O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, saiu escoltado da Câmara dos Deputados no início da tarde desta quarta-feira (7) após uma forte discussão com parlamentares na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia. A discussão aconteceu depois que o deputado Nilto Tatto (PT-SP) afirmou que o deputado era "office-boy" de entidades ligadas ao agronegócio.
— O ministro está fazendo o papel de office-boy dessa estratégia que está matando a economia brasileira, matando a biodiversidade, matando o povo brasileiro, e dando um tiro no pé do país, porque daqui a pouco nós não vamos exportar para lugar nenhum — disse Tatto.
As declarações irritaram Salles, que rebateu.
— Eu não sou office-boy de coisa nenhuma. Quem deve saber muito bem de matar gente em razão de coisas é o pessoal que está envolvido naquele assunto Celso Daniel — declarou o ministro, em referência ao assassinato do então prefeito petista de Santo André, em janeiro de 2002.
A afirmação rendeu um bate-boca. Deputados de oposição começaram a chamá-lo de "fascista" e dizer que ele não tinha respeito. Salles rebateu afirmando que Tatto, autor da pergunta, tinha relação com uma área conhecida como "Tattolândia", relativo a uma área no sul de São Paulo onde a família Tatto foi acusada, em 2007, de praticar invasões em mananciais de rios. O deputado tentou responder as afirmações, mas a sessão foi encerrada pelo presidente da comissão, Átila Lins (PP-AM).
A audiência tinha como objetivo inicial esclarecer as mudanças na gestão do Fundo Amazônia. Em maio, Salles afirmou que parte dos projetos do Fundo Amazônia apresentaram irregularidades após análise preliminar.
— Em 1/4 dos 103 projetos há exemplos que merecem análise mais aprofundada dos órgãos de controle — afirmou.
Segundo o ministro, os projetos seguem agora para análise do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão gestor e executor dos contratos, para que sejam tomadas as providências.
Polêmica sobre o Inpe
Ele também afirmou que as recentes críticas feitas ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) por membros do governo federal, entre eles o próprio presidente Jair Bolsonaro, não visam prejudicar o órgão de pesquisa e desenvolvimento vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O ministro se referia ao caso que resultou na substituição do ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão, substituído interinamente por Darcton Policarpo Damião.
Galvão deixou o órgão após criticar declarações de Bolsonaro sobre o trabalho do instituto. No último dia 19, em entrevista a correspondentes internacionais, o presidente disse que a divulgação de informações sobre desmatamento feita pelo Inpe prejudica o país em negociações comerciais. Galvão afirmou que Bolsonaro fez "acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira".
— Desde o início, dissemos que a ideia era agregar informações oriundas de um sistema de monitoramento de imagens de alta resolução, com precisão de três metros, e tempo [de acompanhamento] diário, ao contrário das do INPE. Exatamente para agregar informações mais precisas e orientar mais eficazmente a fiscalização. Fiscalização esta que tem um déficit de pessoal de 50% herdado da gestão anterior e seu quadro funcional, orçamento e planejamento mal estruturado — argumentou o ministro, que voltou a criticar os dados de desmatamento divulgados pelo Inpe.
— Grande parte da repercussão negativa se origina aqui dentro [do país]. São entidades ambientalistas, ONGs e pseudo-cientistas que estão fomentando isto lá fora para, de maneira reversa, pressionar o Brasil. Isto sim é uma grande irresponsabilidade. Não está correto disseminar a informação de que o Brasil não preserva seu meio ambiente, tampouco na região Amazônia — disse o ministro.