A advogada Karina Kufa, uma das signatárias do pedido de auditoria nas contas do PSL solicitado por Jair Bolsonaro, afirmou ao jornal O Globo que o atual presidente da República está conversando com dirigentes de pelo menos cinco partidos, antevendo uma eventual desfiliação do partido.
Karina, que faz parte da equipe jurídica de Bolsonaro ao lado do ex-ministro do TSE Admar Gonzaga e de Marcello Dias de Paula, disse também que a legenda teme "abrir a caixa preta do Bivar", em referência a eventuais negociações feitas pelo atual presidente da sigla.
— Tudo desencadeou porque, logo que veio o resultado das eleições, o presidente soube pela imprensa dos escândalos das candidaturas laranjas. Não se tem uma conclusão do que ocorreu mesmo, mas escândalos partidários trouxeram desgastes ao governo. Além disso, teve uma matéria em que mencionava o uso de notas frias do gabinete do presidente do partido e também diversas denúncias pelo Brasil todo de irregularidades e desvios na indicação de diretórios. Isso passou a preocupar o presidente. Também foi prometida a troca de líderes e a aplicação de compliance. Mas mesmo tendo uma proposta séria, com uma empresa de renome, conceituada, eles acabaram decidindo não assinar o contrato. Um medo de uma auditoria e um medo de abrir a caixa preta do Bivar — afirma a advogada.
Bolsonaro pediu na sexta-feira (11) ao presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE), uma relação completa das fontes de receitas, despesas e funcionários e também a descrição das atividades dos dirigentes partidários custeadas pela legenda. Além do presidente, defendem a auditoria externa mais 21 deputados federais. Eles querem a prestação de contas do partido dos últimos cinco anos.
O pedido marca um novo capítulo na crise instalada dentro do partido. Na terça-feira (8), Bolsonaro afirmou a um apoiador que o presidente da legenda está "queimado pra caramba". Depois disso, Bolsonaro disse a aliados que pretende deixar o PSL. Ele busca, porém, uma saída jurídica para evitar que parlamentares que o acompanharem percam seus mandatos. Outro objetivo é preservar os fundos partidários e eleitorais.
Com os documentos — que devem ser apresentados em até cinco dias —, o presidente promoverá uma auditoria independente para avaliar como foram utilizados os recursos públicos recebidos por meio do Fundo Partidário.
"A dotação orçamentária prevista para 2019 (do fundo partidário) é de R$ 810 milhões, dos quais o Partido Social Liberal receberá aproximadamente R$ 110 milhões. O valor é mais de 20 vezes o montante arrecadado pelo presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 (R$ 4,39 milhões)", escrevem os advogados.
Eles destacam que, com o resultado da eleição, ao eleger 52 deputados, o PSL incrementou em dez vezes os recursos públicos destinados ao seu financiamento.