A renovação do Congresso e a pulverização de forças divididas em 30 partidos exigirão maior habilidade do presidente eleito. A nova configuração, mais ideológica, tende a favorecer Jair Bolsonaro (PSL) em eventual governo, segundo especialistas. Se a vitória for no lado petista, Fernando Haddad partiria com frente de esquerda consolidada, mas teria de atrair antigos aliados que já andaram de braços dados com o PT, mas trocaram de lado para apoiar o impeachment de Dilma Rousseff.
Só três siglas anunciaram apoio a Bolsonaro: PTB, PSC e Podemos. Mas as principais bancadas temáticas do Legislativo — ruralista, evangélica e da segurança pública — declararam estar afinadas com o candidato.
Conforme projeção da consultoria Arko Advice, o cenário garantiria apoio inicial de cerca de 270 deputados, com tendência de reforço de outros parlamentares afinados com a direita. A situação facilitaria o objetivo de ultrapassar a barreira de 308 aliados na Câmara, número mínimo para aprovar emendas constitucionais. No Senado, são necessários 49 votos.
Crítico às negociações políticas, Bolsonaro afirma que não procuraria lideranças partidárias, apostando em conversas "no varejo". A medida, diz ele, evitaria o "toma lá dá cá", mas poderia trazer efeitos colaterais, ao votar ajustes fiscais e reformas, como a da Previdência:
— Bancadas informais são grupos de interesse, pressão, pautas específicas. Quem senta com elas faz concessões. Haverá pautas duras. Como serão negociadas? — questiona Antônio Augusto Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Nos bastidores, já há movimentação envolvendo a presidência da Câmara, que não ficaria com o PSL, mas um aliado. O escolhido poderia ser o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que exerce liderança informal do centrão.
No Senado, estratégia similar seria usada. O foco do PSL estaria na liderança das principais comissões temáticas, como a de Constituição e Justiça, considerada um "miniplenário".
Haddad atraiu mais partidos do que o oponente, todos identificados com o campo da esquerda. Para ultrapassar o número de 128 deputados e 13 senadores do bloco, seria necessário fazer acenos ao centrão, neutro no segundo turno.
O entendimento é de que o grupo, apesar de ser formado por siglas que flertam com a direita, não hesitaria em entrar para um governo petista, após negociação de cargos.
— O centrão oscila. Se o grupo representasse oposição, não se chamaria centrão — diz Creomar de Souza, cientista político da Universidade Católica de Brasília.
Haddad já declarou que está disposto a conversar com siglas de outros campos políticos de forma institucional, rechaçando eventual clima de revanchismo a partidos que apoiaram o impeachment de Dilma. Até integrantes do MDB, partido de Michel Temer, poderão ser procurados. Devido à tendência mais conservadora do futuro Congresso, a expectativa é de que o caminho do petista para obter o apoio de três quintos de Câmara e Senado, para aprovação de emendas constitucionais, seria mais tortuoso.