No dia seguinte ao debate marcado pelo clima tenso na Rádio Gaúcha, Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) voltaram a trocar ataques. Os candidatos ao Palácio Piratini encontraram-se no início da tarde desta quarta-feira (17) em painel promovido pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul).
Durante uma hora, Leite lançou críticas à atual gestão, e Sartori defendeu a continuidade dos projetos de seu governo. Próximo ao encerramento, elevaram o tom.
– Tem gente por aqui que diz que vai fazer aquilo que nós estamos fazendo. Olha, pode parar, vamos sentar um pouco e olhar para a frente. Não vamos nos desconstituir um com o outro – disse Sartori.
– Em nenhum momento houve qualquer palavra minha para desconstituir o governador pessoalmente. Eu respeito ele. Quem não me respeita é ele, que, em sua propaganda, faz alusão a uma embalagem bonitinha, mas com conteúdo ruim – revidou Leite.
Apesar das acusações, os adversários apresentaram propostas semelhantes sobre temas de interesse do setor produtivo: a desburocratização do Estado, a melhoria da infraestrutura e o aumento da competitividade. Formada por empresários que se revezaram para tirar selfies com os candidatos ao fundo, a plateia ouviu o que queria.
– Antes, tínhamos de escolher um lado. Agora, podemos escolher um programa – afirmou, na abertura do painel, a presidente da Federasul, Simone Leite, em referência implícita à ausência do PT no segundo turno.
Em seis rodadas, os temas apresentados pela presidente da entidade aos candidatos abordaram a carga tributária, a liberação de alvarás e a privatização de estatais. Defensores das mesmas bandeiras, Leite e Sartori discordaram somente em dois pontos – o ICMS e a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).
Enquanto o ex-prefeito de Pelotas defende a redução gradual da atual alíquota em dois anos, o governador afirma ser inviável diminuí-la diante do déficit fiscal. Sobre a EGR, um quer mantê-la, outro, extingui-la.
– Pensamos em entregar para a EGR aquilo que não for concedido, especialmente as estradas menores – argumentou Sartori.
– A EGR é um erro. O papel do Estado não é ser operador direto de uma empresa de manutenção de rodovias – rebateu o adversário.
Reunidos no quarto andar do prédio da Federasul antes do início do painel, os candidatos preparam-se na mesma sala. O contato, porém, limitou-se a um cumprimento. Depois, permaneceram acompanhados de assessores enquanto bebiam café.
Pouco depois do meio-dia, subiram para o salão nobre, no sétimo andar, onde ocorreu o painel. O tucano entrou primeiro, ao lado de sua sucessora na prefeitura de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB). O emedebista chegou em seguida com o seu vice, José Paulo Cairoli (PSD). Informal, Leite vestia camisa branca sob um paletó azul-marinho. Menos discreto, o governador apostou em uma gravata verde com estampa de golfinhos.
Antes do debate, sentaram-se à mesma mesa, ao redor de Simone. Enquanto comiam salada de folhas verdes com morangos, nenhuma palavra trocaram – Leite puxou assunto com Humberto Ruga, presidente dos conselhos superiores da Federasul, e Rodrigo Costa, vice-presidente da entidade, e Sartori ocupou-se em um papo com Renaldo Vieira de Souza, pró-reitor de Administração da Universidade La Salle, e Edson Bündchen, superintendente do Banco do Brasil. Nem mesmo quando Simone ausentou-se para a entrega de um prêmio, olharam-se.
Ambos negaram refrigerante, preferindo água, e tiveram de subir ao palco antes de comer o prato principal — massa ao molho branco e medalhões de filé.
– Estamos muito bem servidos – sentenciou, ao fim do encontro, um empresário.