Ao analisar os seis primeiros meses de mandato, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, oscila entre exaltação às ações de Jair Bolsonaro e críticas ao período em que o PT ocupou o Planalto. Além de projetar a aprovação da reforma da Previdência pelo Senado até o final de setembro, nega que vazamentos de diálogos sobre a Lava-Jato comprometam a atuação do ministro Sergio Moro. Após GaúchaZH publicar análises de candidatos à Presidência sobre Bolsonaro, Onyx fala sobre o governo.
Qual é a sua avaliação dos seis primeiros meses de mandato?
É um governo disruptivo de tudo o que a gente assistiu nas três últimas décadas no Brasil. Nesse processo, temos de ter humildade, paciência e resiliência. Rompe uma série de questões sedimentadas ao longo do tempo. É uma nova fórmula de relação entre Executivo e Legislativo. Também é diferente na relação do comando político-administrativo do governo com a Esplanada dos Ministérios. A gente herdou um país à beira do abismo, com desemprego recorde, porque a aplicação das ideias de esquerda no Brasil se revelou absolutamente inadequado. Também há nova forma de relação com a própria sociedade e, principalmente, com os investidores. Todo mundo sabe que, hoje, quando trata com o governo, tem de entrar com bons propósitos, senão vai ser convidado a se retirar. Isso, para um país que conviveu com levar vantagem em tudo, com o toma lá dá cá, é uma revolução. Além disso, desde a transição, o governo se pautou pelo padrão de gestão da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nosso pedido de ascensão à OCDE não se dá ao acaso, mas como consequência de amadurecimento. Reduzimos o número de ministérios. É um governo que, pela primeira vez, serve ao Brasil, e não se serve da população. Começamos pelo mais difícil, uma reforma da Previdência.
Sobre a reforma, a pressão sobre os deputados no recesso pode atrapalhar na votação do 2º turno na Câmara?
Não. Zero. Isso é sonho de uma oposição que não entendeu que o Brasil mudou.
Qual é a expectativa em relação aos trâmites da reforma no Senado?
Tramitação de 45 a 60 dias. Já está bem encaminhada a proposta paralela que será a que o Senado vai apresentar, tentando inserir Estados e municípios, que não tiveram condição política de participar do texto da reforma. Então, entre 15 e 30 de setembro, o Brasil vai ter outro cartão de apresentação ao mundo (com a eventual aprovação da reforma).
Qual foi seu papel na aprovação da reforma em 1º turno? Por que o senhor voltou a ocupar o mandato de deputado na Câmara durante a votação?
Primeiro, por coerência. A participação foi no sentido de construir todas as condições para poder chegar no resultado que a gente chegou. E teve a participação preponderante dos presidentes da Câmara (Rodrigo Maia) e do Senado (Davi Alcolumbre). A equipe do ministro Paulo Guedes foi vital também. A gente não tinha fórmula pronta. Ela está sendo construída. Lá no início, o governo era muito criticado e a gente sabe que isso não vai parar. Sabíamos que ia ter problemas com parte da imprensa e vamos continuar tendo. A gente representa uma coisa que por 30 anos o Brasil não conheceu. A gente sabe que essa mudança, migração para gestão de centro-direita, uma aliança liberal-conservadora, nunca vai ter a simpatia e o apoio de setores importantes da imprensa brasileira.
Houve deputados que pediram regras mais brandas a corporações e liberação de cargos e emendas parlamentares.
O maior convencimento veio da rua. Não conheço país que fez reforma da Previdência e a população foi para a rua pedir a aprovação. Há nova cidadania, que tem ativismo político nunca visto. A pessoa não precisa ser filiada a partido. Cada um tem seu perfil ideológico. As pessoas resolveram tomar o país na mão. É como o movimento que houve nos Estados Unidos. Por que Trump ganhou a eleição? Porque o americano médio encheu o saco do discurso da esquerda americana. No Brasil, o presidente Bolsonaro, enquanto candidato, escolheu falar de princípios e valores, inovou. A gente veio com um candidato raiz, que acabou falando para um nordestino que a família dele era importante. De que precisava proteger a família dele, que a escola precisava ensinar o que ia fazer diferença na vida do filho. O resto era da família. Voltou a falar de patriotismo, de país. Os 30 anos da redemocratização subverteram esses princípios e valores no Brasil.
Mas e quanto aos cargos e às emendas distribuídas?
