Passadas mais de 12 horas da prisão preventiva do general Walter Braga Netto, na manhã deste sábado (14), o ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre o caso por meio das redes sociais. No X, Bolsonaro questionou a ação da Polícia Federal (PF) passados "mais de 10 dias" da conclusão do inquérito que indiciou 40 pessoas por tentativa de golpe de Estado — incluindo Bolsonaro e Braga Netto.
"A prisão do General. Há mais de 10 dias o "Inquérito" foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP. Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?", questiona o ex-presidente na publicação.
Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, foi preso preventivamente acusado de tentar atrapalhar as investigações e obter informações sigilosas da delação de Mauro Cid.
Primeiro general de quatro estrelas a ser preso na história recente do Brasil, Braga Netto foi detido em Copacabana, no Rio de Janeiro, em uma operação que contou com o apoio do Exército. Ele foi entregue ao Comando Militar do Leste, onde ficará sob custódia das Forças Armadas.
Relembre o caso e as acusações
Braga Netto, Bolsonaro e mais 38 pessoas foram indiciados pela Polícia Federal pela trama de um suposto golpe de Estado, incluindo os atos de 8 de Janeiro, que teriam o objetivo de remover do poder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2022. Eles são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Braga Netto é apontado pela Polícia Federal como uma figura central na tentativa de subversão da ordem democrática. A PF afirma que o general participou ativamente de um movimento coordenado para pressionar os comandantes do Exército e da Aeronáutica a aderirem ao golpe.
Segundo o relatório do inquérito, as chamadas "medidas coercitivas" previstas no plano Punhal Verde e Amarelo, que incluiriam o planejamento operacional para ações de Forças Especiais, foram elaboradas para serem apresentadas ao general. Entre outras ações, o plano previa o assassinato do presidente Lula e do vice, Geraldo Alckmin, além da prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
"Os elementos probatórios obtidos ao longo da investigação evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da abolição do Estado democrático de direito, inclusive na tentativa de embaraçamento e obstrução do presente procedimento", diz a PF.
Relatório do golpe
O general da reserva é um dos personagens mais mencionados no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe, sendo citado 98 vezes.
Segundo o relatório, as "ações operacionais para o cumprimento de medidas coercitivas foram planejadas em reuniões que ocorreram na cidade de Brasília, nos meses de novembro e dezembro de 2022". Ainda segundo os federais, em reunião do dia 8 de novembro, pouco depois do segundo turno da eleição presidencial, os militares investigados ajustaram a elaboração do plano que seria exibido a Braga Netto.
A defesa de Braga Netto, no entanto, afirma que ele "não tomou conhecimento de qualquer documento relacionado a um suposto golpe, nem do planejamento de assassinato de alguém".
Em relação à prisão deste sábado, ainda não houve manifestação oficial.
Reunião golpista
Como foi divulgado após a deflagração da Operação Contragolpe, houve reunião na casa de Braga Netto na qual teria sido discutido o planejamento para sequestrar e executar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o então presidente eleito Lula e seu vice, Geraldo Alckmin.
Este encontro serviu, diz a PF, para o general Mario Fernandes “apresentar o planejamento das ações clandestinas com o objetivo de dar suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário”. Na ocasião, conforme os investigadores, “o planejamento foi apresentado e aprovado” por Braga Netto.
A reunião contou também com a presença do tenente-coronel Mauro Cid, que atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro, do major Rafael de Oliveira e do tenente-coronel Ferreira Lima.
A participação do candidato a vice de Bolsonaro também aparece no plano do que seria o momento posterior ao rompimento democrático. Os investigados teriam planejado a criação de um gabinete vinculado à Presidência da República, que seria composto em sua maioria por militares. A Polícia Federal aponta que eles seriam liderados por Braga Netto e pelo general Augusto Heleno, à época ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Empecilho
Segundo conclusão da PF, a recusa do general Freire Gomes (Exército) e do tenente-brigadeiro do ar Baptista Júnior (Aeronáutica) ao plano golpista teria sido o principal empecilho para a sua realização.
Conversas de WhatsApp extraídas do telefone celular de Ailton Barros, militar reformado do Exército, reforçam a suposta participação de Braga Netto ao intento golpista que teria o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O alvo principal de uma possível ação do general seria Freire Gomes, chamado de "cagão" por resistir às pressões para aderir ao golpismo.
Braga Netto teria encaminhado a Ailton Barros mensagem recebida de um militar das Forças Especiais em que a "culpa" do que estava acontecendo, em referência a um fracasso do possível golpismo, era atribuída a Freire Gomes, acusado de "omissão e indecisão". Ailton Barros, na resposta, sugere manter a pressão e, caso o general Freire Gomes continuasse reticente, afirmou: "Vamos oferecer a cabeça dele aos leões".
Braga Netto, destaca o despacho de Moraes, teria concordado e acrescentado: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
Repasses em dinheiro
Informações indicam ainda que Braga Netto teria participado no financiamento das ações ilegais, realizando repasses em dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, conhecidos como "kids pretos", utilizando até embalagens de vinho para transportar os valores.