A exemplo do que já vem ocorrendo na Câmara dos Deputados, partidos que serão oposição ao governo de Jair Bolsonaro articulam um bloco para isolar o PT também no Senado.
O movimento tem sido feito pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro Gomes, e pelo senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A ideia é formar uma "bancada" de oposição formado por Rede, PDT, PPS e PSB. Juntos esses partidos terão ao menos 13 senadores. Já na Câmara, os líderes do PCdoB, PDT e PSB voltaram a se reunir nesta quarta-feira (31) para articular uma frente de oposição sem a participação do PT.
Ao formar o bloco no Senado, os partidos reunirão um número de parlamentares maior do que o próprio MDB, o maior partido da casa, com 12 senadores a partir da próxima legislatura. Além disso, a ideia do grupo é se diferenciar do PT, que teria uma bancada menor, de seis senadores a partir de 2019.
O cálculo leva em conta os cinco senadores eleitos pela Rede, os quatro do PDT, e mais quatro de PSB e PPS, que contam com dois parlamentares cada. Há ainda a possibilidade de o bloco ganhar um 14º integrante, caso o senador Reguffe (sem partido-DF) aceite convite para atuar em conjunto.
A intenção dos partidos ao articular um bloco é se diferenciar dos petistas na oposição a Bolsonaro, como estratégia para quebrar a hegemonia que o PT sempre teve no campo progressista. A ideia vai ao encontro do discurso que o ex-ministro Ciro Gomes tem adotado desde que ficou em terceiro na disputa presidencial.
Cid Gomes, um dos articuladores da frente, ficou conhecido na campanha por ter feito duras críticas ao PT em um discurso durante a campanha de Fernando Haddad. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Cid disse que o PT precisa "botar o rabo entre as pernas e pedir desculpas" ao povo brasileiro.
Reações do PT
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) evitou criticar a formação do bloco, mas ironizou o viés ideológico da bancada.
— É um movimento mais de centro. A gente é de esquerda — disse.
A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, também minimizou o isolamento do partido, mas seguiu o mesmo tom de Lindbergh.
— Nós não temos problema de autoestima, somos de esquerda. Nós vamos fazer resistência. E nos momentos que pudermos estar juntos, vamos estar — afirmou.
Cid e Randolfe se reuniram nesta quarta-feira (31), no Senado, para discutir os detalhes da formação do grupo. Durante o encontro, o pedetista brincou ao dizer que Randolfe é o "mestre" e ele, o "aprendiz". Uma das possibilidades é de que o senador da Rede seja o líder da bancada. Para Cid, os partidos terão conduta de um "bloco progressista", mas sem apostar no "quanto pior, melhor", em crítica indireta ao PT.
Randolfe exaltou a união nas redes sociais.
— Oposição responsável e unida pelo Brasil e pelos trabalhadores! Muito obrigado pela visita, amigo. Que nos próximos anos possamos buscar juntos o melhor para o nosso povo — escreveu ao publicar foto da reunião.
Câmara
Na Câmara, segundo o líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), o bloco também terá uma ação independente em relação aos petistas, mas deixou claro que a sigla poderá se juntar ao grupo quando a pauta convergir com o interesse dos partidos. O bloco, uma vez unido, terá 69 deputados.
— Seremos todos oposição, mas a nossa maneira pode se diferenciar em alguns momentos. Não queremos hegemonismo de nenhuma parte — disse.
O líder do PCdoB, deputado Orlando Silva (SP), classificou o PT como um partido importantíssimo e disse que o grupo terá "muitas pontes" com o partido.
— Pretendemos aqui fazer uma oposição firme a Bolsonaro. O Brasil precisa ter alternativas para sair dessa crise — disse. Silva classificou o PT como um partido importantíssimo.
— Teremos muitas pontes com o PT — disse.
O grupo realizou um primeiro encontro nesta terça para iniciar as discussões. Segundo o líder do PSB, deputado André Tadeu (PE), a formação de um bloco parlamentar ainda é discutido, mas garantiu que as três siglas atuarão em conjunto.