A eleição de Sebastião Melo (MDB) para a prefeitura de Porto Alegre sinaliza uma mudança forte das relações entre Executivo e Legislativo. Porém, ela só deve se consolidar conforme o prefeito trouxer para a sua base aliada — e, possivelmente, para ocupar cargos na administração municipal — ao menos parte dos nove partidos que apoiaram o então candidato no segundo turno.
No primeiro turno, mesmo com Melo à frente de uma coligação de sete partidos e uma eleição consagradora em que surpreendeu assumindo a liderança da disputa, o reflexo em número de vereadores eleitos não se deu na mesma proporção: foram sete vereadores eleitos. A título de comparação, Manuela, cuja coligação era apenas PT e PCdoB, fez seis vereadores.
Um dos motivos foi o desempenho tímido do DEM, que indicou o vice-prefeito de Melo, Ricardo Gomes, e fez apenas uma cadeira na Câmara. Além dele, o MDB elegeu três vereadores e o Cidadania, o Solidariedade e o PRTB elegeram um parlamentar cada.
Melo, todavia, costurou durante o segundo turno apoios de outras nove legendas que, em vereadores, significariam mais 17 cadeiras. Somados, seriam 24 vereadores simpáticos ao prefeito ao menos durante a eleição. Abre a possibilidade de um prefeito com a base mais confortável desde que José Fortunati se elegeu em primeiro turno em 2012, quando a sua coligação de nove partidos fez 22 vereadores.
A base de Melo, entretanto, é menos sólida. É certa a adesão de legendas como o PTB, que se juntou ao candidato tão logo Fortunati renunciou à candidatura. Já outras devem manter a independência. É o caso do Novo, que elegeu dois vereadores e não teve candidato oficial, mas cujos principais nomes sinalizaram apoio a Melo. A postura do PSDB, ao menos no início do governo, também deve ser de independência. O partido quadruplicou suas cadeiras de um para quatro em 2020.
— O apoio do partido ao candidato na eleição foi crítico. Foi baseado em qual dos dois projetos (de Melo ou de Manuela) era mais semelhante aos nossos princípios sobre a administração pública, mas nada foi conversado sobre participação no governo — declarava, na sexta-feira (27), o vereador e presidente municipal do PSDB, Moisés Barboza.
Outra novidade em Porto Alegre é a pulverização das legendas. O número de siglas que elegeram apenas um vereador subiu de sete para oito e o de partidos com representação na Câmara de 16 para 18. Isso pode significar a formação de um “Centrão” em Porto Alegre: um bloco de partidos para negociar com o Executivo à semelhança da Câmara Federal.
Do outro lado, a oposição sai decepcionada com a votação no Executivo, mas satisfeita com a aliança plural que se formou em torno da candidatura de Manuela e que, agora, pode se manter como bloco de oposição na Câmara. Em 2016, as legendas PT, PSOL e PDT fizeram 10 cadeiras. Em 2020, com o acréscimo do PCdoB, foram 12 vereadores.
— A base deverá ser grande, mas não quer dizer que vai ter vida fácil. Essa é uma oposição mais jovem, mais plural e mais aberta a fazer alianças. A esquerda já tinha saído fortalecida dessa eleição pro Legislativo independentemente de qual fosse o prefeito escolhido para Porto Alegre — afirma Aldacir Oliboni, vereador do PT que foi líder da oposição em 2019.
A situação de Melo, todavia, é incomparavelmente mais confortável do que a do atual prefeito, Nelson Marchezan (PSDB). Em 2016, o tucano saiu vencedor das urnas com apenas quatro vereadores eleitos pela sua coligação. Mesmo nos momentos em que conseguiu uma base mais ampla, quando atraiu o MDB para a base em 2019, teve dificuldade para obter o número mágico da Câmara: os 19 votos que permitem aprovação de matérias em maioria simples.
Em seu melhor momento, em abril de 2019, quando aprovou o novo IPTU, Marchezan obteve 22 votos favoráveis. Ao final do governo, já com os partidos articulando candidaturas e alianças, amargou 31 votos de vereadores pela abertura de um processo de impeachment, ainda sub judice.
Bancadas e apoios
Confira as bancadas da Câmara Municipal de Porto Alegre e os candidatos que os partidos apoiaram na eleição municipal
- PSDB – Quatro vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Nelson Marchezan (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- PSOL – Quatro vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Fernanda Melchiona (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Manuela D’Avila
- MDB – Três vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Sebastião Melo (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo (cabeça de chapa)
- PT – Quatro vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Manuela D’Avila (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Manuela D’Avila (parte da coligação)
- PTB – Três vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: José Fortunati (cabeça de chapa)/Sebastião Melo
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- PP – Dois vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Gustavo Paim (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- PCdoB – Dois vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Manuela D’Ávila (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Manuela D’Ávila (cabeça de chapa)
- PDT – Dois vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Juliana Brizola (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Manuela D’Ávila
- Novo – Dois vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: Sebastião Melo
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- Republicanos – Dois vereadores
Quem apoiou no primeiro turno: João Derly (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- Cidadania – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
- DEM – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
- PL – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Nelson Marchezan (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- PRTB – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
- PSB – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Juliana Brizola (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- PSD – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Valter Nagelstein (cabeça de chapa)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- PSL – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Nelson Marchezan (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo
- Solidariedade – Um vereador
Quem apoiou no primeiro turno: Sebastião Melo (parte da coligação)
Quem apoiou no segundo turno: Sebastião Melo (parte da coligação)