O primeiro debate entre os candidatos a governador do Rio Grande do Sul que disputarão o segundo turno das eleições ocorreu na manhã desta terça-feira (16) na Rádio Gaúcha. Após o primeiro bloco, no qual os candidatos se apresentaram e responderam às mesmas questões elaboradas pela produção do programa, e o segundo, em que responderam a questões formuladas pelos ouvintes e escolheram os temas para debater, o terceiro segmento permitiu que os candidatos fizessem perguntas sobre temas livres um ao outro.
Foram quatro questões com tempo de um minuto cada, mais um minuto e 30 segundos para resposta. Ao fim de cada resposta, os candidatos tiveram quatro minutos para debater o tema, instigados pelo mediador, Daniel Scola. A ordem foi definida por sorteio.
José Ivo Sartori (MDB) para Eduardo Leite (PSB)
Sartori fez a primeira questão, sobre privatização de estatais. Citou que tentou propor na Assembleia Legislativa a realização um plebiscito para consultar a população sobre conceder à iniciativa privada as estatais CEEE, Sul Gás e Companhia Riograndense de Mineração (CRM), mas que Eduardo Leite e o PSDB votaram contra a realização da consulta. Perguntou: por que o ex-prefeito de Pelotas foi “contra a população ser ouvida?”.
Leite argumentou que o plebiscito deveria ter sido feito no início do governo de Sartori, e não agora, no fim do mandato. Disse ser a favor das privatizações, mas acusou o governador de reduzir o prazo do plebiscito, de cinco para três meses, o que impediria os gaúchos de tomarem consciência do debate e aumentaria as chances de as privatizações serem rejeitadas.
— O senhor não explicou o que seria feito com o dinheiro. Somos a favor da privatização, desde que o dinheiro seja viabilizado como investimento para o Estado, não para pagar salário no fim do mês, como o senhor fez com a venda de ações do Banrisul. A segunda questão a esclarecer é o que será feito com os empregados dessas empresas. Temos preocupação em conduzir o destino deles para dar certeza e segurança a essas famílias, que não são culpadas pelo prejuízo dessas empresas — respondeu Leite.
No período para debate de quatro minutos, o jornalista Daniel Scola provocou o governador: era possível fazer o plebiscito antes, no início do governo? Sartori disse que apresentou a proposta de plebiscito à Assembleia em 2016, não no fim do governo.
— Tanto é verdade que a Companhia Estadual de Silos e Armazéns foi concedida (à iniciativa privada), e o restante ficou. Se não pode retirar da Constituição (a necessidade de plebiscito), então vamos propor o plebiscito. Se fizéssemos o plebiscito junto com a eleição, não se gastariam R$ 18 milhões — disse Sartori.
Leite acusou o adversário de só solicitar o plebiscito em 2016, após dois anos de mandato, para não prejudicar o MDB nas eleições municipais. O governador repetiu que solicitou a retirada da necessidade de plebiscito em 2016 e que a consulta à população foi colocada em pauta na Assembleia em 2017 para vingar em 2018, o que ajudaria o Estado a assinar o regime de recuperação fiscal com a União – o acordo exige ativos como garantia.
— Não é verdade. O Rio de Janeiro assinou o acordo de recuperação sem colocar ativos — afirmou Leite.
— Você tem muita conversa e plano nenhum. E diz que os outros não tem. Nós vamos aderir ao regime de recuperação fiscal.
— O Rio de Janeiro assinou o acordo sem colocar nenhuma estatal no jogo — disse o tucano.
— Colocou a Companhia Estadual de Saneamento — disse Sartori.
— Colocou como garantia se não se cumprir os requisitos, não privatizou. É diferente. O senhor quer privatizar antecipadamente para assinar. Você fala tanto do plano.. O Temer é do seu partido, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, é do seu partido. E o senhor não assinou um acordo que o Rio de Janeiro assinou, sem fazer privatização.
— Não tivemos aqui o apoio e a ajuda. Quando tivemos a oportunidade, ele (Leite e o PSDB) falhou mais uma vez e não realizou o plebiscito, para não ouvir a população.
Eduardo Leite para José Ivo Sartori
Ainda sobre o acordo de regime de recuperação fiscal com a União, o tucano acusou Sartori de, na propaganda eleitoral, sugerir ao eleitor que o governo federal irá deixar R$ 11 bilhões no Estado quando, na verdade, o valor seria pago no futuro, por outro governador. Perguntou, então, se Sartori estava dizendo que o Tesouro Nacional irá perdoar a dívida.
