O primeiro debate entre os candidatos a governador do Rio Grande do Sul que disputarão o segundo turno das eleições ocorre nesta terça-feira (16) na Rádio Gaúcha. No primeiro bloco, José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) tiveram dois minutos para se apresentarem e, em seguida, debateram três temas: estradas, segurança e educação.
As questões foram elaboradas pela produção do programa e sorteadas ao vivo. Os dois concorrentes responderam às mesmas perguntas, tendo 1min30s para resposta cada um. Após cada assunto, Leite e Sartori tiveram quatro minutos para debater livremente sobre o assunto entre si.
A seguir, veja como foi em detalhes o primeiro bloco do debate da Gaúcha:
1) Para ampliar o numero de estradas duplicadas, é necessário um programa de concessão de rodovias? Qual é a sua proposta?
Respostas:
Sartori: Nós estamos concluindo a RS-118, que ficou tanto tempo parada e que a Região metropolitana esperava seguramente há 15, 20 anos. Recuperamos 3 mil quilômetros de rodovia. Criamos o marco regulatório das concessões. Retomamos o porto de Pelotas, conseguimos liberar as obras de dragagem do Porto de Rio Grande e criamos programa de aviação regional. Instalamos a primeira PPP do Rio Grande, que é a PPP da Corsan. Nessa caminhada, nós procuramos fazer aquilo que era possível, inclusive estendendo isso para todos os setores da sociedade. No caso das concessões, nós contratamos uma empresa que está concluindo esse passo. Eu gostaria de perguntar: esses projetos vão ter continuidade e de onde você, Eduardo, vai tirar dinheiro para continuar investindo na infraestrutura?
Leite: Só para esclarecer, tenho de responder a pergunta da produção e não do candidato. Mas não tem problema, eu respondo. Quem é especialista em parar coisas é o senhor, candidato Sartori. O senhor parou repasses aos hospitais, parou o pagamento do funcionalismo, parou o nosso Estado. E é isso que a gente quer enfrentar, recuperar tempo perdido. Na questão de concessão de estrada, no início do segundo ano do seu governo tivemos a aprovação do marco regulatório. Não foi feita nenhuma concessão de estrada. O Plano Estadual de Logística de Transporte (Pelt) aponta: são R$ 25 bilhões necessários para investimentos apenas em infraestruturas rodoviária no nosso Estado para que nos possamos ter as condições necessárias para escoar a produção, melhorar a condição logística. E o Estado não tem esse recurso sozinho. As obras que o senhor fez são com financiamentos conquistados em governos anteriores ao seu. O senhor não está deixando nenhum legado para o próximo governo em obras encaminhadas para que possam ser executadas ou financiamentos conquistados. E as concessões de estradas não estão saindo do papel. Precisamos tirar as obras do papel, como na RS-122, por exemplo, em estradas importantes para o desenvolvimento do Estado.
Debate:
Sartori: Acho que ele não conhece a realidade, não conhece a situação. Na realidade, ninguém precisa se apressar. A realidade demonstrou isso nas urnas na ultima eleição. De tudo que foi feito rapidamente gerou esse desconforto nacional e o descredito com a politica. É melhor fazer bem feito, do que fazer apressado e equivocado.
Leite: Governador, com todo respeito, o melhor é fazer. E não está sendo feito. Esse é o grande problema do Rio Grande do Sul, não é só fazer bem feito. O governo é muito lento e mão está entregando. A aprovação das concessões foi feita no início de 2016 e nem edital foi pra rua ainda. Nós vamos tirar do papel essas obras logo no início do governo de forma ágil e responsável.
Sartori: Olha, prometer é fácil, difícil é fazer. Primeiro é preciso cumprir a lei. Segundo, é preciso fazer com seriedade o levantamento de tudo e eu tenho certeza que dentro de pouco tempo, inclusive fora do período eleitoral, para que o senhor não se machuque e diga que é uma questão eleitoreira, nós vamos fazer aquilo que é serio e responsável. Nós somos o primeiro governo que aprovou o processo de concessões rodoviárias no Rio Grande do Sul. E, inclusive, a primeira PPP na área da Corsan.
Leite: A verdade é que a PPP da Corsan já vinha sendo tratada no governo anterior e o senhor sabe disso. Não é uma iniciativa do seu governo. Aliás, como já vinha de um governo anterior, já podia ter sido dada agilidade para fazer a operação da concessão e não saiu do papel.
Sartori: Eduardo, você diz que tem muita experiência, mas devo lhe dizer que a realidade é outra. Podem ter pensado, organizado, mas quem propôs a legislação e acertou com os municípios fomos nós.
