O vice-prefeito de Santa Maria, Sérgio Cecchin (PP), disputará contra o atual prefeito, Jorge Pozzobom (PSDB), o segundo turno na maior cidade da região central do Rio Grande do Sul. Cecchin teve 26,49% dos votos válidos e Pozzobom, 24,89%.
Até março deste ano, o engenheiro Cecchin (seis vezes vereador e duas vezes vice-prefeito) e o prefeito Pozzobom, advogado de formação, mantinham excelentes relações. O clima azedou quando o PP decidiu lançar candidatura própria – algo estimulado em nível nacional. Além de alçar voo solo, Cechin carregou consigo outra legenda muito tradicional em Santa Maria, o MDB, que já fez vários prefeitos.
Desde então o prefeito e seu vice se alvejam nos discursos e tentam cooptar o eleitorado do outro – ambos têm perfil ideológico semelhante, contando com os votos dos bolsonaristas da região.
Os debates no primeiro turno giraram em torno das questões estruturais de Santa Maria, uma cidade com dinamismo, mas problemas. Congestionamentos viraram rotina, num cenário repleto de carros e com poucos ônibus, além de ruas esburacadas. A economia, baseada sobretudo no comércio, sofreu um baque com a pandemia de covid-19. E o sistema de saúde, apesar de contar com grandes hospitais, registra muitas filas de espera.
Apesar dos problemas conjunturais, o prêmio é governar uma cidade com orçamento anual de R$ 870 milhões, uma das maiores concentrações de funcionários públicos do país, com universidades (inclusive uma federal) e que também abriga o segundo maior contingente militar do país (perde apenas para o Rio de Janeiro). São 9,3 mil integrantes das Forças Armadas, distribuídos em 21 quartéis. A possível abertura de uma Escola de Sargentos pode agregar a esses outros 2,1 mil fardados e um investimento de R$ 1 bilhão, que injetaria R$ 250 milhões na economia local. Nada desprezíveis para quem pretende recuperar um pouco das vagas de trabalho fechadas durante a pandemia.
Estratégias
O acúmulo de problemas conjunturais e estruturais fez de Pozzobom e Cecchin alvos dos demais competidores, sobretudo das duas candidaturas de esquerda: os radialistas Luciano Guerra (PT) e Marcelo Bisogno (PDT). Mas não o suficiente para tirar os dois do segundo turno.
A esquerda sofreu uma derrota histórica em Santa Maria. Desde a década de 1990 que um candidato desse campo ideológico não figura entre os favoritos. Na eleição de 2016, porém, o petista Valdeci Oliveira (hoje deputado estadual) perdeu o pleito para Pozzobom por apenas 226 votos, no segundo turno mais disputado do país.
De olho no segundo turno, Pozzobom fez elogios para Valdeci e para vereadores do PT que ajudaram a derrubar um pedido de impeachment que ele enfrentou neste ano. Os petistas ainda não se pronunciaram sobre possibilidade de aliança no segundo turno. As palavras mais duras do atual prefeito se dirigem mesmo contra Cecchin, a quem acusa de forjar falsas pesquisas e fake news. Cecchin lembrou, em entrevista, que sua coligação é a maior na disputa.
Propostas
Já nos últimos dias o favoritismo de Pozzobom e Cecchin se desenhava pelo volume de apoiadores nas ruas. No sábado, ambos comandaram as duas maiores carreatas em Santa Maria. Os dois também realizaram caminhadas.
O domingo foi mais calmo. Cecchin votou de manhã e depois se recolheu num sítio na divisa de Santa Maria com Dilermando de Aguiar. Retornou no final da tarde, com o carro carregado de frutas e verduras, de calção e chinelos. Sorridente e confiante, ele lembrou que está na política desde que saiu da faculdade, em 1977, e que seu nome se confunde com o da história recente da cidade.
– Não se é vereador por seis legislaturas à toa – resumiu.
Pozzobom também diminuiu o ritmo no domingo. Preferiu dar atenção aos pais idosos, a quem levou para votar e que o acompanharam na tensa conferência da votação, à noite. O prefeito acompanhou a apuração num hotel construído num antigo retiro religioso, no bairro Dores, com direito a telas de computador e vários rádios ligados em diferentes emissoras, em alto volume. Disse que não terá preconceito ideológico no segundo turno e vai procurar todos que tiverem bons projetos para Santa Maria.
– A nova política está acima das disputas ideológicas, sobretudo nos municípios – justificou.
Tanto Pozzobom quanto Cecchin, até por terem atuado juntos, têm propostas semelhantes. Os dois dizem querer concluir o Plano Diretor de Transporte Coletivo Urbano e a licitação de transporte público, além de criar um anel viário. Também pretendem ampliar o número de postos de saúde e de equipes de Saúde da Família e desburocratizar processos para atrair mais empresas para o município.
Ao contrário de cidades vizinhas, que tiveram até ameaça de briga em público entre adversários, em Santa Maria a eleição teve apenas quatro pessoas detidas por órgãos de segurança em ações proibidas, como boca de urna.