Quem passa distraído pela orla não repara, mas três barcos da Brigada Militar fazem patrulhamento no Guaíba. Tudo parte do esquema para prevenir distúrbios antes, durante e depois do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Porto Alegre, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF 4).
Como não se trata de um julgamento qualquer — será apreciado recurso contra condenação do ex-presidente, que é novamente candidato e líder nas pesquisas para as eleições 2018 —, o evento em Porto Alegre atraiu milhares de pessoas. A maioria, simpatizantes de Lula. Temerosas de que eventual condenação provoque a ira desses manifestantes, autoridades da segurança pública organizaram um forte esquema de policiamento, que já está atuante.
Mais de mil PMs serão utilizados na prevenção de distúrbios. A estratégia da Brigada Militar, responsável maior por evitar arruaças, foi montar dois círculos concêntricos de policiais, que serão ampliados à medida que se aproxima a hora do julgamento.
Nesta terça-feira (23) foi isolado um perímetro menor, de cerca de cinco quarteirões, na circunferência da Estância da Harmonia. Foi bloqueado o trânsito de veículos no entorno do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, entre as avenidas Edvaldo Pereira Paiva e Loureiro da Silva. Neste perímetro, só poderão ingressar pessoas credenciadas pelas autoridades. Veja fotos feitas nesta véspera do julgamento.
Na quarta (24), dia do julgamento, um segundo círculo será formado, mais abrangente. Será proibido o tráfego de veículos em toda a orla do Guaíba no centro da cidade, com bloqueio total das avenidas Mauá e Presidente João Goulart. Todo o trânsito da entrada de Porto Alegre será desviado para o túnel da Conceição e bairros vizinhos. O Centro ficará praticamente isolado nas avenidas, sendo permitido trafegar apenas em vias secundárias. O tráfego de pedestres no segundo círculo será permitido.
Está previsto também o isolamento policial da Avenida Goethe (bairro Moinhos de Vento) na tarde de quarta-feira. Ali devem se concentrar adversários do ex-presidente Lula.
Os recursos empregados
Circuito fechado de TV
Mais de 150 câmeras de videomonitoramento são utilizadas para monitorar a movimentação de pessoas e veículos. Algumas estão postadas no Centro Administrativo do Estado, outras em prédios vizinhos. Nesses prédios também estarão atiradores de elite, durante toda a quarta-feira. Tudo é monitorado pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC) da BM, que instalou uma quartel-general provisório dentro do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.
Helicópteros e bloqueio aéreo
Será decretado bloqueio aéreo sobre o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Isso significa que a prioridade será de aeronaves da segurança pública. É cogitado transporte de autoridades por helicópteros, para agilizar sua movimentação. Caso isso aconteça, será missão da Polícia Rodoviária Federal (PRF). No entorno dessa região, porém, serão permitidos voos.
PMs a pé e a cavalo
Caberá ao Batalhão de Operações Especiais colocar contingentes próximos ao TRF4 e também em pontos nevrálgicos da cidade, sensíveis a distúrbios (como a sede da PF, o Palácio Piratini e órgãos do Judiciário). Dentro do parque Maurício Sirotsky estarão patrulhando policiais a cavalo, do 4º Regimento de Polícia Montada. O policiamento comum, mais distante dessa região, também foi reforçado e será feito pelo 1º BPM (Zona Sul) e 9º BPM (Centro). Para fazer esse policiamento de ruas, pessoal administrativo da BM foi requisitado. Para reforçar o policiamento nos bairros foram chamados policiais do Interior e, também, adiadas férias de PMs.
Patrulha fluvial
Barcos da Brigada Militar, pequenos, farão patrulhamento da orla. Não se espera qualquer incidente nas proximidades do Guaíba, é apenas por precaução.
Segurança de autoridades
Será feita pelo Grupo Especial de Segurança (GSE) do Judiciário e, à distância, pela Polícia Federal.
Reforço nas delegacias
Policiais civis ficarão de prontidão. Caso ocorra algum grande distúrbio, serão chamados para reforçar as Delegacias de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde poderão registrar boletins, tomar depoimentos e lavrar prisões em flagrante.
Forças Armadas
O Exército está com unidades de sobreaviso, sobretudo a PE (Polícia do Exército) e o Regimento Bento Gonçalves (cavalaria, que possui unidade antidistúrbio). O objetivo é proteger prédios próprios e edifícios federais, em geral. A Marinha não possui esquema especial de patrulhamento.
_____________________
Julgamento de Lula
Condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva terá sua apelação julgada pelo TRF4, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (24). A condenação é referente à denúncia na 13ª Vara Federal de Curitiba por supostamente ter recebido propina da construtora OAS em troca de favorecimentos à empreiteira em contratos na Petrobras. O suborno, no total de R$ 3,7 milhões, teria sido pago com a aquisição e reforma de um triplex no Guarujá (SP) e com o custeio do armazenamento de seu acervo presidencial.
Os advogados pedem a absolvição do petista, alegando que a condução do processo por Moro foi "parcial e facciosa". Já o MPF recorreu da decisão de Moro por entender que o ex-presidente deve ser punido por três atos de corrupção em concurso material — instrumento jurídico pelo qual as penas são somadas —, e não apenas por um crime de corrupção e um de lavagem de dinheiro como entendeu o juiz na sentença.
O ex-presidente será julgado pela 8ª Turma do TRF4, formada pelos desembargadores João Pedro Gebran Neto, relator do processo, Leandro Paulsen, presidente da Turma e revisor, e Victor Luiz dos Santos Laus. Estão previstas manifestações favoráveis e contrárias ao ex-presidente em Porto Alegre, e foi montado um esquema de segurança especial. Seja qual for o resultado do julgamento — condenação ou absolvição —, o processo não se encerra nesta quarta-feira, já que cabem recursos ao próprio TRF4.
Tour 360°
Arraste a imagem para explorar todos os ângulos e clique nas setas para navegar pelos diferentes ambientes. Se estiver usando um celular ou tablet, clique aqui para ter uma melhor experiência.
Está com problemas para visualizar? Clique aqui.