O primeiro confronto entre os candidatos classificados para o segundo turno foi, enfim, um debate. Frente à frente no estúdio da Rádio Gaúcha, com mediação do jornalista Daniel Scola, Eduardo Leite e José Ivo Sartori falaram de suas propostas, apontaram incoerências no discurso do oponente, explicitaram suas diferenças, levantaram a voz em alguns momentos, interromperam um ao outro com pedido de “respeite-me”, mas não baixaram o nível em nenhum momento.
A torcida dos dois candidatos, mobilizada nas redes sociais, atribuiu a vitória ao seu preferido. No balanço das duas horas de confronto é inevitável repetir o clichê: quem ganhou foi o eleitor.
Além das três perguntas da produção do Gaúcha Atualidade, Leite e Sartori tiveram um bloco de temas livres, um com sugestões de assuntos levantados pelos ouvintes e, por fim, abordaram um tema presente nas mensagens do público, mas que havia sido ignorado pelos dois: a carga tributária, com foco na renovação das alíquotas de ICMS majoradas em 2016 e que vigoram somente até o dia 31 de dezembro.
Desde o primeiro turno, Leite e Sartori concordam que o Estado e os municípios não têm como abrir mão de receita no momento. A volta do ICMS ao patamar de 2015 significaria R$ 3 bilhões de receita a menos (25% do valor bruto vai para as prefeituras).
A diferença está no tempo. Sartori deseja aprovar a renovação por tempo indeterminado, convencido de que não há como tirar as contas do vermelho abrindo mão de receita. Leite sugere a renovação por dois anos, tempo que considera necessário para colocar a casa em ordem e iniciar um processo de redução da carga tributária capaz de tornar o Estado mais competitivo.
Seja quem for o vencedor, terá de enfrentar esse tema no dia seguinte à eleição e, mesmo que o projeto seja aprovado em tempo recorde, haverá perda de receita no início de 2019. Ocorre que matéria de natureza tributária precisa cumprir dois requisitos: a anualidade e a noventena. Traduzindo, o projeto precisa ser aprovado no ano anterior e só começa a valer 90 dias depois de ter sido sancionada a lei.
Sartori e Leite mostraram mais pontos de convergência do que divergências. Não por acaso. O PSDB participou do governo até o início deste ano. Do ponto de vista programático, os dois são alinhados. Defendem o regime de recuperação fiscal (Leite quer alterar algumas cláusulas), a privatização de estatais (os dois excluem o Banrisul), as concessões e as PPPs.
A principal divergência entre Leite e Sartori diz respeito à velocidade na execução de projetos. O ex-prefeito de Pelotas acusa o governador de ser muito lento. Sartori se defende com o argumento de que é preciso ter cautela para não atropelar os ritos e cometer erros que custariam caro.