O empresário Arthur Cesar de Menezes Soares Filho — conhecido como rei Arthur — tem um acordo de colaboração firmado com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que trata da acusação de pagamento de propina a membros do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Foi este contrato, ainda não homologado na Justiça norte-americana, que permitiu sua liberação quando detido no serviço de imigração de Miami. Ele foi renovar documentos para a permanência no país, mas esqueceu-se de apresentar o acordo que autorizava a atualização dos papéis.
Arhur foi detido quando os agentes do serviço verificaram que havia um alerta da Interpol para sua prisão. O empresário é considerado foragido da Justiça brasileira desde setembro de 2017. Após a apresentação dos documentos, foi liberado no mesmo dia. A existência do acordo foi noticiada pelo jornal O Globo na manhã desta segunda-feira (28) e confirmada pela reportagem.
A Folha apurou que o acordo trata de lavagem de dinheiro. Esclarece as condições da transferência de US$ 2 milhões feita por Soares à empresa de Papa Masata Diack, filho de Lamine Diack, membro do COI e ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo.
O advogado Nythalmar Dias Filho, que defende o empresário, não comentou a existência do acordo. Disse que seu cliente foi detido "equivocadamente por não portar a documentação necessária para renovação do seu visto".
— Ressaltamos que as providências burocráticas já foram tomadas e que Arthur será liberado, dada a sua regular situação naquele pais — disse o advogado.
Rei Arthur, como é chamado, é réu em duas ações penais relacionadas ao esquema de Sérgio Cabral, apontado como pagador de propina para o ex-governador. Entre as acusações está o pagamento de US$ 2 milhões a membros do COI para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.
Ex-dono do grupo Facility, Soares era um dos maiores fornecedores de mão-de-obra terceirizada na gestão Cabral. Suas empresas receberam quase R$ 3 bilhões dos cofres estaduais na gestão do ex-emedebista.
Denúncia do Ministério Público Federal (MPF) afirma que ele pagou ao menos R$ 27,7 milhões em propina a Cabral.
O ex-governador confessou em interrogatório ao juiz Marcelo Bretas que pediu a Rei Arthur para que depositasse US$ 2 milhões em contas da empresa do senegalês Papa Masata Diack, filho de Lamine Diack, membro do COI e ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo.
O valor foi abatido da propina devida pelo empresário, disse Cabral. O pagamento foi feito por meio de uma empresa de Soares nas Ilhas Virgens Britânicas.
O ex-governador afirmou que foi o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, quem sugeriu o pagamento da propina a Lamine. Eles temiam não passar da primeira rodada de votação das cidades-candidatas.
— Ele chegou com o Leo Gryner (ex-diretor do COB e também acusado). "Olha governador, nós temos todas as chances de ganhar. Fizemos uma campanha bonita, os três níveis de governo envolvidos. O presidente da federação internacional de atletismo, Lamine Diack, se abre para vantagens indevidas. Fizemos contato com ele. E há uma garantia de cinco a seis votos. E eles querem US$ 1,5 milhão" — relatou Cabral.
O emedebista relatou que Nuzman e Gryner o procuraram depois pedindo mais US$ 500 mil a fim de garantir até nove votos. Foi neste momento que Cabral diz ter indicado Soares como o responsável por realizar os pagamentos.
Quatro cidades eram candidatas na eleição de 2009 (Rio, Madri, Tóquio e Chicago). A vitoriosa seria escolhida por eliminação. A cada rodada de votação, a cidade menos marcada é retirada da disputa, iniciando nova votação.
Na primeira, a cidade brasileira teve 26 votos, enquanto a norte-americana foi eliminada com 18. Caso a candidatura carioca tivesse perdido os até nove votos supostamente comprados para a concorrente, a cidade não teria passado.
Após a primeira rodada, o Rio manteve larga vantagem sobre as demais, tendo atraído os votos dos eleitores das cidades eliminadas. Na última votação, superou Madri com 66 votos, contra 32 da cidade espanhola.
— Era fundamental ter a garantia desses votos (na primeira rodada). Depois foi a política. A política com "p" minúsculo na primeira fase e a com "p" maiúsculo na segunda e terceira fases — disse Cabral.
Nuzman e Gryner negam ter intermediado a compra de votos.