Sete candidatos a governador do Rio Grande do Sul participaram de debate promovido pelo Grupo Editorial Sinos, em Novo Hamburgo, na manhã desta quarta-feira (14). Em quatro blocos, temas como privatização do Banrisul e da Corsan, segurança pública, educação, infraestrutura, licenças ambientais, finanças, pandemia de covid-19, saúde e fundo eleitoral estiveram sob discussão em perguntas, réplicas e tréplicas.
Candidato à reeleição e líder nas pesquisas de intenção de voto, Eduardo Leite (PSDB) foi o mais atacado pelos demais postulantes. Participaram, além de Leite, Argenta (PSC), Luis Carlos Heinze (PP), Onyx Lorenzoni (PL), Ricardo Jobim (Novo), Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT). Edegar Pretto (PT) não compareceu sob justificativa de incompatibilidade de agenda.
A pauta mais debatida, contando com manifestações múltiplas, foi a possibilidade de o Estado vender o Banrisul. O assunto emergiu nos dois primeiros blocos, que tiveram questionamentos diretos entre os candidatos.
— Precisamos privatizar o Banrisul enquanto ele ainda vale alguma coisa. É uma questão de timing — afirmou Jobim, defensor do uso do dinheiro arrecadado com a eventual negociação em educação. O candidato do Novo foi o único a fazer manifestação explícita pela venda do banco estadual.
A resposta veio, no primeiro momento, de Bogo. O candidato do PSB disse que, atualmente, o lucro de cinco anos do Banrisul, que remunera o Estado, seu principal acionista, seria suficiente para cobrir o eventual montante de venda.
Onyx voltou ao assunto dizendo que o Banrisul perdeu valor de mercado, caindo de cerca de R$ 10 bilhões para R$ 4 bilhões, com críticas à gestão atual. Argenta se juntou ao debate e propôs incorporar o Badesul, também controlado pelo governo estadual, ao Banrisul. Com isso, o principal banco gaúcho teria uma transformação gradativa de perfil, mais dedicado ao fomento do desenvolvimento.
— O Banrisul precisa estimular a geração de empregos — avaliou Argenta.
Leite reagiu às contestações de que o Banrisul tem reduzido as margens de lucro.
— Banco público é para estimular o desenvolvimento. O Banrisul mais do que dobrou a sua carteira agrícola, que tem menos rentabilidade. Se ele quisesse dar só lucro, fazia empréstimo consignado, que dá mais rentabilidade — respondeu Leite.
Onyx apresentou como proposta um programa de regularização fundiária, para dar títulos de propriedades de imóveis às famílias que ainda não os têm.
— Pedágios na Região Metropolitana não têm cabimento. Nossas rodovias são avenidas intermunicipais, não têm sentido elas serem pedagiadas — acrescentou o candidato do PL.
Vieira da Cunha fez defesa da educação e citou a proposta de colocar 200 mil alunos em escolas de turno integral na rede estadual. Ele ainda defendeu o uso de câmeras no uniforme de policiais militares - citando o assassinato do jovem Gabriel Marques Cavalheiro - e protagonizou um dos momentos de maior verve do debate ao abordar a pandemia, dirigindo-se a Onyx e Heinze, candidatos alinhados com o bolsonarismo.
— Jair Bolsonaro declarou que era uma gripezinha. Depois, quando cobrado por medidas, disse que não era coveiro. É um desrespeito total às 680 mil famílias que perderam seus entes queridos. A covid foi um desastre — disparou Vieira.
Onyx respondeu de imediato:
— O Brasil salvou 35 milhões de pessoas. O SUS funcionou.
Heinze reiterou críticas à gestão estadual na educação, sobretudo quanto à demora para obras e reparos emergenciais que levam escolas a fechar portas, e disse que chamará para si a responsabilidade na segurança pública.
— Eu serei o comandante das forças policiais do Estado. Quero tirar os brigadianos de dentro dos presídios, são mais de mil. Vou fazer parceria com as prefeituras para pagar horas extras aos policiais militares e civis — declarou Heinze.
Bogo também tratou do tema da segurança e defendeu apertar o garrote ao crime organizado e políticas fortes de recuperação do apenado.
— Os presídios estão superlotados e não vejo política clara de ressocialização de pessoas que vão sendo liberadas para a sociedade, para que sejam produtivas. Hoje a Brigada Militar faz o retrabalho de prender quem já foi solto — avaliou o candidato do PSB.
No tema da segurança, os debatedores fizeram críticas a Leite, que busca a reeleição, pela recente explosão de uma guerra entre facções do tráfico, o que causou aumento de homicídios.
— No mínimo, temos de colocar mais 5 mil policiais militares para atender a demanda do Rio Grande do Sul — disse Onyx.
Leite rebateu dizendo que o atual governo - desde março dirigido por Ranolfo Vieira Junior (PSDB) - terminará tendo maior efetivo na Brigada Militar em comparação a quando eles assumiram a gestão.
— Não dá para brigar com os números — afirmou Leite, citando estatísticas de quedas nos índices de homicídios, roubos e latrocínios.
Argenta defendeu o uso de recursos das reservas cambiais do Brasil em um grande programa público de infraestrutura, embora esses valores sejam de gestão do governo federal. Ele entende que isso geraria um “surto de desenvolvimento”.
Com o debate ocorrendo em Novo Hamburgo, foram debatidas questões da região, como os gargalos do transporte público. Leite disse que está em andamento um estudo de viabilidade para a construção da ERS-010, que seria uma alternativa à congestionada BR-116. Neste tema, Heinze defendeu a integração no transporte público para que os cidadãos possam se deslocar até Porto Alegre com o uso de bilhetes únicos.
O debate manteve-se focado na apresentação de propostas na maior parte do tempo. Apenas em um momento, numa sequência de perguntas e respostas entre Leite e Jobim sobre o Banrisul, houve certa exaltação. Jobim fez menção de interromper a manifestação do tucano, que pediu respeito ao seu tempo de fala.
Em outro ponto do debate, Onyx associou a bancada do PT na Assembleia Legislativa ao “diabo”. Afora instantes pontuais, o ambiente foi cordial e propositivo.