Às 20h54min, somente quando o segundo turno entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) estava definido, o candidato derrotado ao governo do Estado, Miguel Rossetto (PT), entrou na sala de imprensa organizada no terceiro andar de um hotel no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Vestindo uma camisa azul sob um paletó escuro, Rossetto sorria.
– Obrigado, gente. Estávamos aguardando o resultado nacional – disse aos jornalistas.
Pelo semblante tranquilo, nem parecia que o PT fizera a sua pior votação para o Palácio Piratini desde 1990 – Rossetto teve 1.060.209 votos (17,76%) e ficou na terceira posição. Em 28 anos, é a primeira vez que o partido está de fora da segunda etapa da eleição para comandar o Rio Grande do Sul. O resultado também interrompe uma tradição histórica da política regional: a polarização eleitoral entre o PT e o anti-PT.
– Nas condições adversas que enfrentamos, a votação de mais de 1 milhão de votos expressa uma grande força política no Estado. É o que essa eleição nos mostra – tergiversou o candidato, sem responder se o PT deveria fazer uma autocrítica.
Descolado de seu próprio resultado, Rossetto mencionou as oito cadeiras angariadas pela legenda na Assembleia, as cinco na Câmara e a vitória de Paulo Paim (PT) no Senado. A presença no Legislativo, entretanto, diminuiu. Em 2014, a legenda havia eleito 11 deputados estaduais e oito federais.
De imediato, o presidente estadual Pepe Vargas confirmou a impossibilidade de apoio a Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) no segundo turno.
– Tanto Sartori quanto Leite defendem o mesmo projeto. Respeitamos a decisão soberana do povo. Não somos daqueles que desprezam o resultado das urnas – afirmou Vargas.
Resultado nacional alivia peso da derrota
– Nós, que já fomos governo, saberemos ser oposição – completou Rossetto.
O fracasso do PT na disputa estadual só não teve mais ressonância devido ao resultado nacional. No comitê, o clima era de alívio. Desde o início da apuração, a apreensão era grande entre os correligionários – havia o receio de que Bolsonaro levaria a Presidência no primeiro turno.
– Estamos perplexos – disse uma partidária assim que a primeira parcial de urnas apuradas foi divulgada.
Com um rascunho escrito em uma folha de papel e segurando uma caneta, Rossetto discorreu sobre a eleição nacional:
– Haddad e Manuela representam a esperança do povo brasileiro, uma alternativa democrática para o Brasil. O Brasil não precisa de menos democracia e menos direitos sociais. O Brasil não precisa de mais ódio e mais violência. O Brasil precisa de mais solidariedade, mais inclusão e mais paz. O Brasil não precisa de mais armas, o Brasil precisa de mais escolas. A disputa eleitoral é uma disputa entre a democracia e a barbárie, entre as liberdades e o autoritarismo.
O candidato, que passou pelo Palácio Piratini como vice de Olívio Dutra (PT) entre 1999 e 2002, estreou em 2018 como cabeça de chapa para o Executivo. Nos últimos anos, integrou os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff na Presidência, como ministro do Desenvolvimento Agrário e da Secretaria-Geral da Presidência.
A indicação de seu nome apareceu como um dos sintomas do derretimento do PT no Rio Grande do Sul. Sem renovação, a legenda consultou Olívio e Tarso para concorrer ao Palácio Piratini em 2018. Nenhum dos dois topou, e Rossetto foi escolhido por unanimidade, sem passar pelas históricas prévias da legenda.
– Brasil, urgente. Haddad presidente – cantaram os petistas ao fim de um dia em que foram suplantados.