É o primeiro mandato que estabeleceu, lá em janeiro, um conjunto de exigências para a ocupação de cargos no governo federal, o que nunca existiu no país. Primeiro, passa pelas questões técnicas, éticas, morais, judiciais, e aplica a Lei da Ficha Limpa para qualquer cargo em comissão. Isso é uma mudança absurda. Tanto é que, apesar de termos evoluído para uma participação de indicações técnico-políticas em cargos estaduais, o volume frente a um país que ainda tem 100 mil cargos em comissão e funções gratificadas deve estar na casa do zero. Os ministros tiveram completa autonomia e independência para montar suas equipes na estrutura do governo central.
E as emendas?
O morador de Bagé, Caçapava do Sul, Guaíba paga R$ 100 (de impostos) e ficam R$ 13 na cidade dele, R$ 22 ou R$ 23 no Estado e o resto vem para Brasília. Então, é obrigação do parlamentar, além das emendas impositivas, buscar dentro dos programas e das ações governamentais recursos para as suas bases. Isso não tem nada de errado. Aliás, é assim no mundo todo. A não ser nos países onde o orçamento impositivo é de 100%, que é para onde caminhamos.
Quais são os projetos para combater o desemprego?
O Brasil combateu o desemprego com o consumo e deu no que deu. O Brasil vai recuperar empregos a partir dos investimentos da iniciativa privada. Pela desestatização, concessão e privatização.
Após a aprovação da reforma, Rodrigo Maia disse que a relação do Planalto com o Congresso precisa de mais respeito e diálogo. O ambiente está ruim?
Não. Dificuldades existiram nesses seis meses. Vivemos hoje, talvez, o melhor momento, onde a relação está mais estável, tranquila, os atores são conhecidos, suas qualidades e defeitos. O presidente tem compreensão grande de como funciona o parlamento. O resultado já fala por si, 379 votos (na aprovação da reforma em 1º turno), que nem no melhor delírio se podia pensar que chegaríamos a isso.
Até que ponto os vazamento do portal The Intercept Brasil atrapalham o governo? Isso deixa o ministro Sergio Moro em situação delicada?
Claro que não. Esse Intercept… Isso é uma balela. É a última boia que as esquerdas brasileira e mundial se agarram na tentativa de poder confrontar um projeto que, a cada dia que passa, se consolida mais. O Brasil vai ser referência de prosperidade, de mudança de conduta de governo e vai levar isso para toda a América Latina. Esse é o grande reconhecimento do presidente (Donald) Trump a Bolsonaro.
Há quem reclame que o presidente ainda não abandonou o discurso de campanha, mantendo viva a polarização política no país. Qual a sua posição sobre a questão?
O presidente tem um jeito muito próprio de ser. Ele, quando percebe que tem alguma coisa que incomoda sua base, seu eleitor, ele é aquilo: João 8:32: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Ele fala o que tiver de falar.
O governo deverá entregar uma reforma tributária ao Congresso?
O governo está preparando um projeto de reforma tributária, que é o próximo passo, assim que a Câmara terminar a votação da Previdência. Irá mandar uma revisão do pacto federativo, que deve começar pelo Senado, porque são outros passos fundamentais para que o Brasil volte a gerar empregos em larga escala e a economia cresça. O equilíbrio fiscal é importante para a previsibilidade, que permite ao investidor fazer o cálculo econômico do seu investimento com absoluta segurança.
Existe a ideia da União propor um imposto nos mesmos moldes da antiga CPMF?
Eu fui o cara que, pela primeira vez, em 2007, fui à tribuna da Câmara e disse que íamos acabar com ela. Riram da nossa cara. Em dezembro (de 2007), acabamos com a CPMF, que é um imposto injusto, regressivo. A CPMF como mais um (imposto) é um absurdo. Pensar em modificação estrutural, bom, aí é outra conversa.
O que o senhor pensa sobre a possibilidade de Eduardo Bolsonaro assumir a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos?
Se a gente puder construir e, principalmente, essa perspectiva de que vai o filho do Bolsonaro e vem o filho de Trump (para a embaixada dos Estados Unidos no Brasil), seria um gol de placa de Bolsonaro.
Isso está combinado?
