Sob gritos de "Lula Livre", sete partidos de esquerda lançaram na manhã desta quarta-feira (18) um manifesto pela "democracia, soberania nacional e direitos do povo brasileiro". Embora o ato não signifique uma aliança no primeiro turno da eleição presidencial, a tendência é que o bloco formado por PT, PDT, PSB, PCdoB, PSOL, PCB e PCO se transforme em uma frente no segundo turno contra o que hoje declararam inimigo em comum: o crescimento da direita.
— É possível que estejamos (juntos no segundo turno), é possível talvez até que estejamos no primeiro turno, um ou outro partido. O que nos motiva agora é defender o direito do povo poder votar, é isso que está em risco — disse a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).
Em um evento na Câmara dos Deputados, os partidos apresentaram um documento em que condenam a retirada de direitos sociais, o crescimento da intolerância e da violência - e citam como exemplo o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além do ataque à caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Paraná -, a reforma trabalhista e pregam a defesa do patrimônio nacional, referindo-se mais especificamente à tentativa do governo Michel Temer de privatizar a Eletrobras. Os dirigentes também atacaram o que chamam de "desmonte da Petrobras".
"Tais fatos fazem parte de um mesmo enredo, no qual as conquistas populares obtidas no processo constituinte de 1988 são consideradas excessivas por uma elite conservadora e reacionária, cabendo assim a implementação de um programa corretivo, no qual o processo possa ser desvencilhado da obrigação política de diminuir as desigualdades que ainda assolam o Brasil", diz o documento.
Nos discursos dos representantes dos partidos, sobraram críticas ao Judiciário, ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e à Operação Lava Jato.
— É preciso o fim da Lava-Jato e anular o impeachment — disse Antonio Carlos Silva, do PCO.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, criticou a celeridade com que a Justiça decretou a prisão do ex-presidente Lula, atacou o Judiciário por "novelizar sentenças e condenar inocentes" e disse que os partidos querem uma democracia em que a Constituição é obedecida.
— Condenam com facilidade os que ousaram a tocar na ferida da desigualdade social — discursou Lupi.
Gleisi insistiu no discurso de que Lula é um "preso político", disse que forças que patrocinam o retrocesso o colocaram na cadeia e que o petista não merecia estar preso.
— Ao entrar naquela cela, me deu um nó na garganta. Não é justo — declarou.
A presidente do PT disse que não é contra a Lava-Jato, mas à seletividade dos processos. A senadora criticou a decisão de livrar o tucano Geraldo Alckmin da Lava-Jato e a demora da Justiça em tornar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) réu. Para ela, a decisão do Supremo Tribunal Federal visou a apenas tentar mostrar "isonomia" nos tratamentos.
— Isso (seletividade) não podemos concordar — reforçou.
No discurso, Gleisi disse que não é possível um Executivo fraco e um Legislativo acuado.
— A democracia está sob ataque. Não sabemos se teremos eleição em outubro — afirmou.
Desconforto
Durante os gritos em defesa de Lula, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, não escondeu o desconforto.
— Vim para um evento que tem três pontos de pauta, que nós propusemos e foi aceito: defesa da democracia, que acho que tem que ser permanentemente defendida, defesa dos direitos sociais e a condenação aos atos de violência. Essa é a frente. Eu vim falar sobre isso. Não foi um ato em defesa do Lula, embora seja respeitável que os partidários dele se expressem em qualquer lugar do País, inclusive, aqui — comentou Siqueira.
O PSB deve lançar o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa na disputa presidencial.
— Nós lamentamos também que ele (Lula) esteja preso. Acho que é um sinal dos tempos que o principal candidato, de maior intenção de votos, esteja preso. É lamentável. Mas o ato não tinha esse objetivo — acrescentou Siqueira.