O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi o primeiro integrante da família a se pronunciar sobre a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, fuzilado com 80 tiros por homens do Exército no domingo, no Rio de Janeiro.
Em visita a Porto Alegre para receber a medalha do Mérito Farroupilha, o mais novo dos três filhos políticos do presidente Jair Bolsonaro disse que os militares envolvidos no assassinato não seguiram o protocolo de atuação e irão responder por seus atos.
Em conversa com GaúchaZH após se reunir com policiais federais, na tarde desta quinta-feira, Eduardo também falou sobre o silêncio do pai, que não manifestou solidariedade à família da vítima, sobre a queda na popularidade presidencial e polêmicas do início de governo. Confira os principais trechos da entrevista:
Como o senhor avalia esse início de governo?
Vejo muita coisa positiva: a redução do Estado, com leilões e concessões de portos, aeroportos e ferrovias. Há obras, como a BR-163, que o Exército está fazendo. Também a flexibilização para aquisição de arma de fogo já foi feita. Outros passos serão dados, mas isso já mostra bem qual é a direção que o governo está tomando. E, obviamente, o envio da proposta de nova previdência para o Congresso, que é a mais urgente das reformas.
Muito se fala na dificuldade de articulação política do governo. O que trava o diálogo com o Congresso?
A articulação política anterior, o chamado presidencialismo de coalizão, todo mundo viu o resultado que dá. Temos vários ex-presidentes com problemas. Queremos fazer alguma coisa nova. O parlamentar tem de ser consciente. Vamos pegar a reforma da Previdência. Se ele votar contrário, fará um mal para o país. Ele tem de votar de acordo com sua consciência, ganhar o seu salário e fazer o seu trabalho de representar o povo: pegando recursos da União, levando para as suas bases, votando e apresentando projetos de lei de acordo com os interesses de seus representados. Vejo um certo exagero com relação a isso. Andando pelo plenário, eu escuto algumas reclamações, é verdade, uma ou outra, mas são problemas pontuais. Você consegue consertar. Colocando um ministro ou o presidente para conversar com o parlamentar, ele se sentir atendido, já se vence grande parte dessa resistência.
A gente não considera os institutos de pesquisa como expressão da realidade. Acredito que ou está sendo feita alguma conta errada ou então propositalmente está sendo feita uma pesquisa fora da realidade
EDUARDO BOLSONARO
Sobre queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro
Rodrigo Maia é aliado ou desafeto?
Rodrigo Maia tem sido um aliado. O presidente (da Câmara) Maia é abertamente a favor da reforma da Previdência. Acredito que como todo relacionamento, tem momentos melhores, alguns que não são tão bons. Mas tenho certeza que ele é uma pessoa que tem responsabilidade. Não é um irresponsável que vá fazer chantagem ou ficar jogando com temas nacionais importantes.
A inflação subiu um pouco mês passado, o desemprego cresceu, a expectativa pro PIB foi revisada pra baixo. Como evitar uma piora do cenário econômico?
Aprovando a nova Previdência. Se for aprovada, pode ter certeza, vai ter uma enxurrada de investimentos aqui tão grande que a gente vai ver reduzir em muito a taxa de desemprego.
O presidente privilegia as redes sociais como canal de interlocução com a população, mas as pesquisas mostram uma queda forte na popularidade neste início de governo. Como recuperar prestígio?
A gente não considera os institutos de pesquisa como expressão da realidade. Acredito que ou está sendo feita alguma conta errada ou então propositalmente está sendo feita uma pesquisa fora da realidade. Digo isso embasado no que aconteceu em 2018. Se você der um Google aí, vai perceber que, em eleições anteriores, mais de 60% das vezes o Ibope errou. Desculpa agora, não sei se foi Ibope ou Datafolha...
A pesquisa foi do Datafolha.
Um dos dois errou em mais de 60% dos municípios.
Mas o Datafolha registrou a vitória do presidente Jair Bolsonaro.
Quem é o presidente do sindicato aqui? (pergunta para as pessoas presentes) Você, que está aqui há mais tempo: esse plenário aqui já esteve mais cheio do que hoje? Se foi, dificilmente. Nunca? ("Não", responde uma policial federal). Essa é a pesquisa real. No dia que o povo começar a puxar minha orelha, fazer críticas construtivas, que estou fazendo mal o meu trabalho, aí vou começar a me preocupar. Fora isso, instituto de pesquisa não tem qualquer credibilidade. Pelos institutos de pesquisa, o presidente seria Fernando Haddad (PT).
Se for aprovada, pode ter certeza, vai ter uma enxurrada de investimentos aqui tão grande que a gente vai ver reduzir em muito a taxa de desemprego.
EDUARDO BOLSONARO
Sobre a reforma da Previdência
O governo está dividido? Há um embate entre olavistas e militares?
Negativo. O general Floriano Peixoto (ministro da Secretaria-Geral da Presidência) é uma pessoa por quem tenho muita consideração, bem como o general Augusto Heleno. Quando a gente se encontra, é um bate papo, uma conversa saudável. Tem arranca rabo, agora...
E os ataques do professor Olavo?
Aí é Olavo falando com os militares. Não é o Eduardo Bolsonaro.
Como o senhor avalia a atuação do Exercito no episódio da morte do músico Evandro dos Santos Rosa, fuzilado com 80 tiros no Rio?
É um fato lamentável, muito triste. Os militares envolvidos não seguiram o protocolo de progressão da força que nos é ensinado também na academia de polícia. Eles sofreram prisão disciplinar e está em investigação. Você não verá ninguém passando a mão na cabeça de ninguém, caso tenha cometido um erro. Pra quem comete um erro, existe a lei.
Não faltou uma manifestação do governo de solidariedade à família?
Não acompanhei. Não teve?
Do presidente Jair Bolsonaro, não.
Mas o presidente também lamenta. Pode ter certeza disso. Assim como também lamenta as outras 62 mil mortes por ano (por assassinato). Certamente, a gente tem de mudar isso.