Os caminhos indicados pelo eleitor no primeiro turno das eleições municipais projetam uma configuração de poder no Estado com reflexos diretos na corrida ao Palácio Piratini em 2022. A partir do resultados das urnas, PSDB, PT, MDB, PP e PDT já começam a pensar na próxima eleição.
A despeito da derrota de Nelson Marchezan em Porto Alegre, os candidatos do PSDB obtiveram um desempenho que pode levar o governador Eduardo Leite a repensar a decisão de não concorrer à reeleição. As vitórias em Novo Hamburgo e Viamão, somado as chances de êxito no segundo turno em Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria, três dos cinco maiores colégios eleitorais gaúchos, podem conduzir Leite à disputa de um segundo mandato.
Se as vitórias se confirmarem, o PSDB repete a performance de 2016, quando ganhou as eleições em sete dos 33 municípios com mais de 50 mil habitantes — o chamado G33, onde está 55% do eleitorado —, catapultando Leite ao Piratini dois anos depois.
Também colaboram para aumentar a pressão interna sobre o governador a fragilidade dos dois maiores aliados na Assembleia Legislativa, MDB e PP. O MDB ainda não tem candidato natural ao Piratini, sobretudo após a performance desastrosa do candidato apoiado pelo ex-governador José Ivo Sartori em Caxias, Carlos Búrigo, que ficou em quarto lugar, com menos de 10% dos votos. Sebastião Melo está em ascensão na legenda, principalmente se confirmar a vitória no segundo turno na Capital, mas não é um nome cogitado para 2022.
Já o PP viu naufragar a estratégia do senador Luis Carlos Heinze, principal nome da sigla para o governo estadual. O partido lançou candidaturas próprias em grandes cidades, como Pelotas, Canoas e Novo Hamburgo, perdendo em todas. Em Porto Alegre, Gustavo Paim amargou um oitavo lugar, com 1,24% dos votos. A exceção bem-sucedida foi Santa Maria, onde o vice-prefeito Sérgio Cecchim enfrentará o prefeito Jorge Pozzobom no segundo turno.
— Eduardo Leite diz que não pretende concorrer à reeleição, mas às vezes o governante é empurrado, ainda mais se estiver bem avaliado pela população. O MDB precisa construir um candidato em pouco mais de um ano, o que não é fácil. O PP tem uma curiosidade: sempre elege muitos prefeitos, mas não consegue fazer eles trabalharem para o candidato do partido ao governo. Geralmente, são gestores de cidades pequenas, com forte dependência do governo do Estado. Em contrapartida, o PP tem o que o PSDB precisa, uma forte estrutura eleitoral no Interior — comenta o cientista político Carlos Eduardo Borenstein, analista da Arko Advice.
Na esquerda, o principal desafio é a união dos partidos e a renovação do PT. A sigla chegou ao segundo turno apoiando Manuela D'Ávila (PCdoB), o que não acontecia desde 2008, mas no G33 venceu somente em São Leopoldo. A aposta em nomes conhecidos dos eleitores se revelou equivocada em cidades médias, com as derrotas de Tarcísio Zimmermann em Novo Hamburgo, Stela Farias em Alvorada, Luiz Mainardi em Bagé e Orlando Desconsi em Santa Rosa. Pepe Vargas venceu o primeiro turno em Caxias e Ivan Duarte tem uma disputa difícil em Pelotas, após faltar apenas 0,26% dos votos para Paula Mascarenhas (PSDB) se reeleger no último domingo (15).
Para 2022, os deputados Paulo Pimenta e Edgar Pretto despontam como favoritos para ocupar a cabeça de chapa, mas o arco de alianças está praticamente restrito ao PCdoB — e ainda há risco de candidatura própria dos aliados caso o governador do Maranhão, Flávio Dino, precise de um palanque local para concorrer à Presidência.
No PSOL, a tradição de lançar candidaturas próprias em eleições majoritárias e o crescimento registrado em todo o país, incluindo Porto Alegre, onde fez três dos cinco vereadores mais votados, complica uma aproximação.
O mesmo cenário se repete no PDT. Há seis anos no comando do Grêmio, Romildo Bolzan vem discretamente pavimentando uma candidatura ao Piratini. É provável que o partido repita a atual aliança com o PSB, montando palanque no Estado para mais uma candidatura presidencial de Ciro Gomes. Para vice, já se fala no atual prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, que acaba de eleger o sucessor após dois mandatos bem avaliados.
— O PT por enquanto só tem uma prefeitura no G33 e, se vencer em Caxias e Pelotas, no máximo iguala o desempenho de 2016 nesse grupo. Mas é um partido muito estruturado e que sempre chega com boas chances. Como de costume, a esquerda deve ter três candidaturas em 2022. O risco de se dividir é ficar de fora do segundo turno, como ocorreu em 2018 — aponta Borenstein.