Marchezan fez uma boa gestão na prefeitura de Porto Alegre. Ele realmente cumpriu a maioria das suas promessas de campanha, ampliou as obras na orla do Guaíba, tornou a estrutura administrativa mais racional e teve um desempenho na crucial área da saúde que alguns médicos amigos meus classificam de excelente. Foi um prefeito sério e comprometido com o trabalho.
Por que, então, ele não se reelegeu?
Por causa do seu temperamento.
No primeiro ano de mandato de Marchezan, ele foi ao Timeline e, em meio à entrevista, observei que a política é a arte do diálogo, da negociação e da busca da concordância. Ele respondeu com um sonoro não.
“Não concordo!”, rebateu. “Certas coisas eu não negocio!”
Parece uma orgulhosa declaração de integridade, mas é apenas uma manifestação de ingenuidade. Na política, bem como na vida, você precisa das outras pessoas. É preciso conversar com elas, é preciso compreendê-las, é preciso saber ceder, mesmo quando a concessão feita não for aquilo que você considera absolutamente justo ou correto.
Não estou dizendo que os gestores têm de se submeter às negociatas da velha política. Negociação é diferente de negociata. Em qualquer administração, há espaço para atender necessidades de possíveis aliados sem ingressar em terreno ilícito ou mesmo ferir a ética.
É o que as pessoas fazem todos os dias na sua convivência em família, com os amigos ou nas empresas em que trabalham. Se as pessoas não tolerarem as imperfeições umas das outras, se elas de vez em quando não se conformarem com algo que acham injusto, a vida se transforma em um inferno.
Marchezan transformou sua relação com a Câmara de Vereadores em um inferno. Resultado: os vereadores se articularam para pedir seu impeachment às vésperas da eleição. Não foi um pedido de impeachment político; foi politiqueiro. Foi traiçoeiro e mesquinho. Mas os vereadores conseguiram o que queriam: vingança.
O processo de impeachment foi uma das razões da derrota eleitoral de Marchezan. Desgastou-o na hora agá e afastou eleitores indecisos. Houve outras razões, quase todas relacionadas com os inimigos que ele cevou em seus quatro anos de mandato.
Mas Marchezan tem um consolo: ele entregará ao seu sucessor uma prefeitura melhor do que quando a recebeu. Tomara que ele tenha melhorado também. Tomara que tenha entendido que conversar não é o mesmo que conchavar. E que você pode ouvir o que parece torto sem deixar de manter a espinha ereta.