O debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado na noite de domingo (1º) pela TV Gazeta em parceria com o canal My News, teve Pablo Marçal (PRTB) como o principal alvo e foi caracterizado pelo bate-boca entre os adversários, enquanto a discussão de propostas ficou em segundo plano. As informações são do jornal O Globo.
Além de Marçal, participaram do debate Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB).
O uso de apelidos pejorativos foi recorrente durante o programa, que tinha a promessa de ser mais rigoroso do que os anteriores. Marçal referiu-se a Nunes como "Bananinha", a Tabata como "Chatabata" e a Boulos como "Boules" — este último, uma referência a uma versão adaptada do Hino Nacional em um comício do deputado federal. Nunes, por sua vez, apelidou Marçal de "Tchutchuca do PCC", em referência a supostas ligações de aliados do empresário com a facção criminosa, e chamou Boulos de "invasor". Boulos, em resposta, chamou o atual prefeito de "ladrãozinho de creche".
A troca de ofensas gerou uma série de pedidos de direito de resposta. A mediadora, Denise Campos, fez vários apelos por respeito entre os candidatos e precisou intervir de maneira firme, como uma diretora escolar, para conter Datena, que se aproximou do púlpito de Marçal durante uma discussão.
— Vem cá, uai — provocava o ex-coach.
Os candidatos tiveram duas semanas para ajustar suas estratégias desde o último debate — no caso de Nunes, Boulos e Datena, que não participaram do evento organizado pela revista Veja, foram 18 dias sem confronto direto com seus oponentes. No entanto, o tempo de preparação não foi suficiente para evitar que caíssem em provocações. Boulos, inicialmente, disse a Marçal que "não conversa com criminoso" e evitou responder uma pergunta que tentava ligá-lo ao uso de drogas. Mais tarde, chamou o adversário de "bandidinho virtual" e trocou ofensas com Nunes.
As acusações de envolvimento de Pablo Marçal e seus aliados com o crime organizado foram mencionadas repetidamente pelos outros concorrentes, com ou sem a presença do candidato do PRTB na discussão.
Marçal, que foi o nome que mais cresceu nas pesquisas de intenção de voto desde o início das campanhas, rebateu as críticas atacando de volta — chegando a direcionar críticas até a um dos jornalistas que fez perguntas durante o debate. O candidato do PRTB também utilizou repetidamente o gesto com o "M", símbolo de sua campanha, para desestabilizar seus oponentes enquanto eles tentavam formular suas respostas. Em uma réplica a Tabata, afirmou:
— Isso não é um jogo de quem tem melhor proposta, é pra ver quem aguenta mais essa "encheção de saco".
Os ataques a Marçal não se limitaram ao estúdio da TV Gazeta, onde os candidatos debateram por duas horas e meia. Nas redes sociais, Boulos compartilhou trechos de um processo trabalhista envolvendo o ex-coach, enquanto Tabata Amaral divulgou uma nova representação apresentada à Justiça Eleitoral, acusando Marçal de uma suposta estratégia para inflar seus perfis online.
A representação de Tabata refere-se ao possível envio em massa de e-mails promovendo as redes sociais de Marçal, sem que houvesse transparência sobre a origem dos dados. O e-mail do candidato, de acordo com a representação, listava seus perfis e incluía a frase: "Cai pra dentro dos links e me segue nos novos perfis".
A candidata acusa Marçal de "uso inadequado de dados pessoais" e aponta uma possível violação dos direitos dos titulares dessas informações, indicando desrespeito às normas eleitorais e à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que exige transparência e tratamento adequado dos dados pessoais.
Boulos, por sua vez, destacou nas redes sociais um documento sobre um funcionário, pai de três filhos, que teria sido expulso de um resort ligado a Marçal, onde trabalhava sem carteira assinada ou outros direitos trabalhistas. O vídeo relata que o processo envolve acusações de dano moral e "humilhações".
