Apenas uma semana depois de o presidente Jair Bolsonaro dizer a um apoiador para "esquecer o PSL" porque o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE) estava "queimado pra caramba", uma operação da Polícia Federal mirou o dirigente e convulsionou ainda mais o ambiente do partido. Ao ter a casa e o escritório varejados por agentes federais em busca de provas sobre candidaturas laranjas, Bivar perde forças, enquanto vê os adversários internos enxergarem no episódio justificativa para uma debandada.
Estima-se que pelo menos 20 dos 53 deputados federais do PSL estejam dispostos a deixar o partido junto com Bolsonaro. Esse movimento, vem sendo milimetricamente estudado para não dar guarida a pedidos judiciais de perda de mandato. Como muitos parlamentares têm planos eleitorais para 2020, o tempo de propaganda no rádio e na TV e o acesso às verbas dos fundos partidário e eleitoral também são fundamentais. Com a segunda maior bancada da Câmara, o PSL deve ter R$ 360 milhões à disposição no próximo ano.
Advogado de Bolsonaro e mentor da estratégia de migração, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga diz que tanto o presidente quanto o grupo de parlamentares são vítimas da falta de transparência da cúpula partidária no manejo desses recursos. Na semana passada, 21 parlamentares assinaram uma petição pedindo auditoria nas contas do partido. Bivar revidou ameaçando destituir os deputados de postos de comando nos diretórios regionais. Para Gonzaga, a retaliação configura "justa causa" para uma desfiliação.
— É bastante sintomático um partido que pune quem cobra transparência. Quando se tem só uma pessoa reclamando, é uma coisa. Mas quando se vê um grupo se rebelando contra o que não é ético, se isso não é justa causa, eu não sei mais o que é — afirmou, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
No início da tarde desta teça-feira (15), indignado com a operação da PF, Bivar foi além. Agora, ele pretende partir para o confronto aberto com Bolsonaro atingido os planos políticos da família do presidente, tirando os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro do comando do partido no Rio e em São Paulo. Ambos têm mandato até dezembro e estão organizando a sigla para as eleições municipais. Nos últimos dias, eles vinham tentando convencer o pai a baixar a pressão sobre Bivar justamente para não perderem o controle sobre os diretórios.
No Congresso, o timing da operação policial também levantou dúvidas sobre um eventual acesso de Bolsonaro a informações privilegiadas do inquérito. As suspeitas intensificaram ainda mais a divisão no partido, provocando críticas até mesmo de quem deveria trabalhar pela união interna.
Líder da sigla na Câmara, o deputado delegado Waldir (GO) partiu para o confronto lançando indiretas ao grupo de Bolsonaro, ao citar ações recentes da PF contra o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE) e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
— O presidente da República parece ter uma bola de cristal e já estava esperando essa operação. Pela lógica, os próximos devem ser Flávio e Queiroz — alfinetou Waldir, citando o filho do presidente e seu ex-assessor, suspeitos de confiscarem parte dos salários de assessores.
O acirramento da tensão partidária ocorre num momento delicado para o governo, às vésperas do segundo turno da reforma da Previdência no Senado e das negociações para votar o pacote anticrime e formular as reformas tributária e administrativa. Para o cientista Carlos Eduardo Borenstein, a confusão dificulta ainda mais a articulação política do Planalto.
— O Bivar tem muito bom trânsito no Centrão e a tendência é uma aproximação do grupo dele com esses partidos. Com essa briga toda, vai aumentar a necessidade do governo de buscar votos no varejo — aponta o analista.