A inédita aliança entre PSDB, PTB e partidos de oposição ao governo de José Ivo Sartori (PT, PDT, PSOL e PC do B) enterrou a proposta de realização do plebiscito sobre a privatização da CEEE, da Sulgás e da CRM no dia 7 de outubro. O placar de 29 votos contrários e 23 favoráveis dá a medida do tamanho da derrota de Sartori, prevista pela manhã no programa Gaúcha Atualidade pelo presidente da Assembleia, Marlon Santos (PDT).
— De zero a 10, a chance de o plebiscito ser aprovado é de 3.
A previsão de Marlon contrastava com a do líder do governo, Gabriel Souza (MDB), que tentava injetar otimismo nos aliados:
— Pela necessidade de aprovação, a chance é de 10. Pela realidade, é de 8,5.
O governo chegou a comemorar o destravamento do processo na Mesa da Assembleia, que por quatro votos a três aceitou encaminhar o projeto de decreto legislativo prevendo o plebiscito. Só que havia necessidade de aprovar também um projeto de lei reduzindo de 150 para 90 dias antes da eleição o prazo para a convocação da consulta.
Vendo que o governo não tinha os votos necessários, os adversários da proposta se uniram e impediram o adiamento da votação. Por quatro vezes o líder do governo tentou retirar o quórum da sessão e foi derrotado.
A motivação do PSDB e do PTB, que disputarão o Piratini aliados, é diferente da que levou os partidos de oposição a impedirem a realização da consulta em outubro. Nos dois casos, será preciso explicar uma contradição, já que os tucanos se declaram a favor da privatização e a oposição defende a soberania do eleitor, agora impedido de opinar.
A oposição alinhada à esquerda votou contra o plebiscito por convicção ideológica: os deputados são contra a privatização e sustentam que o Estado não deve se desfazer de patrimônio público.
O pré-candidato do PSDB ao Piratini, Eduardo Leite, tem outra justificativa:
— Misturado à eleição, o debate sobre as privatizações acabaria sendo superficial, com risco de o “não” ganhar por ser proposta originária de um governo desgastado. Neste caso, o governador eleito em outubro ficaria engessado.
O chefe da Casa Civil de Sartori, Cleber Benvegnú, contesta os dois lados. Diz que o PSDB foi contraditório, porque ocupou a Secretaria de Minas e Energia até o início deste ano e sabe que é real o risco de a CEEE perder a concessão para distribuir energia.
Benvegnú sustenta que a campanha é o momento certo para discutir o tamanho do Estado. No Piratini, é voz corrente que o PSDB ficou com medo de Sartori crescer na campanha ao abraçar a tese da privatização de estatais para focar sua atuação em áreas como saúde, segurança e educação.
Na prática, a rejeição do plebiscito vai dificultar ainda mais a adesão do Rio Grande do Sul ao regime de recuperação fiscal, já que a venda de ativos é uma das exigências da União. Antes de propor a consulta, Sartori tentou, sem sucesso, retirar da Constituição a exigência de plebiscito.