No primeiro debate da campanha à prefeitura de Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) se tornou o alvo primordial da maioria dos outros 12 postulantes ao Paço Municipal. Candidato à reeleição, o tucano foi fustigado pelos adversários à esquerda e à direita, incluindo antigos aliados.
Para evitar aglomerações e garantir a presença de todos os candidatos em condições sanitárias confiáveis, a Rádio Gaúcha montou um inédito formato drive-in para o confronto. Assim, Fernanda Melchionna (PSOL), Gustavo Paim (PP), João Derly (Republicanos), José Fortunati (PTB), Juliana Brizola (PDT), Júlio Flores (PSTU), Luiz Delvair (PCO), Manuela D’Ávila (PCdoB), Montserrat Martins (PV), Nelson Marchezan (PSDB), Rodrigo Maroni (PROS), Sebastião Melo (MDB) e Valter Nagelstein (PSD) permaneceram o tempo todo dentro de carros, perfilados ao longo de dois espaços cobertos no estacionamento do Grupo RBS.
A maioria deles não chegou dirigindo, e dois tiveram de recorrer à carona de colegas de partido — Melchionna, cujo veículo enguiçou no final de semana, e Flores, que não tem carro próprio. Melo foi o único a chegar conduzindo o automóvel e a participar com um veículo adesivado com o logotipo da campanha.
Sentados no banco do carona e acompanhados por um assessor, os 13 políticos se enfrentaram por pouco mais de duas horas. Na mediação do debate, o jornalista Daniel Scola circulava entre os veículos, conduzindo os temas e passando a palavra a cada um.
Em quase todos os momentos, Marchezan foi alvo dos concorrentes. No primeiro bloco, quando todos tiveram de responder a perguntas dos ouvintes sobre temas da Capital, como abastecimento de água, transporte público, alagamentos, saúde e segurança, o tucano foi atacado já na primeira intervenção.
— Infelizmente, o prefeito Nelson Marchezan desmontou o Dmae — acusou Melchionna, citando a falta de água na Lomba do Pinheiro.
— Quem respondeu a pergunta não sabia — devolveu o tucano logo em seguida. — A gente encaminhou o projeto da Ponta do Arado, que vai ajudar o abastecimento na Lomba — completou.
Embora os questionamentos tenham explicitado dramas reais da cidade, enfrentados todos os dias pelos moradores, houve poucas propostas específicas, com a maioria dos candidatos recorrendo a digressões genéricas sobre os problemas e salientando o próprio currículo. Delvair disse que não tinha um projeto para Porto Alegre, mas sim para o país e para o mundo, "a revolução socialista pelo comunismo", e Maroni afirmou que vai esperar se eleger para buscar soluções.
— Agora é só promessa. Na prática, tem que sentar ano que vem e ver a situação — afirmou o candidato, que permaneceu todo o debate de óculos escuros.
Foi no segundo bloco, com os candidatos perguntando entre si, que o ambiente se tornou mais beligerante. Ex-prefeito, Fortunati escolheu questionar Melchionna para atingir Marchezan, perguntando sobre a perda de um empréstimo internacional contraído durante sua gestão, de R$ 400 milhões, para investimentos em educação.
Os embates entre o atual e o ex-prefeito foram os mais constantes e contundentes de todo o programa, com Fortunati acusando o tucano de maquiar o orçamento para gerar superávits fictícios e desmontar a política de transparência do município. Já Marchezan, de prancheta em punho, citou escândalos de corrupção do governo anterior para dizer que tirou a prefeitura das "páginas policiais".
Alvo de pedido de impeachment na Câmara, Marchezan foi perguntado por Delvair sobre o uso de R$ 3 milhões da verba de saúde em publicidade, principal motivo do processo. Os investimentos no setor também foram questionados por Monserrat.
— Os recursos na saúde, que ocupam cerca de R$ 2 bilhões dos R$ 7 bilhões do orçamento da cidade. É um orçamento grande que, se fosse bem usado, seria difícil alguém morrer de doença em Porto Alegre — afirmou o candidato do PV.
— Aumentamos leitos, construímos hospitais, diminuímos 85% das filas em especialidades e durante a pandemia não deixamos ninguém sem atendimento, por coronavírus ou outras demandas — respondeu o prefeito.
Embora realizado durante uma situação de emergência sanitária que se estende há seis meses, o debate teve poucas projeções para o cenário pós-pandemia na Capital. Primeira a falar dos desafios para o próximo ano, Manuela citou como prioridade a assinatura de convênio para obtenção de vacina contra a covid-19, a recuperação do ano letivo nas escolas municipais e a criação de programas de geração de emprego e renda.
Derly sugeriu criar uma escola de empreendedorismo, e Paim defendeu um uma política agressiva de desburocratização e liberdade econômica. Único a permanecer de máscara durante todo o debate, Flores defendeu um plano de obras públicas para Capital, Melo citou o autolicenciamento de pequenos e médios empresários e Nagelstein, que leu a maioria de suas declarações, acenou com redução de impostos. O investimento em educação foi defendido com ênfase por Monserrat e Juliana Brizola.
Assista à íntegra do debate na Gaúcha:
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