Anunciado nesta segunda-feira (10), o nome do futuro procurador-geral do Estado causou mal-estar em parte dos colegas. Número dois da instituição no atual governo, Eduardo Cunha da Costa é considerado uma continuidade à política de José Ivo Sartori (MDB), desgastado com a categoria.
O principal embate de Costa com os colegas deu-se devido a um parecer, assinado em setembro do ano passado, liberando o Palácio Piratini a pagar primeiro a integralidade dos salários mais baixos e, à medida que ingressem recursos, depositar os maiores vencimentos. Antes, o governo repassava parcelas iguais a todo o funcionalismo.
— Não é surpresa para ninguém que esses últimos quatro anos foram difíceis para os servidores do Executivo e que tivemos um embate em relação ao pagamento dos nossos salários. Para viabilizar o governo eleito, cortamos a própria carne. É lógico que alguns segmentos preferiam um novo nome e um novo ciclo — resume um procurador.
Em novembro, a medida levou os advogados públicos a receberem o salário de outubro somente no dia 30. Dado o clima de motim, há procuradores incitando, em grupos de WhatsApp, que a PGE deixe de cobrar a dívida ativa em protesto a Leite.
— O clima é de velório, e o sentimento, de traição — desabafa um procurador.
Para uma parcela da PGE, o parecer deveria estabelecer limites ao Executivo. Um deles seria associar o repasse do duodécimo dos demais poderes ao pagamento integral da folha do funcionalismo — o que nunca ocorreu.
Costa está fora da lista tríplice apresentada pelos procuradores ao coordenador da equipe de transição do governador eleito Eduardo Leite (PSDB), Lucas Redecker (PSDB), em novembro. Ele estava em um documento anterior, com seis nomes, aprovado em primeiro turno entre os 315 votantes.
Porém, o novo procurador pediu que fosse retirado depois que Leite sinalizou que não vincularia a designação ao documento. Foi uma estratégia para manter as chances de ser indicado, enquanto atuava nos bastidores. O mesmo fizeram o atual procurador-geral, Euzébio Ruschel, e o presidente do IPE-Prev, José Guilherme Kliemann.
— Preferíamos que a lista tivesse sido observada, mas não é uma celeuma ou um início ruim com o novo governo — contemporiza a presidente da Associação dos Procuradores do Estado, Marcela Vargas.
Apesar da resistência, o procurador conquistou respeito e reconhecimento na classe pela habilidade técnica. Na equipe de Sartori, Costa é chamado de "Posto Ipiranga" — referência ao apelido dado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) ao futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes. Procurador-geral adjunto para assuntos jurídicos, tornou-se um desatador de nós, responsável por encontrar as soluções jurídicas para viabilizar os planos do Piratini.