Diante da fragilidade do governo e da pulverização de setores da base aliada, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ganha cada vez mais destaque na articulação política. O perfil moderado, em oposição às ameaças feitas pela tropa de choque de Michel Temer contra parlamentares infiéis, fez crescer sua influência. Ciente disso, o Planalto quer evitar o enfrentamento, aceitando dividir o protagonismo frente a temas delicados, como as reformas tributária e da Previdência.
As articulações já foram iniciadas. Nesta quinta-feira (26), Maia se reuniu com os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira. A construção de alterações que tornem os textos das reformas mais palatáveis foi a pauta central. As discussões em plenário devem começar no final de novembro.
No entanto, devido à paralisia do Congresso durante as discussões das duas denúncias contra Temer, o calendário será o pior inimigo das pretensões de Maia. O consenso na base aliada é de que qualquer alteração previdenciária, como a idade mínima de aposentadoria, só será possível se a votação ocorrer até o final de 2017, já que o próximo ano é eleitoral.
Para dar agilidade ao processo de discussões e limpar a pauta, uma sessão extraordinária foi convocada para segunda-feira (30). Na fila de projetos, estão medidas provisórias com novas regras para o financiamento estudantil e na tributação de atividades relacionadas à exploração de petróleo ou gás natural.
Na semana seguinte, o assunto será a segurança, com a votação de projetos que endurecem penas de crimes cometidos contra policiais e em casos de contrabando e ataques a bancos.
O crescimento político de Maia é acompanhado de perto pela equipe do Planalto. Interlocutores do presidente da República concordam que o governo terá de fazer concessões. Ainda assim, defendem a força de Temer junto a deputados da base.
— Michel está impopular hoje, mas vai influenciar na eleição do ano que vem — opina um parlamentar da tropa de choque do Executivo.
Maia mantém o canal aberto de diálogo. Muitas vezes, faz até o papel de líder do governo
Cacife para influir na pauta econômica
Afinado com Maia, o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), faz críticas ao governo devido ao excesso de medidas provisórias enviadas ao Legislativo, o que é visto como interferência do Planalto. Ele avalia que, frente a esse cenário, o presidente da Câmara se credenciou a liderar as principais discussões da pauta econômica:
— Maia mantém o canal aberto de diálogo. Muitas vezes, faz até o papel de líder do governo.
A opinião é compartilhada pelo deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), que votou a favor do prosseguimento da segunda denúncia. Ele faz críticas à condução do processo para livrar Temer e afirma que o governo só terá sucesso em mudanças no rumo da economia se dividir as decisões com o presidente da Câmara:
– Agora, o governo não tem outra saída. Tem de dividir com Maia o protagonismo. As ameaças a quem votou contra o governo deixaram sequelas.
Para Pansera, embora haja a disposição de desidratar o texto que altera a Previdência, focando apenas na idade mínima de aposentadoria e em benefícios de servidores públicos, a aprovação é incerta.