O governo de José Ivo Sartori enviou 325 projetos à Assembleia Legislativa desde o início do mandato e conseguiu aprovar 279, amargando somente duas derrotas, porém duras. Levantamento de GaúchaZH realizado com base em todas as propostas encaminhadas pelo Executivo ao Legislativo entre janeiro de 2015 e junho deste ano mostra que o sucesso do governo em plenário foi de 85,8%. No período, o Piratini retirou de pauta 4,3% de suas intenções e teve 0,6% de fracasso. O restante aguarda votação.
Apesar do aparente êxito legislativo, o Piratini abalou-se com os dois projetos derrubados. Os deputados negaram a proposta de mudança no critério de repasse do duodécimo e o plebiscito para a venda de estatais — iniciativas que estavam na medula do pacote de ajuste fiscal.
— Sabemos que a nossa articulação deu resultados, mas perdemos duas votações importantes. Lamentamos profundamente – admite o líder do governo na Assembleia, Gabriel Souza (MDB).
Pelas contas do Piratini, o novo cálculo de pagamento aos demais poderes levaria à economia de R$ 700 milhões ao ano — para 2018, a previsão de déficit é de R$ 4 bilhões. Já a privatização de companhias era requisito para a adesão ao regime de recuperação fiscal da União.
Mesmo minoria, os fracassos dificultaram os planos de recuperar o cofre do Estado. Em reservado, aliados reconhecem que também tornaram mais árduas as chances de reeleição do atual governador.
— Se tivéssemos conseguido passar o duodécimo e o plebiscito, os salários dos servidores estariam em dia. Avançamos muito, só não avançamos mais porque a vanguarda do atraso atrapalhou — afirma o chefe da Casa Civil, Cleber Benvegnú.
Líder do PT, maior bancada de oposição, Stela Farias discorda. De acordo com a deputada, o governo sempre teve a maioria dos parlamentares ao seu lado, pecando em sua própria articulação política.
— É só fazer a conta. Se, de 55 deputados, éramos 16, quando muito 18, como poderíamos ser responsabilizados pelas derrotas? Essa tese é falaciosa, porque o governo aprovou quase tudo o que levou à Casa — diz Stela.
Para Benvegnú, a maior mácula está na recusa do plebiscito para a venda da CEEE, da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e da Sulgás. Integrante da base do governo até o fim do ano passado, o PSDB causou o revés.
— O governo Sartori foi mentiroso, covarde e incompetente. Nunca valorizou a sua base, nem nos chamou para conversar. No início, chegou a ter 38 deputados ao seu lado. Poderia ter aprovado o que quisesse, mas foi incompetente — critica o tucano Pedro Pereira.
O raio X também mostra propostas aprovadas, mas empacadas. O governo conseguiu aval para assinar o plano de recuperação fiscal, mas, devido a dificuldades em acertar requisitos de comprometimento da receita com a Secretaria do Tesouro Nacional, a negociação travou. Também foi eficiente em aprovar a extinção de fundações, autarquias e companhias. No entanto, barrado por decisões judiciais que impedem a demissão de servidores, sequer colheu a anunciada economia. Outra proposta aprovada, que não avançou, trata da concessão de rodovias.