Leite: Mas não é verdade que a KPMG, uma consultoria, já tinha sido contratada e estruturava uma modelagem no governo anterior sobre a concessão da Corsan?
Sartori: Não, a KPMG está na concessão das rodovias, única e exclusivamente. Inclusive, para o zoológico de Sapucaia (do Sul).
Leite: Para Corsan também, governador.
Sartori: Acho que você está equivocado.
Leite: Que bom que temos os GDI (Grupo de Investigação da RBS) aqui para a gente saber
Sartori: Está redondamente enganado.
Ouça todo o primeiro bloco do debate:
2) Resolver o problema da segurança passa pela construção de mais presídios e reestruturação dos atuais. O que o senhor vai fazer, se eleito, nos seis primeiros meses de governo?
Leite: Sem dúvida nenhuma é disponibilizar mais vagas no sistema penitenciário. Para isso, a gente tem que construir novos presídios. Estudamos a criação de uma secretaria específica para a estruturação da administração presidiária. Temos duas alternativas: a primeira, o fundo penitenciário nacional tem recursos para que o governo do Estado construa diretamente unidades penitenciárias, com 300 a 400 vagas, não unidades de 2 mil, distribuídas pelo Estado. Segundo, que é chamando a parceria do setor privado, acho que tem um bom modelo que deve ser continuado, não tenho nenhum preconceito, para a troca de área construída. Terrenos do Estado que possam ser concedidos em troca da construção. Precisamos viabilizar parcerias com a inciativa privada também, na forma de concessão pura, com a construção dessas unidades, concedendo parte de hotelaria, mas mantendo com o Estado os agentes penitenciários da Susepe fazendo a segurança.
Sartori: Muitas vezes o que o Eduardo apresenta aqui são questões que ele diz que vai fazer e é o que estamos fazendo. Por exemplo, final de outubro, começo de novembro, vai ser entregue a ala do Presídio Central que foi demolida. Com a troca de imóvel, vai ter mais de 400 vagas. Nós contratamos ate hoje 6,2 mil policiais, sendo que desses, 2 mil falaram que era eleitoreiro (porque foi neste ano), mas quero dizer que para um soldado voltar ao serviço é preciso fazer seis meses de aprendizado. E nos nós nos adiantamos nesse processo. Antes disso, já tínhamos colocado 4,3 mil. E agora colocamos um concurso com 6,1 mil vagas. Estamos fazendo a nossa parte e nosso papel.
Debate:
Leite: A população julga nas ruas o seu sentimento de medo ao andar pelas grandes ou pequenas cidades. Temos pequenas cidades que sequer têm efetivo policial, por isso a gente vê assaltos a bancos, explosão de caixas eletrônicos. E nas grandes também, a população vivendo com medo. A segurança não está bem. Se alguém acha que está bem, seguimos nesse caminho. Não está, tanto é que o governo do Estado comemora redução de índices que ele mesmo causou. Porque a criminalidade aumentou ao longo desse governo e aí cai levemente no último ano, porque, somente no último ano, o governo começa a tomar algumas atitudes, como a contratação de policiais. A verdade é que para o governo Sartori funcionar tem que ter eleição todo ano, porque só no ano eleitoral as coisas só começam a aparecer.
Sartori: O senhor exagera no seu marketing eleitoreiro. Estou numa minha missão e devo lhe dizer que eu mereceria um pouco de respeito.
Leite: Estou lhe respeitando.
Sartori: Tenha muito cuidado com o que o senhor fala, porque a realidade é outra e a vida é outra. Contratamos policiais desde o começo do nosso governo, que tinha sido preparada pelo governo anterior. Agora, banco tem que cuidar do seu banco. Não é o Estado só que tem que cuidar. A (segurança) pública tem que cuidar do público.
Leite: Governador, não tem a ver com isso, tem a ver com que as quadrilhas se sentem livres para assaltar os bancos.
Sartori: Deixa eu... eu lhe escutei bastante. Eu só queria dizer que a lei de incentivo à segurança é importante para a iniciativa privada participar desse processo. Colocamos em vigor o presídio de Canoas. Agora, o Presídio Central, a permuta de imóveis, e as câmeras de videomonitoramento, com mais de 400 municípios no sistema integrado.
Leite: Tenho respeito pelo governador, pessoalmente não tenho nada contra, mas o nosso Estado precisa de um outro ritmo, senão não vamos conseguir superar os desafios. Estamos sendo superados por outros Estados, como São Paulo, por exemplo. Precisamos ter ação mais enérgica. A verdade é que o efetivo das Brigada Militar chegou neste governo ao menor índice da história. Isso precisa ser esclarecido com a população, não tem a ver com desrespeito, tem a ver com a nossa ansiedade de ter um governo que responda demandas da população.
