O primeiro debate do segundo turno pelo governo do Estado foi um confronto aberto entre Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) sobre a forma de gerir o Rio Grande do Sul. Face a face, dividindo a mesma mesa no estúdio da Rádio Gaúcha, os adversários discutiram durante mais de duas horas (assista à íntegra acima), num embate sem amarras burocráticas.
O formato privilegiou a exposição de propostas e as contestações imediatas de cada candidato. Logo na primeira pergunta, sobre duplicação de estradas e concessões, Leite partiu para o ataque. A indagação havia sido direcionada a Sartori, mas o governador finalizou sua manifestação questionando se os projetos da sua gestão teriam continuidade e de onde o tucano tiraria dinheiro para investir em infraestrutura.
— Quem é especialista em parar as coisas é o senhor. O senhor parou o nosso Estado. A gente quer recuperar o tempo perdido — disparou Leite.
— Ele não conhece a realidade — rebateu Sartori.
Vestindo terno sem gravata, o governador era mais reativo, diante de um adversário que usava calça jeans com camisa social, sem economizar nas criticas à atual gestão. Para amparar os argumentos, os contendores recorriam às anotações sobre a mesa.
Leite manuseava uma pasta com blocos separados por temas. Sartori tinha várias folhas presas por clipes. Enquanto o tucano colecionava dados como as 46 escolas fechadas no governo emedebista, o governador prestava atenção em palavras-chave grifadas em vermelho, como "esperança", "otimismo" e "futuro". As anotações de viés positivo não impediram Sartori de investir contra o contendor.
— Muitas coisas que Eduardo apresenta aqui que vai fazer é o que estamos fazendo — pontuou, citando os investimentos em segurança.
— A população julgue pelo que vê nas ruas, como se sente. A segurança não está bem, o governo comemora redução de índices que ele mesmo causou — rebateu Leite.
A tensão era latente desde o início da manhã. Leite chegou às 7h42min, dois minutos antes de Sartori. Os adversários se encontraram na entrada da emissora, mas Sartori ficou em um canto, sem demonstrar interesse em cumprimentar o tucano. Leite, então, foi em direção ao governador.
— Vim aqui porque senão depois a imprensa diz que a gente não apertou as mãos — brincou Leite.
O tucano seguiu para o bar da redação, onde tomou café e comeu um pão de queijo. No andar de baixo, Sartori discutia os últimos preparativos com assessores. Faltando dois minutos para o início do programa, já dentro do estúdio, o mediador, jornalista Daniel Scola, perguntou se Sartori havia emagrecido durante o governo.
— Pelo que dizem os fakes, tô na base da polenta — brincou, lembrando de um fotomontagem que circula na internet com os dois candidatos sem camisa.
— A gente nem sabe quem vai ganhar a eleição, mas os memes já estão prontos — completou Leite, descontraindo o ambiente.
Pouco adiantou. Durante os quatro blocos, as divergências foram expostas a todo momento. A cada pergunta, Sartori indagava de onde o tucano tiraria recursos para cumprir promessas e tocar iniciativas em andamento, tentando explorar supostas contradições do rival. Já Leite criticava o que chamou de lentidão e falta de projeto da atual gestão.
Por vezes, a animosidade cresceu. Ambos repetiram a mesma provocação — "parole, parole, parole", insinuando em italiano que o adversário apenas jogava palavras ao vento e acabaram pedindo respeito um ao outro.
— Tem quem ache que tudo está errado e nada está certo. Não se deve fazer aventura. A pegada é para os fortes — alfinetou Sartori nas considerações finais.
— Fui acusado aqui pelo meu adversário de fazer marketing. Então proponho que o próximo debate seja feito sem ajuda de assessoria e sem anotações — devolveu o tucano.