Sartori disse que o acordo não é empréstimo, mas que irá suspender o pagamento da dívida por três anos, prazo prorrogável por igual período. Afirmou que, nas discussões com o Tesouro Nacional, conseguiu reduzir os juros da dívida de forma que, daqui a 20 anos, haveria diminuição do estoque da dívida em R$ 22 bilhões. Provocado por Scola se o atual acordo é o melhor, Leite não respondeu: insistiu que o emedebista está apenas empurrando o pagamento da dívida para o futuro. Sartori também foi questionado se o atual acordo é o melhor:
— É o acordo possível, sempre falei isso. Parece que o Eduardo Leite às vezes é contra e, em outras, a favor da privatização. Ele impediu o plebiscito, não ouviu a população e atrasou o processo. Agora vai mais longe ainda — disse o governador.
Leite declarou que, se o plebiscito tivesse ocorrido agora, a população teria negado as privatizações e atrasado o processo. O clima esquentou: Sartori disse que fez o que foi possível.
— Parole, parole, parole — ironizou Leite, insinuando que Sartori jogava palavras ao vento.
José Ivo Sartori para Eduardo Leite
O atual governador afirmou que o adversário fica só na teoria e perguntou sobre as propostas concretas para o desenvolvimento do Estado e, especificamente, para a agricultura.
— O que vai resgatar o Rio Grande do Sul não é o plano de recuperação. Queremos usar o período sem pagar a dívida para atrair o investimento da iniciativa privada. Vamos reduzir a burocracia e o prazo para licenciamento ambiental e investir em estrutura no processo de concessão de estradas. Isso vai reduzir o custo com logística para escoar a produção, além de reduzir impostos — afirmou Leite.
Sartori disse que já adotou medidas para isso em seu governo. Citou que há mais de R$ 10 bilhões de investimento em andamento no Rio Grande do Sul e que há uma “carteira de bandeiras de tudo que é lugar, perto de R$ 40 bilhões, que entrarão”. Acrescentou que reduziu o tempo de espera de empreendedores para receber licença ambiental de 900 dias para 90 dias.
Leite sugeriu outras formas de licenciamento, como a Licença por Adesão e Compromisso, na qual o empreendedor recebe a licença ambiental online, após enviar os documentos pela internet. Sartori respondeu que um sistema parecido, a Junta Comercial Digital, deve começar a operar “logo”. Na agricultura, citou que formalizou muitas agroindústrias e que criou 13 delegacias rurais, que ajudaram a reduzir o abigeato (roubo de gado).
Eduardo Leite para José Ivo Sartori
O tucano citou que o governo estadual aprovou um plano para a educação com metas e estratégias e questionou Sartori sobre sua intenção em implementar as metas e monitorar resultados com transparência.
— Fizemos um caminho de recuperação da educação. Começamos com a qualificação dos professores, abrindo espaço porque muitas faculdades já não oferecem mais o curso que ofereciam antigamente. Também focamos na gestão dos diretores e em obras nas escolas. Criamos ambiente para avançar na inclusão digital, em que ainda falta muita coisa. Criamos as Cipaves (Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar), adotadas por 2,5 mil escolas estaduais, o que trouxe diminuição acentuada dos índices de bullying nas escolas — respondeu Sartori.
Scola questionou se Leite irá continuar com o projeto das Cipaves (o projeto busca combater o bullying ao integrar professores, diretores e pais) . O tucano disse que o projeto “pode ser uma medida de combate à violência”, mas disse que é preciso se focar em resultados de aprendizagem em português e matemática ao propor mais atividades de lazer e cultura no turno inverso.
Provocado por Scola sobre como fazer isso, Sartori voltou à questão das Cipaves: disse que a própria prefeita de Pelotas e sucessora de Eduardo Leite, Paula Mascarenhas, está adotando o projeto nas escolas estaduais da cidade. Acrescentou, também, que o programa permite um convênio com alunos de engenharia elétrica do Instituto Técnico de Pelotas para a elaboração de projetos para a rede elétrica de escolas.
Scola citou o grande número de alunos em turmas que não correspondem às suas idades e perguntou aos candidatos como resolver o problema. Leite afirmou que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) permite acompanhar o fluxo escolar e o desempenho de cada escola em matemática e português, o que permite descobrir se o problema de cada instituição é infraestrutura ou segurança, por exemplo. Já Sartori afirmou que é preciso investir no maior tempo de permanência nas escolas e citou que há uma diminuição natural no número de alunos em função do envelhecimento da população.