A eleição municipal em Porto Alegre pode ser analisada sob diferentes perspectivas. No recorte sobre o Legislativo, é preciso destacar um feito: o PSOL se consolidou para formar, ao lado de PT e PSDB, uma das maiores bancadas da Câmara de Vereadores, com quatro eleitos.
A candidata Karen Santos foi a campeã de votos, com o aval de 15.702 eleitores. Um feito para a legenda criada em junho de 2004 a partir de uma ruptura com o PT.
Curioso também é que este mesmo PT, com histórico de tradição na capital gaúcha, vem perdendo protagonismo no campo da esquerda brasileira, e num movimento raro abriu mão da cabeça de chapa para indicar o vice da candidatura de Manuela D’Avila (PCdoB), que disputará o segundo turno com Sebastião Melo (MDB).
O cenário não é exclusivo do Rio Grande do Sul. Em outras capitais, como São Paulo, o candidato (Jilmar Tatto) teve péssimo desempenho (8%), enquanto Guilherme Boulos (PSOL) saltou para o segundo turno, ultrapassando inclusive o candidato de Bolsonaro, Celso Russomano.
Algumas razões podem apontar para a consolidação do fenômeno de renovação visto na Câmara de Porto Alegre. O avanço da pauta antirracista, a partir de movimentos como Black Lives Matter e a reivindicação por direitos para a população negra e para as mulheres são parte disso. A discussão sobre diversidade avançou — talvez como reação à eleição de Bolsonaro ou à explosão da extrema-direita em 2018 —, consolidando protagonismo de negros, mulheres e LGBTs em fóruns sociais, acadêmicos e políticos.
Para o Brasil, um excelente sinal. No país que perpetuou durante tanto tempo a democracia racial como mito e que se recusa a admitir o racismo estrutural, por exemplo, já era tempo de promover uma reflexão profunda a respeito de ocupação de espaços de poder. Também há de se destacar o protagonismo de mulheres negras, igualmente comprometidas com a luta sobre raça e gênero.
Para a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL), que foi candidata à prefeitura com Márcio Chagas como vice, a chapa que concorreu ao Executivo também teve papel importante para consolidação da bancada do PSOL:
— Nossa chapa majoritária foi combinação da luta feminista com a luta antirracista. E os candidatos a vereadores também. Tivemos 41% de candidatas mulheres e 25% de negros e negras. Uma nova esquerda começa a se fortalecer com o PSOL. Acho que o PSOL como partido é a uma grande expressão de uma onda mundial de luta antirracista e feminista — pontuou à coluna.
Ao que parece, até aqui, o PSOL se consolida como força extremamente relevante na esquerda brasileira, e protagonista em capitais, como Porto Alegre e São Paulo. Com esta nova configuração, será curioso observar como se comportará o PT, que ainda parece longe de conseguir recuperar os danos causados à sua imagem, desde o mensalão até a Lava-Jato, incluindo o impeachment de Dilma Rousseff.