O jornal Folha de S.Paulo revelou, nos últimos dias, supostos desvios de recursos públicos por políticos do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro. A suspeita é de que o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, em Minas Gerais, e Luciano Bivar e Gustavo Bebianno, em Pernambuco, teriam liberado recursos do fundo partidário para campanhas fantasmas.
O caso de Minas Gerais
- Em 4 de fevereiro, o jornal publicou que o ministro do Turismo do governo Jair Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), deputado federal mais votado em Minas Gerais, teria patrocinado esquema de candidaturas laranjas, abastecidas com verba pública do partido. As quatro candidatas receberam R$ 279 mil. Pelo menos R$ 85 mil foram destinados a quatro empresas de assessores, parentes ou sócios de assessores de Álvaro Antônio.
- Não há sinais de que as quatro candidatas tenham feito campanha efetiva durante a eleição. Ao final, juntas, somaram apenas cerca de 2 mil votos. Concorrente à Assembleia pelo PSL de Minas Gerais, Cleuzenir Barbosa prestou depoimento no Ministério Público em 18 de dezembro e afirmou que foi coagida por dois assessores de Álvaro Antônio a devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil de verba pública de campanha que havia recebido da legenda.
- O ministro disse que “a distribuição do fundo partidário do PSL de Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a lei” e que “refuta veementemente a suposição com base em premissas falsas de que houve simulação de campanha com laranjas no partido”.
- Após a revelação, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a denúncia deveria ser investigada. A Procuradoria-Regional Eleitoral de Minas Gerais decidiu apurar o caso.
O caso de Pernambuco
- No domingo passado, o jornal revelou que o grupo do atual presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara, criou uma suposta candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O recurso foi liberado pelo ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno.
- Maria de Lourdes Paixão, 68 anos, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Jair Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), com 1,079 milhão de votos.
- O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Bebianno era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Bolsonaro.
- Apesar de ser uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve votação que representaria indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
- A candidata sustenta que gastou 95% do dinheiro em uma única gráfica para a confecção de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos. O jornal foi em endereços vinculados à gráfica e não encontrou sinais de que ela tenha funcionado durante a eleição.
- Bivar diz que a decisão do repasse do recurso para Maria de Lourdes coube a Bebianno. O atual ministro contradisse o deputado e afirmou que as definições eram das direções estaduais. Em Pernambuco, o partido é presidido por Antônio de Rueda, advogado particular de Bivar.
- O caso virou alvo de Polícia Federal, Procuradoria e Polícia Civil.
- Nesta quarta-feira (13), o jornal publicou outra suspeita em Pernambuco. Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada. A gráfica é a mesma usada por Maria de Lourdes.
- Érika Siqueira Santos, que trabalhou como assessora do partido diretamente com o ministro até agosto, foi candidata a deputada estadual em Pernambuco e teve 1.315 votos. Ela foi a oitava pessoa que mais recebeu dinheiro do PSL nacional em todo o país.