou outra suspeita em Pernambuco. Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada. A gráfica é a mesma usada por Maria de Lourdes.
- Érika Siqueira Santos, que trabalhou como assessora do partido diretamente com o ministro até agosto, foi candidata a deputada estadual em Pernambuco e teve 1.315 votos. Ela foi a oitava pessoa que mais recebeu dinheiro do PSL nacional em todo o país.