São especulações. Quando o presidente esteve nos Estados Unidos, vários parlamentares que o acompanharam disseram que quem organizou, quem tem as condições, a relação muito próxima com a família do presidente americano, é o Eduardo. É uma pessoa superpreparada. E a gente não pode ser ingênuo. Todo esse movimento da Amazônia, o reino da Noruega, não sei o que da Alemanha, não sei o que da França, é uma coisa que tem na Europa e em partes da América do Norte de achar que tem de internacionalizar a Amazônia. O sonho desse povo é tomar conta do que é nosso. Imagina se Eduardo é o nosso embaixador e liga para o presidente americano e diz: “Presidente, preciso falar com o senhor porque o Brasil precisa de não sei o quê”. O presidente vai abrir a agenda na hora. Se o filho de Trump estiver aqui e ligar: “Presidente, preciso falar com o senhor”. Ele (filho de Trump) vai vir na hora. Eduardo pode, se isso amadurecer, e se for a determinação do presidente, ser muito positivo para o Brasil. Eduardo pode ser ministro das Relações Exteriores. Se pode ser ministro, por que não pode ser o embaixador brasileiro em Washington?
Há críticas que as áreas de educação e segurança pública tiveram poucas ações até o momento. O senhor concorda?
Na área de educação, sim. Mas tem uma razão. Trocamos de ministro. O novo apresentou o Future-se, que é nova forma de reorganizar o Ensino Superior público, que vai fazer uma revolução positiva para dar ainda mais autonomia, capacidade de financiamento e diminuir o custo.
E na segurança?
Já temos a redução do número de homicídios, foi desbaratado o comando da principal facção criminosa brasileira e hoje há encolhimento das organizações criminosas porque sabem que é um governo que não vai dar moleza para ninguém. E veio o pacote anticrime, que, assim que for aprovado, vai endurecer mais a situação de quem comete crime no Brasil.
Em entrevista sobre os seis meses de governo Bolsonaro, o ex-candidato Ciro Gomes (PDT) criticou o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, afirmando que ele deveria ser demitido depois que 39 quilos de cocaína foram encontrados em um avião da FAB. Qual é a sua opinião sobre o episódio?
Primeiro, tem uma coisa muito importante que se chama livre- arbítrio. Na sociedade que o Ciro imagina, não deve existir livre-arbítrio. E, se não existe, se cerceia o valor mais importante do ser humano, que é a liberdade de escolha. Ciro Gomes não tem respeito por isso, é um déspota. Isso só pode sair da cabeça de alguém que tem limitações intelectuais.
Na análise do ex-candidato Fernando Haddad (PT), hoje a oposição é de centro-esquerda e a situação de extrema-direita. O senhor concorda?
Olha, quem andou agarrado com a extrema-esquerda na América Latina e quem fez acordo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foi o Haddad.
O ex-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) criticou o governo por “enxovalhar as instituições como Legislativo e Judiciário”. Isso está ocorrendo?
Tenho profundo respeito pelo ex-governador Geraldo Alckmin. Agora, o PSDB, assim como o PT, precisa fazer mea-culpa, olhar para trás. Se o PT chegou ao poder, foi com o beneplácito e o apoio quase incondicional do seu maior ícone político brasileiro, que é Fernando Henrique Cardoso. Se ele desejasse manter o Brasil longe do PT, teria outras opções muito melhores do que as que ele apresentou em 2002. E outro aspecto importante: FHC, em vez de priorizar o Brasil, priorizou a agenda que veio do globalismo, que nascia naquela época, e sua própria biografia. Quem pagou essa conta foram os milhões de brasileiros que estão desempregados hoje. Depois de 16 anos do comando petista, o Brasil ficou a um milímetro do abismo. Mais seis meses e o Brasil não tinha mais volta como sociedade.
A articulação com o Congresso saiu da Casa Civil e foi para a Secretaria de Governo. Por que isso aconteceu e o que significa essa mudança?
Em meados de novembro (de 2018), surgiu a hipótese de colocar a reforma da Previdência de (Michel) Temer para votar no Congresso. Me opus, porque achava que não era possível o vencedor da eleição se submeter a uma possível derrota antes de assumir o governo. Falei muito pouco ao longo desses meses porque sabia que era complexa essa construção. Absorvi muita batida porque sabia que tinha de ter resiliência. Todo dia botava meu joelhinho no chão e falava com Deus e pedia para ele me dar essa capacidade. Hoje, o governo, que não tem articulação, ganhou tudo. Então, a gente não pode reclamar, só agradecer ao Congresso, a Deus e à articulação.