A decisão do MDB de ingressar no governo Eduardo Leite (PSDB) rompe com tradição política de o derrotado no segundo turno das eleições migrar para a oposição e consolida ampla maioria do tucano na Assembleia Legislativa.
Por 47 votos a nove, o diretório estadual da sigla aderiu à futura gestão e será recompensado com a Secretaria dos Transportes, uma das mais importantes do primeiro escalão. O efeito imediato é a ampliação da vantagem governista na votação de hoje, quando Leite precisa aprovar a renovação do aumento nas alíquotas do ICMS.
— As propostas e ideias do governador Eduardo Leite são exatamente as mesmas, ou muito parecidas, com as que defendemos. Logo, estamos tratando do mesmo campo político —argumentou o deputado Gabriel Souza, líder do governo Sartori.
Apesar da beligerância com que as duas legendas se enfrentaram no segundo turno, pesou o pragmatismo político. Com o MDB e a iminente adesão de siglas menores, como PSB, Leite garante uma base capaz de aprovar mudanças na Constituição. Para os próximos dias, o governador eleito espera também o apoio formal de PSL, DEM e Novo, bancadas com que há forte identidade nos programas de governo.
Caso essa costura política se confirme, o tucano não deve enfrentar dificuldades para retirar do texto constitucional a exigência de plebiscito para privatização de estatais como CEEE, CRM e Sulgás. A medida deve ser uma das primeiras a ser enviada à Assembleia em fevereiro, na nova legislatura, e precisa de pelo menos 33 votos para ser aprovada.
A chegada do MDB ao governo foi discutida durante quase três horas, ontem pela manhã. O maior foco de resistência era a base do partido, onde estão os apoiadores que fizeram campanha de rua para Sartori. Dos oito deputados eleitos, apenas dois foram contrários à adesão: Tiago Simon e Sebastião Melo.
— Indiscutivelmente, existe uma marca no nosso partido do fisiologismo. Temos uma oportunidade ímpar de mostrar que somos um partido diferente — reagiu Simon.
As propostas e ideias do governador Eduardo Leite são exatamante as mesmas, ou muito parecidas, com as que defendemos. Logo, estamos tratando do mesmo campo político.
GABRIEL SOUZA
Líder do governo Sartori
Enquanto o MDB discutia internamente, o presidente do PSB, José Stédile, reunia-se com Leite na sede do PSDB. Os socialistas, com três deputados eleitos, ouviram novo convite para ingressar no governo, decisão que deve ser formalizada amanhã.
Com os avanços na formatação de uma ampla base governista, o tucano deve se dedicar nos próximos dias a atração das legendas mais vinculadas à direita no espectro ideológico, como PSL, DEM e Novo. Juntas, as três bancadas somam oito votos. Ao mesmo tempo, o futuro governador foi fechando a montagem do secretariado. Até quinta-feira devem ser anunciados outros seis nomes para o primeiro escalão, contemplando PP, PTB, PR, MDB e PSB.
*colaborou Gabriel Jacobsen