Sartori: Tenho ouvidos para ouvir, e lhe escuto, mas, às vezes, vejo que a ânsia de querer cumprir um bom papel não é este o melhor. A segurança é um problema brasileiro, tem a ver com desemprego e desatenção social. Aqui, tenho certeza, ninguém fez esforço tão grande como fizemos até agora com os policias na rua, com armamento, viaturas, tudo mais.
3) O desempenho das escolas estaduais do ensino médio no Ideb foi de 3,4, uma nota baixa, que se distancia da meta estabelecida. No índice de desenvolvimento dos Estados, o iRS, o Rio Grande do Sul perdeu espaço para o Paraná, pesando a educação. Objetivamente, como resolver esse problema?
Sartori: Em primeiro lugar, ganhamos espaço na economia, com índice melhor do que o Paraná. Tem coisas e coisas. Na questão de educação, pela primeira vez estamos fazendo curso para diretores de escolas e, junto com as universidades comunitárias, preparamos 50 mil. Às vezes, um (professor) fazendo mais cursos. Nós ampliamos a escola integral, de 46 para 109. (Fizemos) oras em escolas, que podem ser pequenas, mas que não eram feitas. Envolvemos a inclusão digital como forma de avançar nisso. Criamos também as Cipaves, Comissões Internas de Prevenção à Violência Escolar, que estão em 2,5 mil escolas do Estado, mais de 90%, o que reduz a violência e vai preparar as novas gerações para a cultura da paz.
Leite: Com todo o respeito, o dado que eu observei é que o PIB do Paraná ultrapassou o do RS. Estamos ficando para traz, e também na educação. Nos anos iniciais, o RS é um dos únicos três Estados que não alcançou suas metas. Continua na 15ª posição, a mesma que o governador Sartori recebeu. No Ensino Médio um dos três Estados com a menor evolução no Ideb. Então, a educação do RS precisa ser um foco do próximo governo, porque é um pilar para o desenvolvimento econômico e social. Como prefeito de Pelotas, consegui promover as maiores evolução do Ideb entre os maiores municípios do Estado. Acoplamos novas tecnologias, concedemos uniformes gratuitamente, fizemos muito investimento com o mesmo dinheiro que sempre tivemos, porque organizamos melhor o dinheiro disponível. Para o Estado, enxergamos da mesma forma.
Debate:
Sartori: Vou ficar em cima do inicial, para não dizer absolutamente (nada) em contrário à verificação. Esse é um problema nacional, que atinge todos os Estados. No Ensino Médio nenhum Estado atingiu a meta do Ideb. Tem que fazer o acordo, como estamos fazendo, com as escolas, com as universidades comunitárias, para acentuar principalmente português e matemática. Você tem que começar um dia a fazer isso. No Ensino Fundamental, por exemplo, ficamos muitos melhor que outros Estados.
Leite: É um caminho, sem dúvida, (utilizar) as universidades comunitárias e também as universidades estaduais como foco para garantir a qualificação dos professores. Temos que ter uma parceria muito forte para garantir boa educação. A primeira parceria é garantir o pagamento do salário em dia. O atual governo fala que o plano de recuperação fiscal resolve o Estado, que permite não pagar a divida com a União, o que já está acontecendo há mais de um ano, e mesmo assim, não colocou os salários dos servidores em dia.
Sartori: Sou professor, minha esposa também. E nós sabemos das dificuldades. Não adianta inventar história, a realidade é uma só. Quando fui prefeito de Caxias do Sul, o Ideb chegou a andar dois, três anos na frente do que era exigido. Eu entendo o sacrífico e a luta dos professores. Tenho encontrado muitos professores e aposentados que compreendem a realidade muito mais que o Eduardo e sabem a transformação que precisa ser feita.
Leite: Governador Sartori, com todo respeito, o senhor chama a si a condição de professor e a sua esposa também, mas como governador tem um outro salário que não dá nem para comparar o dos professores. Então, não se coloque na mesma condição dos professores, que têm baixos salários, a quem o senhor pediu na última eleição para que fossem procurar o piso no Tumelero.
Sartori: Pior de tudo é quem criou o piso e não cumpriu.
Leite: Concordo com o senhor nesse sentido.
Sartori: E hoje eu posso dizer que 90% dos professores receberam o piso. E 8% ou 9% receberam o completivo.
Leite: Não estão recebendo o piso.
Sartori: Essa é a realidade, vamos parar de fazer a mistificação.