A CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, reconheceu que a pesquisa de intenção de voto do instituto em relação ao segundo turno em Porto Alegre, divulgada um dia antes do pleito, “não foi boa”. Em entrevista ao programa Timeline, Márcia pediu desculpas aos porto-alegrenses pelo fato e disse que a empresa está estudando os motivos que podem explicar a diferença entre o apontamento da pesquisa da véspera e o resultado das urnas, o que não ocorreu com o levantamento divulgado quatro dias antes.
O dinamismo das eleições municipais, a abstenção e as particularidades do atual pleito em meio à pandemia podem ajudar na busca por respostas nesse sentido, segundo a CEO:
— O que a gente vê é, primeiro, uma abstenção altíssima. Isso é um dado que infelizmente a gente não consegue avaliar de forma mais profunda, porque você não tem a informação de quem é essa abstenção. (...) Para avaliar um possível impacto disso. Tem a questão também, que eu acho importante ressaltar, que essa eleição foi muito curta e o eleitor se envolveu no processo eleitoral muito tardiamente.
Márcia destacou que o instituto não leva em conta a abstenção, mas, sim, o 100% do eleitorado durante o processo, pois o voto é obrigatório no país. No entanto, ela reconhece que talvez seja necessário repensar esse critério em um cenário onde uma parcela dos eleitores, mesmo com o voto obrigatório, não comparece no dia de votação.
A CEO do Ibope também não descarta a possibilidade de o resultado da pesquisa da véspera provocar eleitores que não pretendiam votar, mas recuam para tentar não deixar determinado candidato, à frente nas pesquisas, vencer.
— A pesquisa é uma informação a mais no conjunto de todas as outras informações. Ele pode usar essa informação para fazer um voto mais estratégico em função daquilo que ele quer.
Dentro dos estudos do instituto em relação a melhorias, Márcia também cita a possibilidade de reavaliar o tamanho da amostra em determinadas cidades para ter uma estimativa mais precisa.
A diretora reforçou que as pesquisas precisam ser relativizadas no contexto geral, levando em conta o processo de amostragem, a margem de erro e o intervalo de confiança, pois não são ferramentas infalíveis.
Márcia explica que o levantamento é um recorte do momento da coleta de dados. Após o fim da fase de campo, alguns eleitores seguem debatendo e pensando em qual candidato votar até o momento de chegar à urna:
— A formação de opinião e de decisão do eleitor segue. Ela não para na hora na qual eu parei de fazer a pesquisa. Ela não se encerra ali, Então, essas movimentações de última hora acontecem.
Sobre o método utilizado na coleta de dados, a CEO do Ibope explicou que, na maioria das pesquisas do instituto, os pesquisadores entrevistam os eleitores pessoalmente em casa, em regiões sorteadas previamente. A filtragem das áreas do município onde ocorre a coleta segue os setores censitários com base no IBGE. Os entrevistados são escolhidos pelos pesquisadores de acordo com uma cota que represente o universo dos eleitores da cidade, levando em conta sexo, idade, escolaridade e setores de independência econômica. O número de entrevistados em cada região também é proporcional em relação ao número de eleitores no local.
Pesquisa da véspera
A Pesquisa Ibope para o segundo turno em Porto Alegre, divulgada no último sábado (28), um dia antes da eleição, apontou Manuela D’Ávila (PCdoB) com 51% e Sebastião Melo (MDB) com 49% dos votos válidos.
O resultado final do pleito é parecido com o apontado em pesquisa do Ibope divulgada em 24 de novembro, que mostrou Melo com 54% e Manuela com 46%.