Poucos minutos após a decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixar de ser possibilidade no horizonte, ganhando dia e hora limite para acontecer, as redes sociais foram tomadas por manifestações de petistas inconformados com a decisão. Ao mesmo tempo, no Congresso e no Palácio do Planalto, críticos de Lula adotaram tom de cautela e evitaram falar publicamente sobre o assunto, embora comemorações pontuais tenham ocorrido na intimidade dos gabinetes.
Nos bastidores, apoiadores do ex-presidente temiam que a decisão fosse antecipada. Ainda assim, a expedição do mandado de prisão pegou de surpresa correligionários que ainda tentavam traçar estratégia consistente para se posicionar frente à negativa ao habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira.
— Já havia essa expectativa. Eles estavam com sangue nos olhos — disse um interlocutor da direção do PT.
Até então, a versão de que Lula iria se entregar espontaneamente quando a prisão fosse decretada era repetida. Agora, devido à rapidez da determinação do juiz Sergio Moro, grupo de correligionários passou a defender que ele não se apresente voluntariamente à Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (6), até as 17h, como foi definido.
Nas redes sociais, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) disse que irá apoiar a decisão dos advogados, mas ressalvou: "Não creio, por ser inocente, que Lula deva se entregar em Curitiba".
Apoiadores iniciaram movimento conclamando para atos de resistência em São Bernardo do Campo. Ainda nesta quinta-feira (5), uma multidão se deslocou para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos no município da região metropolitana de São Paulo, para onde o ex-presidente foi após a divulgação da expedição de mandado.
Em Porto Alegre, grupo de manifestantes levou uma grande faixa com os dizeres "interrompa o golpe" e trancou por alguns minutos o trânsito da Avenida Loureiro da Silva na esquina com a Rua General Lima e Silva.
Na capital paulista, com palavras fortes, mas imprimindo tom moderado, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, divulgou vídeo no qual elencou conquistas dos dois mandatos do petista à frente do Planalto e frisou:
— A ânsia desse juiz (Moro) de perseguir e punir o presidente Lula é uma coisa inconcebível.
Temer e aliados evitam comentários
Em Brasília, a comoção pública da oposição contrastava com discretas comemorações de integrantes da base aliada do governo federal. No momento em que a decisão de Moro foi anunciada, Michel Temer estava reunido com ministros no Palácio do Planalto, discutindo as trocas no primeiro escalão em razão das saídas para a eleição de outubro, que deverão ser finalizadas nesta sexta.
Participantes do encontro confirmaram que a notícia chegou ao conhecimento dos presentes sem que houvesse manifestações efusivas. Ofuscado pela prisão de amigos próximos dentro da Operação Skala, o presidente não deverá se posicionar sobre o caso, segundo sua assessoria.
— Isso é uma coisa que ninguém vai ficar comentando — pontua um dos interlocutores mais próximos de Temer.
Muitos parlamentares estavam em viagem, voltando para suas bases eleitorais. Integrante da tropa de choque de Temer, o deputado Beto Mansur (PMDB-SP) disse que soube ainda no voo, quando um passageiro recebeu a informação no celular, e que ainda não havia discutido o caso com colegas de partido. Outro deputado federal, também defensor do governo, disse que foi tomado por um "sentimento de alegria":
— Comemorei. E tem muita gente da Justiça que também está comemorando. Foram muito provocados.