Derrotada e cindida, a centro-esquerda se prepara para isolar o PT no Congresso. A ação é um revide à forma como o partido sabotou candidaturas de aliados históricos na pré-campanha, como PDT e PSB. Apesar da disposição de frear o ímpeto hegemônico dos petistas, a oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) irá forçar uma atuação em conjunto no plenário.
— O PT é como cinamomo: embaixo não nasce nada e do lado ninguém cresce. Em 1989, o Brizola engoliu o sapo barbudo e em 1998 foi vice do Lula. Não vamos mais nos sujeitar a isso, ficar a reboque do PT. Não somos puxadinho. Mas quando a causa for comum, o provável é votarmos unidos — diz o deputado federal Pompeo de Mattos, presidente do PDT no Estado.
Um primeiro exemplo dessa parceria pragmática ocorreu nesta quarta-feira (31), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Unidos, PT, PCdoB, PSB e Rede conseguiram a adiar a votação de um projeto de lei que permite tipificar como terrorismo atos de movimentos sociais. Relator do texto e com presença praticamente garantida no futuro governo, o senador Magno Malta (PR-ES) discutiu com o vice-líder do PT na Casa, Paulo Rocha (PA), mas acabou cedendo e topou realizar uma audiência pública sobre o tema antes de qualquer deliberação. A tática irá se repetir ao longo dos próximos meses e sobretudo a partir de 2019, quando os principais projetos do novo governo chegarem a plenário.
A diferença está na liderança do movimento. Embora o PT detenha a maior bancada da Câmara, o candidato derrotado à Presidência, Ciro Gomes (PDT), quer deixar o partido de fora da frente parlamentar que deseja criar para enfrentar o governo Bolsonaro. Maior vítima da manobra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que garantiu a neutralidade do PSB na eleição presidencial, desidratando sua candidatura, Ciro espera atrair partidos de centro, como PSDB, PPS e até dissidentes do DEM.
— O objetivo é ampliar a centro-esquerda. Eu imagino que o PSDB não vai querer se associar ao PT e, pelo menos a parte mais sadia da sigla, não vai querer se associar ao Bolsonaro — explicou Ciro em entrevista à Folha de S. Paulo.
No Senado, quem capitaneia a iniciativa é o irmão de Ciro, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O grupo, em fase de montagem, já tem 13 senadores e deve aumentar. Na Câmara, até mesmo o PCdoB, que sempre atuou alinhado e sob a liderança do PT, participa das costuras políticas. Uma reunião nesta quarta-feira (31) com deputados do PDT, PCdoB e PSB inaugurou as tratativas. O objetivo é reunir os cerca de 90 deputados de esquerda e atrair pelo menos mais 30 parlamentares de outras siglas.
— A tendência é não aceitarmos mais participar de qualquer bloco liderado pelo PT — diz um integrante da executiva do PSB.
PT foi o partido que mais elegeu candidatos em 2018
A despeito das pretensões dos partidos de centro-esquerda, o PT seguirá tendo protagonismo no Congresso. Contrariando previsões de especialistas, a sigla foi a que mais elegeu candidatos nas eleições deste ano: 154, ficando a frente do MDB e do PSL de Bolsonaro.
Levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostra que o partido consagrou nas urnas dois deputados distritais, 83 estaduais, 56 federais, quatro governadores, quatro senadores, quatro suplentes de senador e um vice-governador.
— O PT sofreu uma derrota eleitoral com Haddad, mas obteve uma vitória política significativa — resume o analista do Diap, Antônio Augusto Queiroz.
A fragilidade maior da legenda está concentrada no Senado, onde a bancada petista caiu de nove para seis senadores. Na Câmara, porém, o partido terá 56 cadeiras e parlamentares combativos como os gaúchos Paulo Pimenta e Maria do Rosário, Gleisi Hoffmann (PR) e Paulo Teixeira (SP).
— Tem muita ressaca da campanha nessas críticas dos demais partidos ao PT. Claro que há uma sensação de divisão na esquerda, mas o PT continua sendo o maior partido da Câmara e vai ter papel importante na oposição — comenta Queiroz.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), acredita que é cedo para falar em formação de blocos no parlamento, o que deve ocorrer em fevereiro, pois o Congresso ainda está debruçado sobre matérias que vão ajudar a definir a postura do próximo governo. Pimenta destacou que não cabe a alguns deputados definir o que será a oposição, pois isso também depende do reflexo da mobilização da sociedade.
— A oposição exige disposição. Uma ampla frente pela democracia. Um movimento pela democracia que começa com isolamento não está começando bem.