Apelidos
O atual prefeito Ricardo Nunes, disputando com Marçal o apoio do eleitorado de direita, atacou o ex-coach logo em sua primeira fala no debate. A segurança pública era o tema inicial, mas a conversa rapidamente deu lugar a uma série de acusações mútuas.
— Pablito, você participou, foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e subtraía recursos dos mais humildes aposentados. As pessoas ligadas ao seu partido têm uma ligação estreita com o PCC. Como você pensa em lidar com a segurança pública com um histórico tão complicado? — questionou o emedebista, tachando Marçal como “Tchutchuca do PCC”.
Marçal, respondendo a Nunes com o apelido de "Bananinha", rebateu. Ele acusou o prefeito de tratar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como “amante”, insinuando que Nunes apoia Bolsonaro em segredo.
— Se você não ganhar (a eleição), no ano que vem você estará na cadeia por conta de desvio de creche — afirmou Marçal, em referência à investigação da Polícia Federal a respeito de uma “máfia” nas creches paulistanas.
Essa acusação garantiu a Nunes o primeiro direito de resposta da noite, que ele usou para afirmar que Marçal é “craque em mentir”.
— A mentira tem perna curta. Hoje cai a máscara do "Pablito", de um cara que foi condenado — declarou.
Marçal então direcionou sua primeira pergunta a Guilherme Boulos, chamando-o de "Boules". O ex-coach questionou o deputado federal sobre o uso de linguagem neutra durante a execução do Hino Nacional em um de seus eventos de campanha, além de insinuar uma ligação de Boulos com drogas, perguntando se ele "nunca experimentou nenhuma substância alucinógena".
Boulos recusou-se a responder às provocações, afirmando que “não conversa com criminosos”, referindo-se às condenações de Marçal tanto na Justiça comum quanto na Justiça do Trabalho. O psolista aproveitou para atacar Marçal e Nunes, rotulando ambos de bolsonaristas, e afirmou que a eleição “não é um concurso de likes, é preciso ter postura”.
— Marçal, você é um bandido condenado. As pessoas estão descobrindo isso — pontuou.
Na réplica, Marçal atacou Boulos, acusando-o de “institucionalizar a rachadinha” ao votar pela absolvição de André Janones (Avante-MG) no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
— São Paulo está correndo risco mesmo, o risco daquela "quadrilha do petrolão" voltar — completou
União de Tabata e Datena
Datena e Tabata, menos envolvidos nas discussões em comparação com seus adversários, uniram forças contra Nunes durante o debate sobre o combate ao crime organizado. Ambos acusaram o atual prefeito de ser complacente com a presença de milícias dentro da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Tabata também criticou Boulos, afirmando que tanto ele quanto o candidato à reeleição "se acovardaram" e só começaram a mencionar as supostas ligações de Marçal com o crime organizado depois de verem suas posições caírem nas pesquisas.
Ranking de alfabetização
O atual prefeito foi alvo novamente na terceira rodada de confrontos, sendo questionado por Tabata Amaral (PSB) sobre a queda de São Paulo no ranking nacional de alfabetização. Nunes argumentou que, apesar do recuo, a capital paulista ainda possui índices melhores que cidades como Belém e Recife, além de destacar a redução da evasão escolar.
Tabata respondeu dizendo que Nunes "tenta falar bonito porque acha que as pessoas são bobas" e afirmou que, caso o prefeito seja reeleito, "as crianças vão desaprender a ler e escrever".
Saúde e segurança
Boulos, em sua vez, fez uma pergunta a Datena. O deputado federal focou no tema da saúde e questionou o apresentador sobre quais seriam suas propostas para essa área. O candidato do PSDB, no entanto, falou brevemente sobre o tema, defendendo o aumento dos horários de atendimento e a necessidade de “zerar a fila” de espera. Ele destacou, contudo, que sua principal preocupação era outra: a segurança pública.
— O que mais me preocupa é a saúde de São Paulo em termos de segurança. Esse sujeito condenado, um bandidinho virtual, o Pablo Marçal, me chamou de fujão, mas quem precisou fugir para os Estados Unidos para evitar mais tempo de cadeia foi ele, porque sua pena prescreveu por ter menos de 21 anos — revelou Datena.
