A Executiva Nacional do PSL publicou nesta terça-feira (15) uma nota em que faz críticas veladas ao presidente Jair Bolsonaro e ignora a operação policial que atingiu o presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE). O texto diz que a divergência intrapartidária é natural ao processo democrático e que não deve ser resolvida com "insinuações e ameaças veladas".
"(Insinuações) que se mostram frágeis, sem respaldo jurídico e que em nada contribuem para o crescimento das instituições democráticas e para o atendimento das necessidades básicas da sociedade, o que é obrigação de todo homem público, especialmente dos que exercem os mais altos cargos da República", diz o texto.
A nota faz referência à notificação extrajudicial enviada pelos advogados de Bolsonaro ao partido na sexta-feira (11), em que pede a realização de uma auditoria externa nas contas do partido.
O pedido foi defendido também por um grupo de 21 deputados — os quais, no racha do PSL, posicionam-se ao lado do presidente. Eles querem a prestação de contas do PSL dos últimos cinco anos.
Sem citar nomes, o texto também diz que os posicionamentos "noticiados caracterizam pueril tentativa de criar fatos artificiais que visam atender meros interesses pessoais em detrimento do interesse coletivo do partido".
A Executiva Nacional não faz menção à operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça contra Bivar, que comanda o grupo majoritário do partido e está em disputa com a ala bolsonarista. Eles dizem não ter recebido a notificação do grupo de Bolsonaro, apenas uma cópia sem procurações, e afirmam que as contas do partido podem ser consultadas na prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"De qualquer forma, no que tange à transparência das contas partidárias, parece ser evidente que qualquer pessoa — filiada ou não — pode ter acesso completo a todas informações, extratos e comprovantes que constam das prestações de contas apresentadas pelo partido nos últimos anos, pois eles estão disponíveis para consulta pública no site do Tribunal Superior Eleitoral", diz o texto.
Além disso, o texto reforça nas entrelinhas que o grupo de Bivar é majoritário na legenda, ao dizer que nem a Executiva, nem a "maioria absoluta dos membros do diretório nacional", incluindo a bancada de deputados, concorda com o comportamento que consideraram "pueril".
O texto conclui dizendo que a sigla punirá com "medidas cabíveis" aqueles que cometerem o que considerarem "excessos contra o partido". O grupo de Bivar tem retaliado deputados que apoiaram Bolsonaro no racha com a perda de cargos em liderança e em comissões.
A crise no PSL
O racha no PSL, que desde o início da legislatura se divide entre a ala ideológica ligada a Bolsonaro e a ala pragmática ligada ao partido, se aprofundou depois que Bolsonaro afirmou a um apoiador que Bivar estava "queimado para caramba".
O partido está na mira de investigações por conta de esquemas de candidaturas laranjas nas eleições de 2018. Em reportagens publicadas desde fevereiro, o jornal Folha de S.Paulo revelou que houve desvio de verbas públicas do PSL por meio de candidatas femininas de fachada, caso que atinge o ministro do Turismo de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, e Bivar.
Luciano Bivar começou a ser investigado pela Polícia Federal após a Folha de S.Paulo revelar que ele patrocinou a destinação de R$ 400 mil de verba eleitoral do partido para uma secretária da sigla em Pernambuco, a quatro dias da eleição.