O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que soma 197 anos em penas após ser condenado oito vezes por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, admitiu pela primeira vez que recebeu propina.
Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) no dia 21 de fevereiro, Cabral disse que iria "parar de mentir". Ele declarou que seu ex-chefe da Casa Civil, Regis Fichtner, sempre teve conhecimento e participação nos valores recebidos lícita e ilicitamente nas suas campanhas eleitorais, desde 1998. As informações foram divulgadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo.
Até este depoimento, Cabral nunca havia admitido receber dinheiro de origem ilícita.
— Eu errei ao obter recurso de maneira incorreta, ilegal, em nome das campanhas eleitorais que liderei, e que usei esses recursos. O que não fiz foi pedir propina. Agir como corrupto, isso eu nunca agi. Existiu, sim. Existiu, sim, e ganhou propina. Propina direta e indireta, e muito dinheiro — disse o ex-governador do RJ.
Cabral disse que Regis ajudou a operacionalizar o recebimento de caixa 2 na campanha de 2002.
Fichtner, preso no dia 15 de fevereiro, foi um dos homens mais importantes do secretariado de Cabral entre 2007 e 2014. Ele já havia sido preso em 2017, na Operação C’est fin, por suspeita de ter recebido propina de R$ 1,6 milhão, mas foi solto uma semana depois.
O ex-governador Sérgio Cabral está preso desde novembro de 2016.
Outro lado
Ao portal G1, o advogado de Sergio Cabral, Marcio Delambert, disse que o depoimento do ex-governador se deu por pedido da defesa em um inquérito sigiloso, com o objetivo de melhor esclarecer fatos narrados em inúmeras ações penais.
O escritório de advocacia de Régis Fichtner negou as acusações de Sergio Cabral. Segundo a nota, o escritório disse que se o ex-governador fez tais declarações, elas "só podem estar servindo ao propósito de obtenção de benefícios ilegítimos de alguém que já foi condenado em inúmeros processos".
A nota diz que o sigilo bancário do escritório foi quebrado pela justiça em 2017 e nenhum dos fatos relatados foi comprovado.
"A defesa do próprio Regis Fichtner disse que só vai se manifestar quando tiver acesso ao depoimento do ex-governador Sérgio Cabral".