Em seguida, Datena também atacou Nunes, chamando-o de “mentiroso” e novamente trazendo à tona a investigação sobre a “máfia das creches”.
Na resposta, Boulos disse concordar com Datena e apresentou sua proposta de criar uma espécie de “Poupatempo da Saúde” para agilizar os atendimentos e eliminar as filas.
— Sou filho de dois médicos, meus pais trabalham no SUS há mais de 40 anos. Eles me ensinaram que uma consulta no momento certo pode salvar vidas — destacou.
Perguntas de jornalistas
No segundo bloco, os candidatos responderam a perguntas de jornalistas. Marçal foi questionado sobre uma declaração anterior em que disse que, para vencer o processo eleitoral, era preciso ser um “idiota”. Marçal explicou, referindo-se à sua fala em um podcast, que há parcialidade e “idiotice” na imprensa, além de atacar o jornalismo em geral. Ele acrescentou que “gosta da baixaria”.
— Quando os oponentes me atacam e xingam, dizem que mudaram a estratégia. Vocês tratam as pessoas como idiotas. As pessoas nas ruas me dizem: "Vocês falam o que a gente pensa" — resumiu.
Datena comentou a situação e acusou Marçal de ser fujão por “fugir da polícia”, referindo-se à condenação anterior do ex-coach.
— O crime prescreveu, mas você continua de mãos dadas com o PCC. Você fugiu da lei e é uma ameaça à democracia — apontou Datena.
No mesmo bloco, Boulos criticou o processo de privatização da Sabesp, conduzido pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Nunes, e acusou o prefeito de "abrir mão de recursos para a cidade em troca de apoio eleitoral do governador". Nunes respondeu chamando Boulos de “despreparado” e afirmou que não permitirá que “invasores de propriedades nem invasores de contas bancárias” assumam a prefeitura, em mais um ataque a Marçal. Boulos retrucou:
— Agora que está caindo nas pesquisas, Nunes quer parecer corajoso. Queria ver essa coragem para enfrentar a máfia ligada ao crime organizado no transporte público durante sua gestão. Isso não cola, Nunes.
Apoio de Bolsonaro
No mesmo bloco, Nunes foi questionado se se sentia traído por Bolsonaro, já que o ex-presidente aparentemente também demonstrava proximidade com Pablo Marçal. O atual prefeito respondeu falando sobre o currículo de seu vice, Coronel da PM Mello Araújo, indicado por Bolsonaro, e afirmou que tudo estava bem em relação ao apoio do ex-presidente.
— Não há qualquer desconforto, muito pelo contrário — afirmou Nunes.
Boulos foi convidado a comentar e relembrou uma declaração anterior do vice de Nunes, em que ele sugeriu que moradores da periferia deveriam ser tratados de forma diferente dos moradores do bairro nobre Jardins.
Crime organizado
Datena, por sua vez, falou sobre suas propostas para proteger os cidadãos do crime organizado e mencionou que, para resolver esses problemas, seria necessário agir diretamente contra organizações criminosas como o PCC. Ele exemplificou que até mesmo um roubo de celular pode resultar em mortes e alimentar uma rede internacional de crime.
— Tudo o que acontece em São Paulo são fragmentos do crime organizado. Só o prefeito não tem autoridade para resolver isso; o Tarcísio e o Ministério Público precisam participar — defendeu Datena.
Tabata, convidada a comentar, destacou que a capital paulista enfrenta uma epidemia de roubo de celulares, problema que ela atribuiu à gestão de Nunes. Sua proposta para resolver a questão envolve seguir o modelo do Estado do Piauí.
— Vou convocar as operadoras para rastrear cada celular roubado. Quando uma nova linha for ativada nesse celular, mandaremos uma notificação, e se a pessoa não entregar o aparelho na delegacia, a polícia vai lá e toma. Vamos identificar os boxes, lojas e shoppings que vendem celulares roubados — prometeu.