Em seu segundo dia de visita ao Rio Grande do Sul, o presidente Jair Bolsonaro atacou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao celebrar um comício com contornos religiosos em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, Bolsonaro criticou a decisão de Moraes, chamando-o de vagabundo, em razão do ministro ter autorizado operação da Polícia Federal contra empresários que discutiam a possibilidade de um golpe de Estado em conversas num grupo de WhatsApp.
— Mais importante do que a nossa própria vida é a nossa liberdade. Nós vimos aí empresários tendo a sua vida devassada, recebendo a visita da Polícia Federal, porque estavam privadamente discutindo um assunto que não interessa para as outras pessoas. Eu posso pegar meia dúzia aqui, bater um papo num canto qualquer e falar o que bem entender. Não é porque tem um vagabundo ouvindo atrás da árvore a nossa conversa que vai querer roubar a nossa liberdade. Mas mais vagabundo do que quem escuta atrás da árvore é quem dá uma canetada após ouvir o que ouviu esse vagabundo — disse o presidente.
Denominado Mulheres pela Vida e pela Família, o evento foi planejado para confrontar a imagem de que Bolsonaro é rejeitado pelo eleitorado feminino. Cerca de 4,5 mil mulheres se reuniram nos pavilhões da Fenac, em movimento de apoio à candidatura do presidente. Os homens foram mantidos nos fundos do prédio, acompanhando o ato por um telão.
Bolsonaro chegou pouco antes das 11h, junto da primeira-dama Michelle Bolsonaro, e do vice-presidente e candidato ao Senado, Hamilton Mourão (Republicanos). Vestida de rosa, Michelle foi ovacionada pela plateia. Num discurso de pouco mais de 10 minutos, disse que o Brasil vive uma "guerra espiritual" e alertou para o que seria uma iminente perseguição religiosa no país, à semelhança do que estaria ocorrendo na Nicarágua.
— Muitas vezes não falamos de política porque não queremos misturar com religião. Mas hoje é momento de falarmos de política para que amanhã nós possamos falar de Jesus. O comunismo começou a perseguir, fechou igrejas, ateou fogo. Daqui a pouco, se a população brasileira não despertar, isso pode chegar no Brasil e os protestantes serem atingidos. Esse é o momento que oramos e pedimos que a Igreja desperte, para que as pessoas tenham entendimento do que estamos vivendo, a guerra espiritual — afirmou.
Bolsonaro discursou após a primeira-dama. Em 40 minutos, citou realizações do governo, como redução da violência, corte de impostos, retomada da economia e queda no preço dos combustíveis.
— Só consegui fazer isso depois da quarta troca de presidente (da Petrobras). E se tivesse que fazer 20 trocas, faria — afirmou.
Bolsonaro atacou governadores que restringiram atividades econômicas durante a pandemia, políticas de direitos humanos implantadas no governo do PT e dois de seus adversários na eleição, Lula (PT) e Simone Tebet (MDB). Ao final do discurso voltou a criticar Moraes, agora em tom de ameaça.
— Quem é que diz se isso ou aquilo é ou não é desinformação? Onde está a lei para mandar um juiz tomar uma decisão como essa? Não existe lei para isso. Podem ter certeza, se Deus quiser, se essa for a vontade dele e o entendimento de vocês, após a reeleição, com mais firmeza ainda, nós vamos defender os direitos e garantias individuais previstos na nossa Constituição — discursou.
Desde o início da manhã, simpatizantes formaram uma extensa fila do lado de fora do prédio. Enquanto um grupo segurava faixas com dizeres como "As tias do zap" outras adquiriam produtos relacionados à campanha, como bandeiras do Brasil, camisetas e até tênis verde e amarelo.
As irmãs Eva Lorena Baum, 70 anos, e Marlene Bacher, 76 anos, acordaram às 5h e saíram de Sapiranga para apoiar o presidente. Vestidas a rigor, com cachecol, camiseta e até a minichapéu nas cores da campanha, elas estavam ansiosas para ver Bolsonaro.
— Já estou com a casa toda decorada de Bolsonaro. Até meu cachorro, o Gizmo, tem roupinha verde e amarela. Bolsonaro é do povo, está indo muito bem no governo e vai fazer muito mais — dizia Marlene, aplaudida pelas colegas de fila.
— Ele ama as mulheres, tanto que casou três vezes — emendou outra simpatizantes.
Aliado de Bolsonaro, o candidato do PL ao governo do Estado, Onyx Lorenzoni, foi o primeiro dos políticos a chegar ao pavilhão. A abertura do evento foi feita por Denise Lorenzoni, esposa de Onyx. Após beijá-lo diante da plateia, Denise chamou lideranças evangélicas e conduziu uma oração, pedindo às mulheres que fechassem os olhos e colocassem a mão no coração.
— Vocês são parte dessa história, vocês são parte dessa transformação que vai acontecer no Rio Grande do Sul. Amén — finalizou Denise, citando o mote da campanha do marido.
Misturando pregações políticas, religiosas e de autoajuda, se revezaram no microfone políticos, lideranças evangélicas e uma cantora gospel, incluindo uma das noras do presidente, a psicóloga Heloisa Bolsonaro, mulher de Eduardo Bolsonaro. Exibindo imagens do parto no telão, Heloisa fez um discurso contra o feminismo e em defesa de "homens com testosterona".
— Gente, você pode ser uma mulher que edifica sua casa ou altamente destrutiva. Escolha quem você quer ser. E se você quer mudar o Brasil, começa olhando para sua casa — afirmou.
Na sequência, a ex-ministra Damares Alves fez um discurso em defesa do governo, atribuindo aos adversários a apologia do aborto, do comunismo e da chamada ideologia de gênero.
— Não os temais de modo algum, porque grande, eterno e poderoso é o nosso Deus. Não acabou para o Brasil, não acabou para a nossa pátria. Estamos apenas começando a reconstruir essa nação — assegurou.
Com ao menos cinco câmeras estrategicamente espalhadas pelo galpão de 10 mil metros quadrados, o ato foi filmado para aproveitamento das cenas no horário eleitoral na TV. Após os discursos, Bolsonaro e Michele receberam uma benção e circularam por um corredor afastado do público apenas por gradis. Recebidos como estrelas de cinema, entre lágrimas e gritos de "mito", o casal era agarrado por simpatizantes em busca de uma foto. Apesar da lotação esgotada no espaço diante do palco, cerca de um terço das 6,6 mil cadeiras permaneceram desocupadas.
Pouco antes da chegada de Bolsonaro, ocorreu um incidente no fundo do pavilhão. Um homem que distribuía panfletos da campanha de Eduardo Leite (PSDB) foi hostilizado e teve que deixar o local.
O evento foi a última agenda de Bolsonaro no Rio Grande do Sul. Na sexta-feira, ele participou da abertura oficial da Expointer, em Esteio e foi ao jogo do Grêmio, na Arena. De Novo Hamburgo, o presidente se dirigiu à Base Aérea de Canoas, de onde embarcou para Brasília.